O Rio Grande do Sul registra 466 municípios infestados por dengue em 2024, o que representa 93% do total. O acumulado de casos confirmados da doença no Estado até a sétima semana epidemiológica é de 5,6 mil pacientes, mais que todas as infecções no período desde 2015 (1.896 casos), segundo o painel de monitoramento da Secretaria Estadual de Saúde (SES).
Com isso, as prefeituras buscam encontrar medidas para frear ar proliferação do mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue e outras arbovirores.
Na Região Metropolitana e Vale do Sinos, a confirmação de casos notificados teve uma ascensão volumosa de casos nas duas últimas semanas. Prefeituras criaram comitês de enfrentamento à doença, que intensificam ações de fiscalização e orientação de agentes nas residências, distribuição de repelentes, aplicação de inseticida e limpeza de terrenos.
Confira medidas tomadas em algumas cidades
Novo Hamburgo
Segunda cidade gaúcha com mais casos em 2024 – atrás apenas de Tenente Portela – Novo Hamburgo, no Vale do Sinos, tem 620 infecções confirmadas por dengue, conforme a SES. A gerente da Vigilância Sanitária local, Débora Spessatto Bassani, demonstra preocupação com o cenário.
— É complicado porque a doença apresentava uma sazonalidade. Entre 2022 e 2023, tivemos uma pausa nos casos. Desta vez, a circulação viral vem ocorrendo desde o ano passado e teve um aumento em janeiro de 2024 — conta, acrescentando que apenas três pacientes tiveram contaminação confirmada pela doença no mesmo período em 2023.
A cidade apresenta uma grande concentração de pessoas com dengue em quatro bairros: Vila Diehl (41,5% dos casos), São José (15,7%), Boa Saúde (14,1%) e Santo Afonso (13,1%). O projeto de Prevenção e Combate à Dengue, desenvolvido pela Universidade Feevale, em parceria com a prefeitura de Novo Hamburgo, detectou que o Aedes aegypti está presente em um a cada 20 imóveis vistoriados pelos agentes.
Para Débora, o número elevado de casos confirmados no município é explicado, além das mudanças climáticas, pela utilização da tecnologia para notificações nos serviços de saúde privados e públicos em tempo real. Mas, segundo ela, os moradores precisam estar mais atentos a situações que possam provocar a doença.
— A população precisa ter um engajamento maior no cuidado. Nesse momento delicado, o que podemos como poder público estamos fazendo. Os agentes verificam as denúncias e, muitas vezes, chegam em casas com caixas d’água sujas. É difícil — desabafa.
São Leopoldo
O município de São Leopoldo, no Vale do Sinos, que soma 328 casos confirmados da doença, segundo a SES, decretou, na segunda-feira (19), situação de emergência pela “explosão” de contaminações, segundo o prefeito Ary Vanazzi nos primeiros meses do ano.
— O nosso pior mês costumava ser abril, mas tivemos números de abril em fevereiro. Tomamos essa medida para chamar a atenção da população para que se conscientize porque detectamos que 78% dos focos estão nos pátios das casas — diz o prefeito, que elencou os bairros Vicentina, Vila Paim e São José como os mais críticos.
Foram contratados 30 agentes temporários que se juntam a outros 30 para atuar nas ruas do município. Para Vanazzi, a atenção à covid-19 durante a pandemia tirou o foco da população de outras endemias, o que pode ter aumentado o número de casos.
— Ano passado, tínhamos 20% dos casos de hoje em dia. São Leopoldo é uma cidade muito plana, tem regiões de preservação ambiental, famílias moram em locais que podem ser criadouros de mosquito. Se não tomarmos medidas agora, a situação será dramática — conta Vanazzi, que prevê a duração da situação de emergência até abril e analisará se será preciso estender.
O documento também institui o Comitê Técnico de mobilização, fiscalização, combate e controle do mosquito, que reunirá o gabinete do prefeito e secretarias municipais.
Canoas
Em Canoas, na Região Metropolitana, são 262 casos da doença este ano. Nesta quarta-feira (21), o município lançou o Comitê de Enfrentamento das Arboviroses, uma força-tarefa multidisciplinar que aliará eliminação de criadouros e aplicações de inseticidas a uma campanha de sensibilização da sociedade.
— Começamos a identificar a situação em janeiro, quando estávamos com 60 casos. Começou a chamar a atenção e detectamos que havia muitos casos no bairro Estância Velha, que ainda é o com maior foco — explicou o secretário de Saúde de Canoas, Jurandir Maciel, comentando que os bairros Guajuviras, Olaria e Harmonia estão na sequência em infecções.
Segundo ele, o bairro, líder de casos (168) no município passou por um bloqueio vetorial, procedimento utilizado na região para aplicação de inseticida.
— Se não tivéssemos feito o bloqueio, teríamos mais de 2 mil casos somente nesta região. Temos mais de 300 agentes sanitários e de endemias que trabalham em toda a cidade. As pessoas não precisam se apavorar. Apenas se conscientizar. Se todos fizerem a sua parte, o mosquito não vai ter vez — afirma Maciel.
Viamão
Em Viamão, na Região Metropolitana, a secretária de Saúde, Michele Galvão, explica que a curva de casos em 2024 é semelhante ao registrado em 2023.
— Temos, até o momento, cinco casos positivos, mas temos muito mais suspeitos que no ano passado. Na primeira quinzena de janeiro, detectamos que o índice de infestação predial era o mais alto desde 2021. Intensificamos orientações aos moradores, higienização de pátios e vamos fazer um grande mutirão, com blitz, gincana e outras ações junto à comunidade.
Gravataí
Em Gravataí, na Região Metropolitana, não há uma ação específica, mas o município que tem 19 casos confirmados, faz monitoramento de pontos estratégicos, atendimento às denúncias e ações de educação junto à comunidade. Em todo o ano de 2023, foram 381 casos confirmados e um óbito.
De 15 em 15 dias, inspeções percorrem em locais como borracharias, cemitérios, ferros-velhos e floriculturas, a fim de eliminar possíveis focos de dengue. A cidade realiza, ainda, uma Pesquisa Vetorial Especial (PVE) e os bloqueios de transmissão viral nos casos suspeitos e confirmados de dengue.