A varíola dos macacos (monkeypox) passou a ser considerada uma emergência de saúde global pela Organização Mundial da Saúde (OMS). A decisão foi anunciada no sábado (23) pelo diretor-geral da organização , Tedros Adhanom. Segundo ele, já foram identificados mais de 16 mil casos da doença em 75 países, com registro de pelo menos seis mortes, uma delas no Brasil, confirmada nesta sexta-feira (29) pelo Ministério da Saúde.
As recentes informações de surtos em diversos países causaram dúvidas quanto à existência de tratamentos de combate à doença e também da varíola comum, erradicada no mundo na década de 1980.
Com base nos esclarecimentos de especialistas e autoridades de saúde, GZH elaborou um guia com respostas aos questionamentos mais comuns sobre os imunizantes disponíveis atualmente e que poderiam ser utilizados no controle da doença.
Quais os sintomas da varíola dos macacos?
Os sintomas são semelhantes, em menor escala, aos observados em pacientes antigos de varíola: febre, dor de cabeça, dores musculares e dorsais durante os primeiros cinco dias. Depois, aparecem erupções - no rosto, palmas das mãos e solas dos pés -, lesões, pústulas e finalmente crostas.
Como é transmitida?
A infecção nos casos iniciais se deve ao contato direto com sangue, fluidos corporais, lesões na pele ou membranas mucosas de animais infectados. A transmissão secundária, de pessoa para pessoa, pode ser resultado do contato próximo com secreções infectadas das vias respiratórias, lesões na pele de uma pessoa infectada ou objetos recentemente contaminados com fluidos biológicos ou materiais das lesões de um paciente.
Como se proteger e evitar o contágio?
Segundo a Anvisa, o uso de máscaras, o distanciamento e a higienização das mãos são formas de evitar o contágio pela varíola dos macacos. A agência reforçou a adoção dessas medidas, frisando que elas também servem para proteger contra a covid-19.
"Tais medidas não farmacológicas, como o distanciamento físico sempre que possível, o uso de máscaras de proteção e a higienização frequente das mãos, têm o condão de proteger o indivíduo e a coletividade não apenas contra a covid-19, mas também contra outras doenças", disse a agência.
Há vacinas contra a doença?
Não. No entanto, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o imunizante Jynneos se mostrou 85% eficaz na prevenção da varíola dos macacos. Ele não está disponível no Brasil. Não é possível, portanto, fazer a imunização aqui. Há estudos científicos em andamento no mundo para avaliar a viabilidade e adequação da vacinação para a prevenção e controle da varíola dos macacos, segundo a OMS.
Quais são as vacinas disponíveis hoje contra a varíola comum?
Por conta da erradicação da varíola em todo o mundo na década de 1980, as vacinas contra a doença pararam de ser produzidas em grande escala. No entanto, alguns países, como os Estados Unidos, mantêm quantidades pequenas dos imunizantes. As vacinas disponíveis hoje são as seguintes: a ACAM2000, da Sanofi Pasteur, e a Jynneos, também conhecida como imvamune ou imvanex, produzida pela Bavarian Nordic, considerada a mais segura e moderna pela Administração de Alimentos e Medicamentos (FDA) dos EUA.
Tenho marca da vacina no braço, então estou protegido?
O imunizante aplicado nas décadas de 1960 e 1970 no Brasil, em uma campanha nacional que resultou na erradicação da varíola, poderia causar reação no braço e deixar uma cicatriz. Essa marca, no entanto, não é exclusiva desse imunizante: a vacina BCG, usada no controle da tuberculose, também pode deixar marca na pele. Assim, mesmo um profissional de saúde teria problemas para diferenciar as duas e ter certeza da vacinação do indivíduo. Desse modo, especialistas não consideram prudente relacionar a marca do braço à vacinação contra a varíola.
Tenho certeza de ter tomado a vacina da varíola comum. Estou protegido contra a varíola dos macacos?
