Mais de 50 unidades de saúde de Porto Alegre passarão a realizar, a partir do mês de setembro, testes para diagnóstico da tuberculose latente, quando a doença ainda se encontra num estágio silencioso, sem manifestação dos sintomas. A cidade foi uma das cinco capitais brasileiras escolhidas para participar de um programa piloto realizado desde abril pelo Ministério da Saúde e pela Rede Brasileira de Pesquisa em Tuberculose.
Atualmente, os testes são realizados apenas nos chamados Centros de Referência em Tuberculose (CRTBs). Com a nova sistematização, a possibilidade de diagnóstico precoce ficará mais próxima dos usuários do Sistema Público de Saúde (SUS) da Capital.
De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde, o governo federal deve distribuir para Porto Alegre, ainda em agosto, o insumo para realização dos exames. Está prevista também a capacitação de profissionais das unidades de saúde selecionadas.
— O PPD (Prova Tuberculínica), que é o insumo utilizado, ainda não está disponível em nenhum município do país. Houve um desabastecimento geral. Aqui em Porto Alegre, conseguimos aplicar até junho nos CRTBs. Mas o material já se encontra nos almoxarifados do Ministério da Saúde. Nas próximas semanas, ele deve fazer a distribuição — relata a enfermeira Cristina Bettin.
Os testes poderão ser aplicados em pacientes que, nos últimos três meses, dormiram pelo menos uma noite por semana ou passaram mais de uma hora, por mais de cinco dias, no mesmo ambiente que alguém infectado. Em caso de diagnóstico positivo, o tratamento com duração de três meses é iniciado.
Capital gaúcha registra alta incidência
A tuberculose é uma doença infectocontagiosa que afeta principalmente os pulmões, mas também pode acometer órgãos como ossos, rins e as membranas que envolvem o cérebro. Ela pode levar muitos meses para se manifestar e até levar à morte. Os principais sintomas costumam ser tosse persistente por mais de duas semanas, febre e emagrecimento.
— A gente é tossidor crônico no Sul, né? Tossimos por causa de diversas doenças respiratórias, por alergia. Então não costumamos considerar a tosse tão grave como em outros locais do país. Mas, na minha opinião, tossiu? Pesquisa. Não podemos perder a oportunidade de investigar uma tosse com produção de escarro esperando de duas a três semanas para passar por uma avaliação — afirma Cristiane, que também é assessora técnica referência da tuberculose na Coordenadoria da Atenção às Infecções Sexualmente Transmissíveis da Secretaria Municipal de Saúde.
De acordo com o mais recente boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, Porto Alegre contabilizou 904 notificações de tuberculose em 2022. A taxa de incidência é de 70 casos para cada 100 mil habitantes, enquanto a de cura é de apenas 44%.
— Quando a gente vai falar de tuberculose pulmonar, que é a mais comum e que transmite, sobe a incidência para mais de 80, 85 pessoas a cada 100 mil habitantes. Tem muita gente com tuberculose ativa e menos da metade dessas pessoas estão se curando. Precisamos investir muito em tratamento, mas, principalmente, antes que adoeçam. Somos a Capital da coinfecção, 20% dos pacientes vivem com HIV/Aids e apresentam diagnóstico de tuberculose. Nós também somos a Capital com mais mortes de crianças de 0 a 14 anos por tuberculose. São números baixos, mas ninguém deveria morrer com essa idade — comenta a enfermeira.
Segundo o Ministério da Saúde, a tuberculose mata 14 pessoas por dia no Brasil. Em 2021, foram mais de 5 mil mortes. No mesmo período, Porto Alegre contabilizou 60 óbitos. Já em todo o Estado, 180 pacientes perderam a vida.
Entre as capitais brasileiras, os maiores percentuais de interrupção do tratamento dos casos pulmonares confirmados laboratorialmente foram observados em Porto Alegre (31,1%), Porto Velho (30,6%) e Fortaleza (24,2%).