A trombose ocorre quando há formação de coágulos dentro dos vasos sanguíneos. Como o sangue passa do estado líquido para uma espécie de massa semissólida, há chances de obstruir parcialmente ou totalmente os vasos. A trombose pode ser venosa, considerada a mais comum, ou arterial, que pode ser mais grave.
Mais frequente nos membros inferiores, a trombose venosa profunda atinge milhares de pessoas anualmente no Brasil. Nos últimos 10 anos, entre 2012 e 2022, o Rio Grande do Sul registrou 36,9 mil internações pela doença no Sistema Único de Saúde (SUS), de acordo com dados da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular (SBACV). Se não tratada corretamente, pode evoluir para uma embolia pulmonar.
— A trombose arterial é mais séria, mais perigosa. Felizmente, é bem mais rara que a venosa — afirma o cardiologista e professor do curso de Medicina da Universidade Feevale Eduardo Silveira. Segundo a SBACV, a estimativa é que 4% da população brasileira sofra com a obstrução das artérias.
Causas e fatores de risco
Os trombos – como são chamados os coágulos dentro dos vasos sanguíneos – podem ser causados pela falta de mobilização de algum membro, e por condições como tabagismo, obesidade e sedentarismo. É comum que pacientes cirúrgicos, que passaram algum tempo acamados ou que engessaram algum membro apresentem um quadro de trombose venosa profunda. Situações como viagens longas, de ônibus ou avião, também podem causar o aparecimento de trombos.
— O surgimento, em geral, é rápido. O paciente cirúrgico vai apresentar esse quadro no pós-operatório, por exemplo. É bem frequente em cirurgias plásticas, mas pode acontecer em cirurgias ortopédicas, oncológicas e de outras especialidades. O tempo de cirurgia é um fator importante. Quanto mais duradoura, maior o risco de trombose — explica a cirurgiã vascular do Hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) Francine Faccin.
O histórico familiar e pessoal do paciente também são fatores de risco. Pacientes oncológicos, com doenças vasculares ou com doenças genéticas autoimunes devem ficar atentos aos sinais. Além disso, o uso de anticoncepcionais e outros hormônios significam um risco maior de trombose.
— As pessoas têm usado hormônios para ganhar músculo mais rápido, para não envelhecer e até para aumentar a libido. Se for recomendado por um médico, o risco de trombose vai ser calculado. O problema é que muitas pessoas tomam sem acompanhamento médico, vai causar desequilíbrios hormonais e isso é perigoso — defende o coordenador da Cirurgia Vascular do Hospital Moinhos de Vento e diretor-científico da SBACV, Sharbel Mahfuz Boustany.
A palavra trombose está presente na bula da grande maioria dos anticoncepcionais. Boustany explica que, antigamente, as pílulas eram produzidas com altas doses de estrogênio. Atualmente, são feitas com dosagem mais baixas, o que diminui o perigo. Ainda assim, ele pontua que é importante não somar fatores de risco. Ou seja, não é recomendado que uma paciente tabagista e sedentária use anticoncepcional.
Sintomas e diagnóstico
Essa condição de saúde pode ser silenciosa e assintomática. Se aparentes, os sintomas mais comuns da trombose venosa profunda são dor no membro onde o trombo está localizado, inchaço e vermelhidão. A trombose arterial, por outro lado, deixa o membro dolorido, pálido e frio, sintomas comuns da isquemia. Embora a trombose venosa seja mais comum nos membros inferiores, os trombos podem aparecer em qualquer parte do corpo.
— Temos a suspeita clínica como um primeiro guia para ter o diagnóstico. Depois fazemos o eco-Doppler, exame que permite avaliar o fluxo dos vasos sanguíneos. A etapa seguinte é começar o tratamento o mais rápido possível — relata Francine. O ideal é que o paciente procure um médico assim que notar qualquer um dos sintomas, uma vez que a evolução da doença pode ser rápida.
Tratamento
No caso da trombose venosa, o tratamento é feito com anticoagulantes. O objetivo do medicamento é impedir que o coágulo aumente e que se movimente, para evitar a embolia pulmonar. A dosagem e o tempo do tratamento podem variar de acordo com a seriedade do caso e outros fatores, por isso é necessário acompanhamento médico. O trabalho de dissolver o trombo é de responsabilidade do próprio corpo, sem a necessidade de medicações adicionais.
— Já a trombose arterial, se for aguda, o tratamento vai tentar desentupir aquela artéria e causa isquemia vai tentar desentupir com cirurgia ou percutâneo. Se for crônica, também será com remédio — afirma Silveira.
Para prevenção, por outro lado, não é necessário usar medicamentos. Manter um peso ideal, uma dieta balanceada, a rotina de exercícios físicos e a ingestão de água é o suficiente para diminuir o risco da trombose. Parar com o cigarro e cuidar com o uso de hormônios também contribui para minimizar chances.
*Produção: Yasmim Girardi