Quase dois meses depois de sofrer uma queda no Palácio da Alvorada e bater a cabeça, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva precisou passar por uma neurocirurgia em decorrência do trauma causado na região. A situação gerou questionamentos sobre por quanto tempo é necessário fazer acompanhamento médico após ter uma batida na cabeça?
Entre o trauma, em 19 de outubro, e a cirurgia, em 10 de dezembro, do presidente, transcorreram 52 dias. O número é próximo dos 60 dias de acompanhamento indicado pelo chefe do serviço de neurocirurgia da Santa Casa de Porto Alegre, Paulo Worm.
Esse monitoramento é necessário em casos em que são identificados hematomas subdurais depois de uma lesão na cabeça. Ou seja, quando pequenas veias localizadas entre o crânio e o cérebro se rompem e, lentamente, causam o acúmulo de sangue, podendo formar um coágulo.
— O ideal é que quem tem um hematoma subdural faça o acompanhamento com o médico neurocirurgião, com frequência, até o hematoma sumir. Quanto tempo vai ser isso? Pode ser 15, 20, 30, 45 ou 60 dias. Mas este acompanhamento precisa ser seguido para o médico poder dar segurança ao paciente de que o seu hematoma sumiu e que não vai voltar a crescer naquele lugar. Sessenta dias é o tempo ideal — explica Worm.
A frequência de exames varia conforme o quadro de cada paciente e dois fatores são determinantes para isso: o volume do sangramento e a sua evolução. Em alguns casos, o crescimento do hematoma pode ser mais rápido do que em outros, mas não tem relação com o sangramento.
— O sangue que saiu para fora da veia fica num espaço e vai se decompondo. No início, o sangue é sólido. Depois, fica tipo uma geleia de uva. Depois, vai ficando que nem um creme. Depois, que nem um petróleo. Quando ele vai se decompondo, ele vai puxando mais água pra dentro dele, por osmose, e vai aumentando de tamanho — detalha o neurocirurgião Eliseu Paglioli, do Hospital Moinhos de Vento, na Capital.
Fatores de risco
De acordo com Worm, pacientes com problemas cardíacos e que fazem uso de medicamentos anticoagulantes e antiagregante plaquetário, que afinam o sangue, possuem mais risco de ter um hematoma subdural.
— Independentemente da idade (do paciente), o médico suspende a medicação (que afina o sangue) e acompanha o hematoma. Às vezes, suspendendo a medicação, o hematoma já some. Às vezes não, o hematoma continua crescendo. Aí tem que fazer a drenagem — detalha Worm.
Após a cicatrização das veias que causaram o hematoma, o paciente pode reintroduzir as medicações que foram suspensas. O período máximo sem os remédios também é de 60 dias, conforme o neurocirurgião.
A idade avançada é um fator que contribui para o surgimento de hematomas subdurais. Paglioli explica que, com o passar dos anos, o cérebro atrofia, diminui de tamanho, e esse espaço favorece a formação:
— Com quedas ou, às vezes, um movimento não muito forte, o cérebro se desloca para frente e para trás e rompe uma veia pequenininha. Aquele sangue não tem pressão. É um sangue venoso. Então, vai acumulando aos poucos. Por isso, quando é alguém idoso numa queda, assim, que não perdeu a consciência, que nos primeiros dias estava bem, tu tens que acompanhar por uns 15, 20 dias, que é o prazo que pode fazer o hematoma subdural crônico aparecer — relata.