Mariane Rosa da Silva Aita, 39 anos, morreu na manhã desta quarta-feira (23), no Hospital São Francisco de Assis (HSFA), em Parobé, no Vale do Paranhana, segundo a família, por complicações após ter uma gaze esquecida dentro do corpo durante uma cesariana, realizada em 12 de junho. A instituição de saúde nega as acusações e informa que o óbito "ocorreu por complicação pós-cirúrgica descrita na literatura e não previsível". A polícia investiga o caso.
Três dias depois do parto, Mariane chegou a receber alta hospitalar. Segundo uma familiar, que pediu para não ser identificada, porém, a paciente passou a sofrer com constantes dores abdominais, fato que a fez procurar inicialmente uma unidade de saúde em Três Coroas, município em que residia na época. No local, ela foi atendida, medicada e liberada.
Entretanto, as dores persistiram ao longo dos últimos meses e ela foi levada até uma Unidade de Pronto-Atendimento (UPA)de Novo Hamburgo, no Vale do Sinos, onde passou a residir desde junho. Depois de exames realizados no dia 14 de agosto, segundo a família, teria sido constatada a presença da gaze no corpo da mulher, que foi orientada a retornar ao hospital, ainda no mesmo dia.
Cunhado da vítima, Ubiratan Junior, contou à reportagem de GZH que o exame feito na UPA de Novo Hamburgo constatou a presença de um material de 87 milímetros na parte inferior do abdômen de Mariane, no entanto, familiares não tiveram acesso à paciente, após ela ser encaminhada ao hospital e passar por um primeiro procedimento cirúrgico.
— No dia 14 ela foi encaminhada ao hospital que cometeu o erro e fizeram o procedimento de retirada. Ela ficou na UTI. A ala não permitia acompanhamento, aí nessa semana fizeram um novo procedimento cirúrgico, sem avisar a família, e na quarta-feira ligaram pedindo para os familiares comparecerem ao hospital e comunicaram o óbito — contou o cunhado da vítima.
Questionada por GZH sobre o relato da família de que Mariane foi orientada em Novo Hamburgo para procurar novamente o hospital de Parobé, a Fundação de Saúde Pública de Novo Hamburgo informa disse que ela "evadiu antes que o médico conseguisse providenciar o transporte para levá-la até o hospital de referência, que é o de Parobé".
Após retirada do objeto, ela permaneceu internada na UTI por nove dias, até a data de seu falecimento. O prefeito de Parobé, Diego Dal Piva da Luz, se reuniu com a direção do hospital para solicitar uma mudança gestão técnica da instituição de saúde. Apesar de ser administrado por uma associação, o chefe do Executivo municipal alegou que as alterações serão realizadas.
— Na posição de prefeito tenho a obrigação e a responsabilidade de cobrar todas as instituições do nosso município, ainda mais quando se refere à saúde. Depois deste fato, somado a alguns tantos que vêm ocorrendo no nosso hospital, e sem querer achar culpados, chamamos a direção do hospital pela manhã e cobramos a troca da responsabilização técnica. Será feita a troca imediata — afirmou o prefeito.
Hospital será investigado
O delegado Francisco Leitão Helena, responsável pela delegacia de Parobé, informou que instaurou inquérito policial e ouvirá os envolvidos para verificar a procedência das informações e analisar se houve ilícito penal na conduta dos profissionais responsáveis.
— No dia de ontem, foi realizado registro de ocorrência na Delegacia de Pronto-Atendimento de Novo Hamburgo a respeito do falecimento. Segundo o familiar que comunicou o ocorrido, após exames, encontraram gaze no interior, sendo orientada a retornar ao hospital em que efetuou o parto – Relatou o delegado.
Procurado, o Hospital São Francisco de Assis alegou que as informações sobre o caso de Mariane não são verdadeiras e que a morte dela ocorreu por “complicação pós-cirúrgica”. Devido a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), o HSFA não divulgou o diagnóstico sobre a causa da morte.
Mariane deixa o marido, seis filhos e familiares. Ela foi velada e enterrada na cidade de Novo Hamburgo.
Confira nota da Fundação de Saúde Pública de Novo Hamburgo na íntegra
A Fundação de Saúde Pública de Novo Hamburgo informa que a paciente buscou atendimento na UPA Canudos, em Novo Hamburgo, fez exames, mas evadiu antes que o médico conseguisse providenciar o transporte para levá-la até o hospital de referência, que é o de Parobé.
Confira nota do Hospital São Francisco de Assis na íntegra
Tendo em vista o óbito noticiado na imprensa local, o HSFA esclarece que as matérias publicadas possuem informações inverídicas, eis que conforme prontuário e relato dos profissionais envolvidos no atendimento, o óbito ocorreu por complicação pós-cirúrgica descrita na literatura e não previsível. O tratamento requer intervenção cirúrgica e todas as medidas adotadas foram corretas.
Ao contrário do noticiado, em nenhum momento a causa da morte foi informada pelo hospital como sendo ‘causas naturais’.
Lamentamos profundamente a perda da família e todas as informações referentes ao atendimento estão à disposição dos familiares.
Por fim, gostaríamos de deixar claro que, mesmo com dificuldades, trabalhamos há mais de 40 anos pautados nos ditames éticos e legais vigentes para oferecer a melhor assistência para a região de mais de 2 milhões de pessoas atendidas pelo HSFA e que não toleraremos notícias falsas e caluniosas contra esta instituição e seus colaboradores.