O Mounjaro, aprovado pela Anvisa em setembro de 2023, tem ganhado repercussão nas redes sociais recentemente com o apelido de "Ozempic dos ricos". O medicamento injetável com o ativo tirzepatida atua no tratamento do diabetes, assim como o Ozempic, mas tem uma ação duplicada no combate à doença, conforme explicam as endocrinologistas Janine Alessi e Melissa Barcellos Azevedo.
Entretanto, o que tem dado fama ao remédio é a potencialização na perda de peso de quem faz seu uso. As médicas alertam para a utilização inapropriada e explicam o custo do Mounjaro, que ainda não tem previsão para chegar ao Brasil. Entenda:
Como funciona o Mounjaro
A medicação ajuda a regular os níveis de açúcar no sangue depois das refeições, retardando a absorção de glicose dos alimentos e o esvaziamento gástrico do estômago. Portanto, promove a sensação de saciedade, reduz o apetite e, com isso, reduz a ingestão de calorias, o que também resulta em perda de peso.
É indicado, junto com dieta e exercício físico, para o tratamento do diabetes mellitus tipo 2 em adultos. Tem, ainda, um uso off label, ou seja, fora de bula, para o tratamento da obesidade, mas aqui no Brasil ainda não é aprovado para esse fim.
— É importante destacar que tratamento para obesidade é diferente de tratamento para perda de peso. O primeiro caso é o tratamento de uma doença crônica, com pacientes que têm índice de massa corporal maior do que 30, que têm sobrepeso com doenças associadas, como diabetes, pressão alta, colesterol alto. É outra situação — reforça Janine, professora da Escola de Medicina da PUCRS.
Mais potente do que o Ozempic
Ozempic é o nome comercial do medicamento semaglutida, um agonista do hormônio GLP-1 que não tem o benefício adicional da ativação do GIP, que é justamente o diferencial da tirzepatida, comercializada como Mounjaro. Ou seja, o Mounjaro tem uma ação mais forte no tratamento da doença do que o Ozempic.
— Essa dupla ação é responsável pelo desempenho superior da tirzepatida nos estudos clínicos — frisa Melissa.
Em relação à perda de peso, estudos mostram que, com a tirzepatida (Mounjaro), os participantes perdem até 20% do peso corporal ao longo de 72 semanas de estudo, comparado com uma perda em média de 15% a 18% de peso em 68 semanas de uso de semaglutida (Ozempic).
— Para o diabetes, esse efeito é ainda mais potente no grupo que usa tirzepatida, quando comparado ao uso da semaglutida. É possível que o nome "Ozempic dos ricos" tenha vindo justamente por ser uma versão otimizada desses análogos hormonais, além da questão do custo estimado — pondera Janine.
Custo do Mounjaro
O Mounjaro ainda não está disponível para comercialização no Brasil e, portanto, o custo do remédio ainda não foi estabelecido. É esperado que chegue ao mercado brasileiro até o final do ano, mas ainda não há confirmação, frisa Janine.
— Ainda não foram divulgados os valores definitivos de comercialização, mas, segundo a última publicação da Anvisa, estima-se que fique entre R$ 1,8 mil e R$ 2 mil. Esses valores podem mudar — avalia a médica.
Melissa acrescenta que, caso o custo realmente seja mais elevado, isso ocorrerá porque é possível que o Mounjaro faça o controle adequado do diabetes com doses mais baixas do que o Ozempic.
— Comparativamente, quando se utiliza doses mais elevadas de semaglutida injetável (Ozempic), o custo também aumenta. Em termos de equivalência, o custo não deverá ser tão diferente, já que doses mais altas de semaglutida também acabam elevando o custo do tratamento — compara a endocrinologista e internista do Hospital Mãe de Deus, de Porto Alegre.
Efeitos colaterais
Os efeitos colaterais mais comuns incluem náuseas, diarreia, constipação, refluxo, dor abdominal, fadiga, tontura e desconforto gastrointestinal. De forma menos frequente, também aparecem episódios de hipoglicemia, reações alérgicas, problemas de vesícula biliar e perda de função renal.
Pacientes com histórico de carcinoma medular de tireoide ou síndrome de neoplasia endócrina múltipla tipo não podem fazer uso do Mounjaro — mais um dos motivos que reforçam a importância da orientação médica.
— Esses efeitos colaterais serão mais acentuados se o paciente não seguir acompanhamento médico e nutricional adequados — salienta Melissa.
Busque orientação médica
As médicas reforçam que não indicam a autoprescrição de Mounjaro e Ozempic. Se o objetivo é a perda de peso, o foco deve ser em atividade física, dieta equilibrada e mudanças no estilo de vida. Caso haja indicação médica de tratamento farmacológico, o uso do medicamento deve ser entendido como um complemento ao tratamento, e não a principal medida.
— Infelizmente, as pessoas estão fazendo uso de Ozempic sem acompanhamento médico e, portanto, sem entender seu mecanismo de ação. Como funciona, qual a finalidade, por quanto tempo, e principalmente, se há indicação de uso. Tanto o tratamento do diabetes como o da obesidade são muito complexos e, por isso, necessitam ser individualizados e conduzidos por profissionais médicos capacitados — alerta Melissa.