Os 200 casos de varíola dos macacos registrados nas últimas semanas fora dos países onde a doença costuma circular poderiam ser a "ponta do iceberg", advertiu, nesta sexta-feira (27), a Organização Mundial da Saúde (OMS). O órgão, no entanto, alertou que não há motivo de "pânico".
— Não sabemos se estamos vendo apenas a ponta do iceberg — reconheceu Sylvie Briand, chefe de preparação e prevenção de epidemias e pandemias da OMS, durante uma sessão informativa.
Briand ainda acrescentou que os especialistas tentam, agora, determinar as causas da disseminação. As investigações preliminares não parecem indicar que o vírus tenha sofrido mutações, e Briand acredita que é possível deter a propagação.
— Temos uma boa oportunidade para deter a transmissão agora. Se implementarmos as medidas adequadas, provavelmente vamos conseguir conter isso facilmente — afirmou.
Não há motivo de pânico
Brian ainda afirmou que "estamos no início do evento" e que "haverá mais casos nos próximos dias", ressaltando que não há motivos para espalhar o pânico sobre a doença.
— Não é uma doença que deve preocupar o público geral. Não é a covid nem outra doença que se expande rápido — ressaltou.
A varíola dos macacos pertence à mesma família da varíola, que matou milhões de pessoas por ano antes de ser erradicada em 1980. Mas a varíola dos macacos é muito menos grave e tem uma taxa de mortalidade de entre 3% e 6%, dependendo dos casos. A maioria dos infectados se recupera em três ou quatro semanas.
A doença e sua transmissão até o momento
O Reino Unido foi o primeiro país a chamar a atenção para os casos da doença, no dia 7 de maio. Desde então, cerca de 200 casos foram reportados à OMS de países onde o vírus não é endêmico. Já o Centro Europeu para Prevenção e Controle de Doenças (ECDC, na sigla em inglês) cifrou o número de casos em 219.
A varíola dos macacos é endêmica em 11 países do leste e do centro da África. Porém, nas últimas semanas, foram registrados casos em mais de 20 outros países, incluindo Estados Unidos, Austrália, Emirados Árabes Unidos, Argentina e União Europeia. Até o momento, o Brasil não registrou casos da doença. Um brasileiro, entretanto, contraiu a varíola na Alemanha.
O Ministério da Saúde da Espanha notificou nesta sexta-feira um total de 98 casos até agora, um pouco mais que o Reino Unido, onde há 90 infecções confirmadas. Em Portugal, o número de casos é de 74, segundo informaram as autoridades sanitárias nesta sexta. Todos os infectados são homens e a maioria tem menos de 40 anos, assinalaram.
Os primeiros da varíola dos macacos sintomas incluem febre, dor de cabeça e dores musculares nas costas. Depois, surgem erupções cutâneas, lesões, pústulas e, finalmente, cascas de feridas. Vários especialistas ressaltaram que, embora o vírus possa ser contraído durante um ato sexual, não é uma doença sexualmente transmissível. A transmissão requer contato próximo e prolongado entre duas pessoas e acontece principalmente através da saliva e do pus das lesões cutâneas surgidas durante a infecção.
Por ora, não existem muitas possibilidades de tratamento, mas há alguns antivirais desenvolvidos contra a varíola, entre eles um que foi aprovado recentemente pela Agência Europeia de Medicamentos. Também está comprovado que as vacinas desenvolvidas para a varíola são eficazes em 85% para prevenir a varíola dos macacos.