O caso de duas enfermeiras que desenvolveram varíola dos macacos cinco dias após atender um paciente em casa para coleta de material e diagnóstico é tema de um estudo que aponta para a transmissão do vírus monkeypox por meio de superfícies. Anteriormente, isso era considerado um evento raro pelo meio acadêmico.
A investigação desses casos faz parte de um artigo que será publicado na edição de dezembro da revista científica Emerging Infectius Diseases, editada pelos Centers for Disease Control and Prevention (CDC), e envolveu pesquisadores da Secretaria Estadual da Saúde do Rio Grande do Sul, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), da Universidade Feevale, da Fiocruz Pernambuco e do Bernhard Nocht Institute for Tropical Medicine - National Reference Center for Tropical Infectious Diseases, de Hamburgo, na Alemanha.
No estudo, foram detalhadamente descritos os cuidados adotados no atendimento do paciente, mostrando que as enfermeiras utilizaram todo equipamento de proteção — exceto as luvas — enquanto estavam no período inicial de entrevista, no quarto do paciente. Esse item de proteção só foi colocado no momento da coleta, após elas esterilizarem as mãos.
Segundo Richard Steiner Salvato, especialista em saúde da Secretaria Estadual da Saúde (SES), que participou do estudo, os cuidados adotados no atendimento estavam de acordo com normas estabelecidas, que indica uso de luvas no momento da coleta da amostra.
— Assim que elas tiveram o diagnóstico de monkeypox confirmado, nós realizamos o sequenciamento genético do vírus presente tanto em uma das enfermeiras quanto no paciente e constatamos que se tratava do mesmo material genético — afirma.
Conforme Salvato, também foi feita uma entrevista epidemiológica com as profissionais, tentando reconstruir o trajeto delas desde a chegada na casa do paciente e como foi a interação com ele.
A conclusão dos autores do texto é que as enfermeiras podem ter se contaminado pelo contato com superfícies infectadas da casa desse paciente, que se encontrava no pico de transmissão viral. Ou ainda, ao manusear a caixa de transporte das amostras, de início com as luvas (infectadas) e posteriormente sem luvas.
Na terça-feira (11), o grupo apresentou o trabalho em um seminário online realizado pelo European Center for Disease Prevention and Control (ECDC), na Suécia, que contou com a participação de diversos pesquisadores e profissionais da saúde de todo o mundo.
— Nosso trabalho virou referência para o tema e está fornecendo informações para ações em tempo real no decorrer deste evento de circulação da monkeypox — destaca a especialista em saúde da SES, Regina Bones Barcellos que também faz parte da equipe de estudos.
Os autores recomendam medidas de prevenção e bloqueio dessa rota de transmissão, que envolvem treinamento específico para essa coleta, implementação de medidas de controle, higienização frequente das mãos e utilização correta de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs).
O uso das luvas é recomendado durante todo o período de visita a pacientes, contato com pessoas suspeitas de estarem infectadas e com seu ambiente/objetos de uso pessoal. A higienização das superfícies com desinfetante efetivo contra outros patógenos (como norovírus, rotavírus e adenovírus) — antes e depois da interação com casos suspeitos — e a vacinação dos grupos de alto risco, incluindo os profissionais de saúde que atuam na linha de frente dessa doença, são outras medidas apontadas pelo grupo da pesquisa.