A atriz Larissa Manoela, 21 anos, anunciou, nessa terça-feira (20), que descobriu ter ovários policísticos. A condição pode estar associada à síndrome dos ovários policísticos (SOP), que pode atingir até 16% das mulheres em idade reprodutiva. Ainda que a artista não tenha afirmado que recebeu o diagnóstico da SOP, o aparecimento de cistos levanta suspeitas da síndrome. GZH ouviu especialistas que explicam quais os principais sintomas e tratamentos indicados para a SOP.
Conforme Raquel Dibi, ginecologista do Hospital Moinhos de Vento, ter ovários policísticos não significa ter a síndrome. Para ser diagnosticada com SOP, é necessário que, além dos ovários policísticos, a paciente também apresente outras características como alteração no ciclo menstrual e sintomas androgênicos.
— Não se diagnostica SOP só com cistos. É preciso observar se, associada à ecografia que mostrem cistos, a paciente sofre com ausência ou irregularidade de menstruação e sintomas como surgimento de pelos, queda de cabelo e acne, por exemplo — pontua a médica.
O ginecologista do Hospital Mãe de Deus Douglas Ribeiro acrescenta que os pelos costumam aparecer em lugares pouco usuais, como entre as mamas, no rosto, próximo a cicatriz umbilical, nas costas e nádegas. Ele salienta que a síndrome também pode causar infertilidade e obesidade.
A pedagoga Jade Saibert Vieira, 22 anos, recebeu o diagnóstico da síndrome há quase quatro anos.
— Como tenho um estilo de vida saudável, não tive nenhum problema de saúde. Tudo que me afetou foi estético e foi horrível. Sempre tive a pele lisinha e, do dia para a noite, comecei a ter muita acne, que eram bem doloridas. Me atrapalhou bastante. Principalmente, com a questão de autoconfiança — relata Jade.
É comum que o diagnóstico de SOP apareça em casos como o relatado por Larissa Manoela nas redes sociais — após encontrar cistos em exames de imagem ou após consulta de rotina ao ginecologista. Para Jade, foi assim que aconteceu. A pedagoga conta que os cistos apareceram em uma ecografia que ela fez em 2018, antes de colocar o Dispositivo Intrauterino (DIU). Foi somente um ano depois que ela começou a sentir os sintomas e, então, foi diagnosticada com SOP.
— A faixa etária de maior incidência é dos 30 aos 40 anos. Em adolescentes e jovens adultos, como foi o caso da atriz, o diagnóstico se torna mais difícil porque muitos dos sintomas são encontrados normalmente nesse período da vida, como a acne, pele oleosa e irregularidade menstrual — explica o ginecologista Douglas Ribeiro.
Tratamento da síndrome
Ainda não se sabe a causa específica da SOP, mas existe tratamento. Segundo a ginecologista Raquel Dibi, a melhora vem após a mudança de vida, quando a paciente adquire hábitos mais saudáveis, como uma dieta balanceada e a realização de exercícios físicos com regularidade.
Para o médico Douglas Ribeiro, o uso de hormônicos como as pílulas anticoncepcionais também é uma alternativa. Foi a estratégia usada no tratamento de Jade Saibert Vieira.
— Fiquei um ano tratando a SOP só com a pílula anticoncepcional, e os sintomas passaram. Só que eu continuava com o DIU hormonal, então decidi parar de tomar a pílula para ver se já tinha resolvido e todos os sintomas voltaram — expõe Jade.
Ela e o médico decidiram retirar o DIU e continuar o tratamento com a pílula e, segundo ela, em cinco meses já foi possível perceber a melhora dos sintomas.
O ginecologista afirma que a pílula combinada (com estrogênio e progesterona) é segura para a maioria das mulheres, mas deve ser evitada em várias condições. Ribeiro explica que cada caso tem que ser avaliado, e que nem todos vão precisar do tratamento hormonal para ter resultados. É possível, então, usar medicamentos não hormonais. Independentemente da escolha, o importante é tratar.
— O não tratamento pode dificultar a perda de peso e acnes não tratadas podem danificar definitivamente a pele, formando cicatriz. A irregularidade menstrual e a ausência de menstruação são uma causa de infertilidade. Grandes períodos sem menstruar, no caso da SOP, também podem prejudicar a saúde da camada interna do útero —, informa Ribeiro.
Relação com a endometriose
Em 2021, a atriz Larissa Manoela recebeu o diagnóstico de endometriose, outra doença ginecológica que, assim como a Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP), é uma desordem que também está ligada a alterações hormonais. Ribeiro explica que na endometriose a parte interna do útero, o endométrio, cresce fora do lugar habitual, podendo acometer os ovários, as trompas, bexiga, intestino e até mesmo os pulmões. A doença, segundo a Dra. Raquel, se caracteriza por distúrbios durante o período menstrual.
— Os principais sintomas são cólica menstrual, dor pélvica crônica, dores durante as relações sexuais, alterações urinárias, alterações intestinais, como constipação ou diarreia durante o período menstrual, por exemplo.
De acordo com estudo da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a endometriose atinge cerca de 10% da população feminina. Famosas como Anitta e Isabella Santoni também já receberam o diagnóstico. Tanto a endometriose quanto a SOP acometem mulheres em idade fértil e podem alterar a menstruação e a capacidade de engravidar, mas elas não têm relação uma com a outra.
O diagnóstico, como conta Raquel, também costuma aparecer em consultas de rotina com o ginecologista, após queixas das pacientes sobre os sintomas. Como a condição pode afetar a fertilidade, o tratamento depende dos sintomas e do desejo gestacional.
— Em geral, para mulheres que não querem engravidar e se não tem risco de obstrução de algum órgão, como intestino, o tratamento é clinico, com bloqueio da menstruação. Quando tem lesões que causem algum risco de obstrução ou a paciente tem desejo de engravidar, pode ser necessário cirurgia minimamente invasiva (laparoscopia ou robótica) — explica a médica.
Apesar de diferentes, ambas as condições contam com tratamento e permitem que as mulheres diagnosticadas sigam a vida normalmente. Os especialistas pontuam, porém, a importância do diagnóstico ser feito o mais cedo possível.
*Produção: Yasmim Girardi