A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou, nesta semana, a indicação do medicamento Wegovy para tratamento de obesidade em adolescentes, a partir de 12 anos. Destinado a pessoas de pelo menos 60 quilos, o produto da farmacêutica Novo Nordisk já havia recebido aval em janeiro deste ano para uso no Brasil. Trata-se de uma caneta injetável, que tem como princípio ativo a semaglutida, substância utilizada no controle da diabetes tipo 2.
O medicamento passou pelo estudo clínico multinacional Step Teens para avaliar sua eficácia e segurança. Ainda conforme a pesquisa, sintomas gastrointestinais, como náuseas, vômitos e diarreia são os efeitos colaterais mais comuns em dosagens mais altas de medicamentos à base de semaglutida.
Nas redes sociais da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso), a coordenadora de Departamento de Obesidade Infantil, Livia Lugarinho, aproveitou para abordar o preconceito de muitos diante da aprovação da Anvisa. "Por falta de assimilação de que a obesidade é uma doença, existem pessoas que ainda estranham que um adolescente precise de medicamento para controlar a condição. Duvido, porém, que teriam a mesma reação se fosse um remédio para reduzir glicemia de um jovem com diabetes. A obesidade é igualmente uma doença crônica preocupante", declarou.
Apesar da autorização, o remédio ainda não está disponível no Brasil. A previsão é de chegar às farmácias em 2024. O preço máximo segundo a CMED (Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos) será de R$ 2 484, nas doses mais altas, a depender do Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) de cada Estado.
Segundo a Novo Nordisk, a intenção é não repetir o que aconteceu nos Estados Unidos, em que a alta procura pelo medicamento ocasionou a interrupção do tratamento.
— Considerada uma doença crônica, a obesidade precisa de um tratamento contínuo e a empresa trabalha para que o paciente possa realizar a terapia do início ao fim — explicou a farmacêutica, por nota.
A Novo Nordisk não definiu ainda possíveis descontos para o medicamento dentro de seus programas de suporte ao paciente, já que o produto ainda não foi lançado no país. O Wegovy tem o mesmo princípio ativo a outra caneta injetável, o Ozempic (semaglutida 2,4 mg), a diferença é que o novo medicamento deve ser usado apenas no tratamento de obesidade e sobrepeso, enquanto o Ozempic é indicado para diabetes tipo 2.
Ambos os fármacos agem no corpo da mesma forma: toda vez que uma pessoa se alimenta, ele sinaliza para o cérebro que é hora de reduzir a fome, retardar o esvaziamento do estômago e aumentar a produção de insulina, que promove a absorção da glicose nas células.
Nova possibilidade
Especialista em Metabologia, a médica endocrinologista Vanessa Cabrera saudou a indicação da Anvisa para o Wegovy.
— Até o momento, são poucas medicações que podemos utilizar com os adolescentes, uma faixa etária que ganhou peso expressivo durante a pandemia. Vemos muitas crianças e jovens chegando ao consultório acima do peso. Temos mais uma possibilidade, mas precisa ser prescrita com orientação médica — relata.
A exposição excessiva a alimentos hipercalóricos e hiperpalatáveis (quando o resultado dos componentes, como gordura, sódio, açúcar e carboidratos torna o produto mais saboroso), segundo ela, contribuem com este cenário não saudável. Vanessa alerta para o manejo correto do medicamento, como qualquer outro.
— Se não for corretamente indicado para determinado paciente, pode trazer mais riscos que benefícios devido aos efeitos colaterais. Há, também, contraindicação a quem tem histórico familiar de câncer de tireoide medular e pessoas que tiveram pancreatite, algo menos comum em adolescentes — destaca a médica.
Aumento de 4,4% de crianças obesas por ano
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), existem cerca de 41 milhões de crianças menores que cinco anos com obesidade ou sobrepeso. No Brasil, uma a cada dez pequenos estão acima do peso. Semelhante à obesidade em adultos, a doença na faixa etária infantil pode ter múltiplas complicações graves. Mais de 70% das crianças que sofrem de obesidade antes da puberdade também sofrerão do mesmo problema quando adultas.
Conforme dados do Atlas Mundial da Obesidade 2023, o número de crianças com obesidade pode mais que dobrar até 2035 (em relação aos níveis de 2020), o que significa que 400 milhões de crianças viverão com obesidade em 12 anos. A doença pode levar a múltiplas complicações associadas como o risco de desenvolver diabetes, hipertensão, doença cardiovascular, aparecimento de alguns tipos de cânceres, além do risco de morte precoce e impacto sobre qualidade de vida.
Três dicas para melhorar os hábitos das crianças
- Faça com que ela caminhe ao máximo. Caminhadas, em ritmo acelerado, são ainda melhores
- Resgate as atividades ao ar livre e brincadeiras. Tire a criança da frente da tela e vá com ela a um parque ou a um gramado, sempre que possível. São opções baratas e divertidas
- Outra boa opção é apostar nos esportes coletivos, como futebol, vôlei ou basquete, por exemplo. Eles desenvolvem, além das capacidades físicas e habilidades motoras, a socialização
Fonte: Ministério da Saúde