O Rio Grande do Sul tem 3.684 pacientes na fila do Sistema Único de Saúde (SUS) para realizar uma artroplastia de quadril — cirurgia à qual o presidente Luiz Inácio Lula da Silva será submetido nos próximos meses. Entre 14 unidades da Federação que priorizaram esse tipo de cirurgia no Programa Nacional de Redução de Filas (PNRF), o Estado apresenta a maior lista de espera, conforme informado pelo Ministério da Saúde nesta quinta-feira (3).
Pelas regras do programa, os Estados deveriam informar quais tipos de cirurgias eram prioritários e seriam contemplados com recursos. As filas informadas totalizam 8.199 pacientes aguardando por seis tipos diferentes da mesma cirurgia no Brasil.
Em Porto Alegre, há 1.085 pessoas aguardando pela artroplastia de quadril. De acordo com a Secretaria Municipal da Saúde (SMS), o tempo médio de espera entre a primeira consulta e a data da cirurgia é de 621 dias, ou seja, um ano e oito meses. A média de idade de quem espera pelo procedimento está entre 60 e 70 anos.
Na Capital, a regulação das cirurgias pelo SUS é realizada pela SMS. Casos mais sérios têm prioridade na fila. A artroplastia de quadril é realizada no Hospital Independência, Hospital Cristo Redentor, Santa Casa, Hospital de Clínicas de Porto Alegre e Hospital São Lucas.
Em meio às mais de 3,5 mil pessoas que aguardam na fila no Estado, a operadora de eletrocardiograma Geneci Lourdes Ferreira, de Canoas, espera desde maio de 2019 para realizar a cirurgia, como mostrou reportagem publicada pelo Diário Gaúcho. Atualmente, ela não consegue se movimentar sem a ajuda de um andador. E, mesmo assim, se locomove sob fortes dores.
— Antes, eu acordava 5h20min e ia trabalhar. Fazia tudo sozinha! Hoje, dependo das pessoas para qualquer coisa. Deitada tenho dor. Em pé, também. Sou uma mulher de 54 anos, em idade ativa. Só que não tenho mais vida, me sinto um ser inútil — conta a moradora do bairro Guajuviras.
Responsável pelo levantamento enviado ao Ministério da Saúde, a Secretaria Estadual da Saúde (SES) informa que não regula cirurgias, exames e procedimentos, apenas a primeira consulta especializada. Conforme a pasta, os hospitais que realizam os procedimentos regulam sua fila interna.
"A regulação de leitos cirúrgicos, atualmente, é realizada diretamente pelos serviços de Saúde e Secretarias Municipais de Saúde (SMS), com auxílio das Coordenadorias Regionais de Saúde (CRS) e de centrais de leitos municipais de cidades polo para esse tipo de atendimento. Quando um paciente do SUS recebe o encaminhamento da necessidade de cirurgia, a SMS ou o próprio serviço onde esta necessidade foi constatada procura pelo leito junto ao hospital que é referência para o atendimento, seja pela proximidade geográfica ou pela especialidade", explicou a SES em nota.
Para o secretário executivo do Conselho de Secretarias Municipais de Saúde do Rio Grande do Sul (Cosems/RS), Diego Espíndola, entre os fatores que podem explicar o tamanho da fila de espera para a cirurgia no Rio Grande do Sul estão o baixo número de hospitais que se propuseram a realizá-la, o valor dos repasses do SUS para a realização do procedimento, o custo das próteses, entre outros.
Mobilidade prejudicada
Especialista em quadril da Santa Casa de Porto Alegre, o médico ortopedista Anthony Yepez explica que a artroplastia de quadril é a cirurgia proposta para tratar pacientes com desgaste articular — denominada artrose — no quadril, onde há uma conexão do fêmur com a bacia.
— Nessa articulação, geralmente o osso é recoberto por cartilagem. Quando desgasta, acontece a artrose, que provoca bastante dor no quadril e começa também a provocar diminuição e restrições de movimentos e na função. O paciente começa a apresentar uma diminuição na qualidade de vida, já que não consegue fazer todas as atividades que fazia em contexto normal — explica.
A cirurgia substitui a articulação gasta por uma artificial. Para isso, são implantadas próteses tanto no fêmur quanto na bacia, que se encaixam, tornando-se a nova articulação do paciente. O atrito entre o fêmur e a bacia deixa de acontecer, pois os dois passam a estar protegidos pela prótese, que faz o papel da mobilidade articular.
Na maioria das vezes, a cirurgia passa a ser a melhor indicação para as pessoas com desgaste articular em estágio mais avançado ou grave. Com a melhora na qualidade das próteses e o consequente aumento na expectativa de durabilidade, cada vez mais pacientes com menos idade realizam a cirurgia, conforme Yepez.
— A qualidade de vida (de quem tem artrose) fica prejudicada, porque o paciente tem dificuldade de caminhar longos percursos, começa a apresentar dificuldades em alguns movimentos no quadril e, consequentemente, de fazer algumas atividades relativamente simples, como colocar meia, calçado, calça — pontua.
Mesmo em caso de demora para a realização da cirurgia, o paciente consegue manter o movimento, sem um prejuízo de gravidade maior, apenas o desconforto das limitações e da dor. Contudo, a espera pode levar a uma fragilidade muscular e, por vezes, a uma recuperação mais trabalhosa até recobrar a força. Porém, de modo geral, o resultado é muito semelhante ao de uma cirurgia realizada logo no primeiro momento, conforme o ortopedista.
A recuperação da cirurgia de prótese de quadril é mais acelerada. O paciente pode voltar a caminhar, geralmente, a partir do dia seguinte — no começo, com auxílio de muletas ou andador, recomendados nas primeiras duas a quatro semanas. Com 15 dias, normalmente, o paciente retira os pontos, e, em um mês, caminha bem, voltando às atividades rotineiras, como sair de casa e dirigir. O retorno ao trabalho depende da função do paciente, podendo levar cerca de dois a três meses para a retomada da atividade plena.
Programa nacional
O Ministério da Saúde informa que o SUS realizou 11.963 artroplastias de quadril de janeiro a maio deste ano. "Mantida a média atual, o SUS deve fazer mais de 28 mil cirurgias de quadril até o fim do ano. Para ampliar o atendimento e reduzir o tempo de espera por essas e outras cirurgias eletivas represadas durante a pandemia, já foi repassado a Estados e municípios reforço de R$ 200 milhões dentro do Programa Nacional de Redução de Filas. O investimento nesta ação chegará a um total de R$ 600 milhões até o fim do ano", informa a pasta.
No total, os Estados informaram à pasta que as filas de cirurgias do SUS somam 1,08 milhão de procedimentos. Com os recursos liberados, os Estados poderão realizar 488 mil cirurgias até o fim do ano, de acordo com o ministério.