Um estudo publicado nesta terça-feira (5) por cientistas dos Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos (NIH, na sigla em inglês) sugere que a resposta imune desencadeada por infecções por coronavírus danifica os vasos sanguíneos do cérebro e pode ser responsável por sintomas de longa duração.
O artigo, publicado na revista Brain, se baseou em autópsias cerebrais de nove pessoas que morreram repentinamente após contrair o vírus.
Em vez de detectar evidências de covid-19, a equipe descobriu que eram os próprios anticorpos das pessoas que atacavam as células que revestem os vasos sanguíneos do cérebro, causando inflamação e danos.
Essa descoberta pode explicar por que algumas pessoas sofrem efeitos prolongados da infecção - como dor de cabeça, fadiga, perda de paladar e olfato, dificuldades para dormir e "névoa mental" - e também pode ajudar a criar novos tratamentos para covid longa.
O cientista Avindra Nath, autor sênior do artigo, disse em um comunicado que "os pacientes frequentemente desenvolvem complicações neurológicas com a covid-19, mas o processo fisiopatológico subjacente não é bem compreendido".
— Já havíamos mostrado danos nos vasos sanguíneos e inflamação nos cérebros dos pacientes na autópsia, mas não entendíamos a causa do dano. Acho que neste artigo ganhamos perspectivas importantes sobre essa cascata de eventos — explicou.
Os nove indivíduos, com idades entre 24 e 73 anos, foram selecionados do estudo anterior da equipe porque mostraram evidências de prejuízos nos vasos sanguíneos cerebrais, segundo exames. A equipe examinou neuroinflamação e respostas imunes usando uma técnica chamada imuno-histoquímica.
Os cientistas descobriram que os anticorpos produzidos contra a covid-19 visavam erroneamente as células que formam a "barreira hematoencefálica", uma estrutura destinada a manter invasores nocivos fora do cérebro, ao mesmo tempo em que permite a passagem de substâncias necessárias.
Danos a essas células podem causar vazamento de proteínas, sangramento e coágulos, o que eleva o risco de acidente vascular cerebral (AVC).
Os vazamentos também acionam células imunes chamadas macrófagos para correr para o local e reparar as perdas, causando inflamação.
A equipe descobriu que os processos celulares normais nas áreas alvo do ataque foram severamente interrompidos, o que teve implicações em coisas como a capacidade de desintoxicar e regular o metabolismo.
As descobertas oferecem pistas sobre a biologia em jogo em pacientes com sintomas neurológicos de longo prazo e podem informar novos tratamentos. Por exemplo, um remédio que atua no acúmulo de anticorpos na barreira hematoencefálica.
— É bem possível que essa mesma resposta imune persista em pacientes com covid longa, resultando em lesão neuronal — afirmou Nath.
Ou seja, um medicamento que reduza essa resposta imune poderia ajudar esses pacientes:
— Então essas descobertas têm implicações terapêuticas muito importantes — enfatizou.
* AFP