Esse é um ponto de incerteza no assunto. Alguns especialistas acreditam que sim, mesmo quem foi imunizado antes de 1980 - quando a vacina ainda era aplicada no Brasil - pode ter anticorpos.
— Não temos certeza se o nível de proteção ainda é o adequado do ponto de vista clínico. Alguma proteção pode ter ficado, mas, como (as pessoas vacinadas) não tiveram contato com o vírus, a tendência é de que essa proteção tenha reduzido ao longo do tempo — explica Fernando Spilki, virologista e professor da Universidade Feevale.
Quem deve ser vacinado hoje em países que enfrentam surtos?
Alguns países já sinalizaram investimentos em vacinas contra a varíola. Além dos Estados Unidos, o Reino Unido disponibiliza as duas vacinas para profissionais de saúde e pessoas que viajam para países da África, onde a doença é endêmica. A Alemanha anunciou ter encomendado 40 mil doses da Jynneos e a França também recomendou a vacinação de trabalhadores da saúde que tiveram contato com infectados. Segundo o Ministério da Saúde, o Brasil articula com a OMS "tratativas para aquisição da vacina varíola dos macacos, de forma que o Programa Nacional de Imunizações (PNI) possa definir a estratégia de imunização para o Brasil".
O Brasil tem vacina contra a varíola comum para toda a população?
Nem o Brasil nem outros países têm imunizantes para controlar a varíola para toda a população neste momento. Uma campanha nacional, como a que ocorre contra a covid-19 e a gripe, seria feita em um cenário distante do esperado por especialistas, que acham improvável uma disseminação tão ampla que justifique tamanha mobilização.
Posso comprar a vacina da varíola?
Não. A reportagem de GZH entrou em contato com duas clínicas particulares de vacinas de Porto Alegre e ambas relataram pedidos pelo imunizante, que não é vendido no Brasil. Outra dúvida relatada pelos estabelecimentos é quanto à confusão dos nomes das doenças: clientes têm pedido a vacina contra a varicela (catapora) como se fosse o imunizante contra a varíola.
Há algum medicamento contra a varíola?
Sim. Um agente antiviral conhecido como Tecovirimat foi autorizado em janeiro deste ano pela Agência Europeia de Medicamentos (EMA) para tratar a varíola comum, a varíola dos macacos e a varíola bovina, três infecções causadas por vírus pertencentes à mesma família (ortopoxvírus). O Tecovirimat é utilizado em adultos e crianças com peso mínimo de 13 quilos. No entanto, esse medicamento ainda não está disponível ao público.
Qual a situação da vacina no Brasil?
Em nota à reportagem, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) informou que não há medicamento nem vacina registrados e autorizados na agência com a indicação para tratamento ou prevenção da varíola dos macacos ou varíola comum no momento. Além disso, a Anvisa disse não ter recebido solicitação de laboratórios farmacêuticos para o registro de vacinas ou medicamentos para nenhum das doenças. "As vacinas contra a varíola não estão mais disponíveis no mercado para a população geral e como os casos da monkeypox são raros, a vacinação universal não é indicada", informou a Anvisa.
Qual é a situação no Brasil atualmente?
O Brasil está preparado para enfrentar a varíola dos macacos (monkeypox) e articula com a Organização Mundial da Saúde (OMS) a compra de vacinas para combater a doença, disse o Ministério da Saúde neste sábado (23). A informação foi divulgada pela pasta poucas horas depois de Tedros Adhanom, diretor-geral da OMS, ter decretado estado de emergência de saúde global em resposta ao aumento de casos da patologia.
"Com o fortalecimento do Sistema Único de Saúde, o Brasil está preparado para enfrentar a varíola dos macacos", informou a pasta, por meio de nota.
O ministério informou também que há testes disponíveis para todas as pessoas que suspeitam estar contaminadas, e que realiza um monitoramento diário sobre a situação da doença no Brasil.