Se o blockchain muitas vezes é vinculada ao sistema financeiro, por ser a base das bitcoins, esse mecanismo pode ser adotado em outras áreas – inclusive a da saúde. Pensando nesse potencial, o Hospital Moinhos de Vento sediou nesta semana o W[3]BR, evento sobre blockchain empresarial, que também aconteceu simultaneamente em Curitiba, São Paulo, Rio de Janeiro e no metaverso. Nos painéis, especialistas e autoridades de diferentes setores debateram o potencial da tecnologia para promover, com segurança, a interconexão de informações de pacientes.
O uso do blockchain na saúde é uma ideia relativamente nova e ainda pouco discutida no Brasil – esta foi a primeira vez que o W[3]BR foi realizado em um hospital, por exemplo. Segundo o coordenador de Inovação do Moinhos, Thomas Troian, o principal empecilho é cultural.
— Acreditamos no potencial da provocação. Não somos apegados à tecnologia do blockchain, mas esse tipo de tecnologia veio para facilitar, e essa conversa precisa ser amplificada. Todo mundo sabe que o modelo de negócio e remuneração do sistema de saúde não está ideal, mas estamos tateando como enfrentar esse desafio — pontua Troian.
O evento juntou especialistas mundiais em temas como blockchain, dados, gestão, educação e saúde, além de representantes do Ministério da Saúde, do governo do Estado e da prefeitura de Porto Alegre. O foco principal não foi a tecnologia em si, mas o desafio atual de qualificar o monitoramento da saúde das pessoas em tempo real – apesar de, hoje, haver uma geração muito grande de dados, ainda não se sabe como integrá-los de uma forma efetiva e com segurança.
— O desafio é organizar esses dados, e não gerar, porque eles estão espalhados. Hoje, você faz um exame em um hospital e a informação fica naquele hospital. Aí, vai a uma clínica e os dados ficam naquele consultório. Passa na farmácia e a sua compra fica cadastrada só naquele sistema. Em todas as etapas, você gera um monte de dados que contam uma trajetória, mas se você cai no meio da rua e vem a ambulância, ela não sabe de nada disso – explica o coordenador de Inovação.
Com a falta de interconexão entre os dados, o panorama mais amplo de um paciente fica prejudicado. Se essa “jornada” na área da saúde de cada indivíduo fosse melhor apresentada, seria possível identificar qual o melhor tratamento para aquela pessoa e evitar exames e cirurgias desnecessários, por exemplo, o que traria ganhos para a saúde do sujeito, que terá um diagnóstico e um tratamento mais céleres, e economia para os dois lados: serviços de saúde e paciente.
Com o blockchain, a expectativa é de que essa integração de dados possa ocorrer. Para tanto, diferentes instituições precisariam topar uma padronização de seus sistemas, para que um dado gerado em um lugar pudesse ser lido em outro – uma interoperabilidade que, hoje, não existe.
— Hoje, cada prontuário de cada clínica tem sua forma de escrever as coisas. É como quando a gente quer trocar um celular iPhone para um Android, os sistemas não conversam e perdemos informações. Mas, para fazer essa troca de dados, precisa ter segurança, transparência, confidencialidade e confiança de que ninguém que eu não quero terá acesso àquelas informações — analisa Troian.
Como dados de saúde são considerados os mais sensíveis de todos, a preocupação de estabelecimentos, instituições e poder público com encontrar uma forma segura de fazer a troca desses dados, para garantir o sigilo das informações, é geral. No entendimento do coordenador de Inovação do Moinhos de Vento, esse é o diferencial do blockchain e outras tecnologias similares, que, por manter as informações descentralizadas, é menos vulnerável a hackeamentos.
— O termo blockchain significa “cadeia blocada”, justamente porque os dados são distribuídos como se fosse em blocos. É como se você começasse a empilhar tijolos: você não consegue tirar o tijolo de baixo, porque, se não, você acaba com a estrutura – explica Troian.
Um exemplo de interconexão de informações de saúde é o aplicativo ConecteSUS. Lá, aparece registrada uma vacina que foi recebida em um posto de saúde perto da casa do usuário, assim como medicamentos retirados e outros dados – é uma carteira digital que integra e facilita a vida tanto dos agentes do Sistema Único de Saúde (SUS) como do paciente.