As promessas são numerosas: mais saúde, disposição, energia. Preservação da memória, da clareza mental, da compreensão. Prevenção de doenças, melhora da imunidade, longevidade. Auxílio no funcionamento muscular, na formação e na manutenção dos ossos.
É grande o apelo da propaganda e dos balconistas de farmácia para vender suplementos de vitaminas e minerais a idosos, mas se deve ter em mente que o aporte extra de cálcio, ferro, vitaminas C, D ou B12, entre outros elementos, é indicado apenas em casos específicos. Em geral, esses produtos, que prometem uma série de benefícios, oferecem apenas ilusão — além de riscos à saúde se consumidos em excesso.
Nos consultórios, geriatras mantém a prática de listar e organizar todos os remédios tomados regularmente pelos pacientes. É comum que o especialista opte por retirar compostos vitamínicos da rotina, a menos que haja comprovada necessidade. Joana Noschang, geriatra do Hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e professora da Unisinos, destaca que a melhor forma de manter bons níveis de nutrientes é sempre pela via da alimentação. O organismo nem consegue absorver tudo o que está nesses compostos, e grande parte acaba sendo eliminada pela urina.
— Quem toma está fazendo um xixi caro — define Joana.
O geriatra Leonardo Brandão de Oliva, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, resume: na grande maioria das vezes, os suplementos são ineficazes, não servindo para nada.
— Existe um apelo geral de que tomar vitaminas faz bem para a saúde. A vitamina C é a maior mentirosa da farmácia. Desde sempre usamos vitamina C para não pegar resfriado, para melhorar a imunidade. Que criança nunca tomou vitamina C? E não há nenhuma comprovação científica. Não tem evidência, estudo científico mostrando que funciona. É absurdo ainda utilizá-la. Tem até estudo mostrando que não funciona — observa Oliva.
Os suplementos passam a ideia de que oferecem apenas o lado bom, sem contraindicações. Oliva destaca que tomar cápsulas com doses extras de algo que se apresenta em quantidade normal no sangue não vai fazer o paciente ficar ainda melhor. Por exemplo, se não há carência de B12, não haverá benefício em ingerir mais B12.
— Costumo dizer que remédio só é bom quando a gente precisa e, mesmo assim, precisamos ficar de olho nele — recomenda o geriatra. — Avaliamos e mantemos apenas os necessários. Mesmo entre os necessários, temos que ver se o que gostaríamos está sendo entregue, sem efeitos adversos. A lista de suplementos não necessários é gigante — acrescenta.
Em geral, se a pessoa se alimenta bem, com ingredientes saudáveis e refeições balanceadas, não precisa recorrer a suplementações.
— Devemos ter a premissa de que suplemento não é necessário para quem come de forma minimamente adequada — pontua Oliva.
Organismo menos eficiente
Na conversa com o paciente, o profissional de saúde pode avaliar se, pelos hábitos relatados, há possível falta de algum nutriente. Na sequência, vem o exame físico, e só depois são requisitados eventuais exames laboratoriais.
— Um suplemento com todas as vitaminas e os sais minerais em quantidades pequenas pode ser bom para garantir que a pessoa tenha acesso a esses elementos, especialmente quando tem uma alimentação mais limitada. Se ela come refeições mais monótonas, sempre a mesma coisa, se não gosta de verduras e frutas, ou quem trabalha fora e faz refeições na rua que não são bem feitas (balanceadas), é interessante usar um desses suplementos para garantir o mínimo necessário para ter uma boa atividade biológica, para que tudo funcione direitinho — afirma a endocrinologista Marise Lazaretti Castro, membro da Comissão Científica da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia e professora da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Com o envelhecimento, funções do corpo, como as gastrointestinais, vão ficando menos eficientes. Não há mais a correta absorção de nutrientes, e suplementos podem ser indicados, comenta Marise. Vitamina D, sintetizada durante a exposição ao sol, e cálcio, que tem como principais fontes leite, queijo e iogurte, são importantíssimos.
— O idoso se expõe menos ao sol, em geral com o corpo coberto, e a pele já não é tão eficiente para a vitamina D. A pessoa que não consome laticínios porque não gosta ou tem intolerância fica com deficiência de cálcio — exemplifica a endocrinologista.
Também pode haver déficit de vitamina B12, extraída da carne vermelha. Entre as razões, estão o preço alto da carne, a maior dificuldade para o preparo, a mastigação, a absorção e a digestão.
— Há tendência de que tenha cada vez menos e menos carne no prato do idoso, daí a deficiência de proteínas — explica Oliva.
Risco do excesso
Se usados por muito tempo ou em excesso, suplementos de vitaminas e minerais podem comprometer o funcionamento dos rins e do fígado, causar dor de estômago e até mesmo elevar o risco de problemas cardiovasculares.
— O risco é de uma sobrecarga no organismo. Quem sofre mais é o rim, que tem que eliminar todo esse excesso. Se for excesso de cálcio pode dar pedra no rim. Vitamina C em excesso também pode lesar o rim. Não é legal exagerar. Não funciona desse jeito. O organismo tem que ter a quantidade necessária — comenta Marise.
Pacientes com determinadas doenças ou que tenham passado por cirurgia bariátrica precisam de avaliação e orientação médicas.