De acordo com dados do Observatório de Saúde na Infância da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o Brasil ainda não atingiu a meta proposta para este ano de cobertura vacinal para a maioria dos imunizantes aplicados em crianças. A única vacina que superou as expectativas foi a BCG (aplicada para proteção contra tipos graves tuberculose), que chegou a 90% dos bebês menores de um ano.
O levantamento apontou que, apesar de todos imunizantes aplicados em bebês menores de um ano terem ficado abaixo da meta, essa faixa etária foi a que apresentou maior adesão à cobertura vacinal. Segundo a Fiocruz, após o primeiro ano das crianças, os pais tendem a diminuir a procura por vacinas.
Entre os imunizantes que estão muito abaixo da meta, com cobertura vacinal inferior a 50%, destacam-se a tríplice viral, que ajuda na proteção de doenças como caxumba, rubéola e sarampo, e a tetra viral, que inclui a primeira dose para varicela.
Os dados também indicaram que duas de cada três crianças com dois anos ou mais não completaram a imunização contra caxumba, rubéola e sarampo.
As informações foram obtidas com base em dados de postos e hospitais do Brasil disponibilizados até 28 de novembro.
Esse levantamento preocupa o Ministério da Saúde que, em nota, afirmou que seguirá acompanhando com atenção a cobertura vacinal infantil e incentivando, por meio de campanhas, os pais a procurarem locais de aplicação dos imunizantes. O texto ainda destaca a importância das vacinas para a prevenção de doenças e informa que elas continuarão disponíveis em todas unidades básicas de saúde.
Situação do país
Em 17 de outubro,data em que se comemora o dia nacional da vacinação, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), em parceria com a Organização Mundial da Saúde (OMS), divulgou um relatório que mostra que o Brasil apresentou uma queda na taxa de imunização infantil, que passou de 93,1% para 71,49%. Esse número coloca o país entre os 10 com menor cobertura vacinal do mundo.
Com essa baixa procura pelos imunizantes, doenças que não acometiam mais um grande número de crianças, como o sarampo — que foi erradicado do país em 2016 e depois em 2018 após novo surto —, difteria, meningite, poliomielite e rubéola voltaram a preocupar os órgãos sanitários.
Para Patrícia Boccolini, coordenadora do Observatório de Saúde na Infância, existem alguns fatores que podem explicar a baixa procura pelas vacinas aplicadas em crianças. Entre eles, destacam-se o horário de funcionamento de alguns postos de saúde, que fecham cedo, a falta de acesso a informação e a falsa sensação de segurança sanitária devido às altas coberturas vacinais em períodos anteriores.
Patrícia também considera que questões estruturais, como situação de vulnerabilidade social e insegurança alimentar também contribuem com esse quadro, já que a sobrevivência desses indivíduos e famílias se torna prioridade, ao passo que a vacinação é posta em segundo plano.