O novo cenário da pandemia de covid-19 observado no Rio Grande do Sul nas últimas semanas implica cuidado com os testes para identificação da doença, dizem especialistas ouvidos por GZH. O Estado vive dias com aumento nos registros de coronavírus e de circulação de duas novas subvariantes, a BQ.1 e a BE.9, mutações da Ômicron original.
Atualmente, a população tem acesso a testes para detectar a doença em farmácias, laboratórios e no Sistema Único de Saúde (SUS), que devem ser feitos ao menos 24 horas depois do início dos sintomas, conforme indicação de profissionais da área da saúde.
Outro meio usado no reconhecimento do vírus é o autoteste, que pode ser conduzido em casa sem a necessidade de um profissional. Francine Hehn de Oliveira, médica responsável pela Patologia, Genética e Biologia Molecular do Hospital Moinhos de Vento, assegura que esse tipo de exame é eficaz na detecção de qualquer das novas mutações.
— O autoteste foi desenvolvido a partir dos PCRs de laboratório e é capaz de identificar qualquer variante. O vírus continua sendo o mesmo, tem apenas pequenas modificações no código genético, que são normais, para que ele não seja extinto. Mesmo assim (com as mutações), os autotestes podem reconhecer o coronavírus — explica.
Segundo Francine, a importância da testagem neste momento da pandemia segue a mesma: descobrir a infecção o quanto antes, para iniciar o isolamento e evitar que o vírus seja transmitido para outras pessoas, em especial àquelas com comorbidades. A médica explica que, em caso de suspeita de infecção, o indicado é se afastar do contato com outras pessoas e esperar ao menos 24 horas para fazer o teste.
Ainda sobre os autotestes, a médica pontua uma característica que pode prejudicar o exame: a falta de conhecimento de quem faz a coleta da amostra. Por isso, ela indica que o exame seja feito por auxílio de um profissional.
— É difícil que as pessoas façam (o autoteste) de forma adequada em casa, porque é uma coleta incômoda. A dúvida que fica é se é coletada a secreção no autoteste de forma efetiva, que consiga identificar a presença do vírus — pontua.
Outro ponto a ser avaliado no uso dos autotestes é que o exame tem limitações para captar infecções iniciais ou em fase final. Por isso, destaca a médica do Moinhos de Vento, o indicado é buscar exames PCR com profissionais, que são mais eficazes no reconhecimento do vírus em qualquer período do contágio.
Fernando Spilki, virologista e pró-reitor de Pesquisa, Pós-graduação e Extensão da Universidade Feevale, ressalta que não existem dúvidas quanto à capacidade de detecção das subvariantes com os testes atuais, inclusive os autotestes: segundo ele, a dificuldade notada é quanto ao momento certo de conduzir a análise.
— Temos visto um número de falhas importantes logo nos primeiros dias de sintomas com o autoteste, especialmente em pacientes vacinados, muito provavelmente por uma carga viral mais baixa logo que começam os sintomas — diz.
Por isso, acrescenta o virologista, um indivíduo com sintomas que tenha negativado no autoteste tem de manter cuidados extras, como o uso de máscara e evitar locais com aglomeração de pessoas até que tenha outra confirmação:
— A recomendação é testar novamente em um ou dois dias após (o primeiro exame) e, se possível, testar outros métodos, especialmente o PCR.