Em meio a pressões relacionadas ao novo modelo de remuneração de hospitais, o IPE Saúde enfrenta também um impasse junto aos seus servidores. Os trabalhadores reivindicam a reestruturação de cargos, carreiras e salários, bem como melhores condições de trabalho no instituto. Na segunda-feira (27), uma comissão enviou à gestão do instituto um documento com as solicitações. Desde então, os servidores passaram a adotar o atendimento em operação-padrão.
Na prática, os funcionários não se desdobrarão para realizar mais do que o mínimo exigido, atuando na medida da carga horária e de suas respectivas atribuições. Enquanto isso, acreditam que o atendimento aos usuários e prestadores será impactado. “Já não somos suficientes para atendê-los e não vamos mais trabalhar fora da carga horária. A maioria dos servidores trabalha além do necessário, da carga horária exigida, inclusive nos finais de semana”, informaram os funcionários, em nota, à reportagem.
Nesta quarta-feira (28), em uma reunião com a gestão da instituição, o diretor-presidente, Paulo Afonso Oppermann, reconheceu as reivindicações e assumiu o compromisso de pedir providências às instâncias superiores da administração estadual. Porém, o atendimento seguirá em operação-padrão enquanto os servidores aguardam o retorno de uma reunião a ser agendada pela gestão do IPE Saúde com o governo – portanto, não há um prazo estipulado.
"Exaustos e adoecidos"
Os servidores relatam que as mudanças são necessárias para atender à necessidade de especialização e excelência dos serviços. No documento, reforçam o que já foi discutido em reuniões, inclusive com outras gestões, em reiteradas tentativas. Em manifestação enviada à reportagem, a comissão que os representa ressaltou que a pauta salarial e o quantitativo de pessoal para atendimento ao serviço não é uma demanda recente — os servidores, desde a criação do novo órgão em abril de 2018, têm se organizado para cobrar a gestão para sensibilizar os governos estaduais. Porém, até o momento, não obtiveram retorno concreto, como também apontam no documento.
Os trabalhadores relatam que já observam “perda notória” no poder de compra, e que a remuneração atual se mostra uma das menores dos quadros do Estado. “Assim, a reivindicação apresentada à gestão busca a recomposição e alinhamento salarial com os demais órgãos do Executivo, observada a necessária especialização técnica do atendimento a ser prestado aos usuários do plano e aos prestadores credenciados ao IPE Saúde”, argumentam. No documento, alegam que o montante necessário ao reajuste e à promoção de servidores já constam no orçamento do instituto.
Além disso, a demanda de recomposição de pessoal baseia-se no fato de que, até janeiro, havia 159 trabalhadores no IPE Saúde, sendo 99 concursados, 13 cedidos de outros órgãos do Estado, 32 cargos em comissão (de indicação política) e 15 temporários (com prazo de vigência acabando a partir de julho). Eles atendem às demandas de quase 1 milhão de usuários e 8,7 mil prestadores credenciados. “A atual força de trabalho não tem sido suficiente para dar conta da crescente demanda de trabalho, a qual só vem aumentando após a pandemia e a reforma do IPE Saúde, ocorrida em 2023”, apontam. Seria necessário, no mínimo, o triplo do número atual de servidores, segundo cálculos do instituto informados pelos funcionários.
Em meio a esse cenário, muitos servidores estão deixando seus cargos. Somente neste ano, em menos de 60 dias, já foram 10 desligamentos, diminuindo ainda mais o quadro de pessoal – que não consegue ser preenchido, em função das condições oferecidas – e sobrecarregando os remanescentes, segundo afirmam os trabalhadores. “Os servidores estão, quase em sua totalidade, exaustos e adoecidos, quase que diariamente despedindo-se de colegas que têm ido para o setor privado ou para outros setores do Governo, visto que o IPE Saúde tem um dos piores vencimentos e um dos piores planos de carreira do Estado”, afirmam.
Internamente, os trabalhadores operam em “sobrecarga de trabalho, ausência de perspectiva e motivação, estagnação intelectual, esgotamento físico e mental”, segundo a comissão de servidores – o que impulsiona uma crescente demanda por atendimentos especializados em saúde mental do trabalho e o esvaziamento do quadro de trabalhadores do IPE Saúde. Além disso, afirmam que não detêm mais condições físicas e mentais nem financeiras para manter a prestação de serviços em quantidades superiores às suas capacidades.
Contraponto
Procurado, o IPE Saúde informou que a gestão prefere não se manifestar publicamente sobre o tema.