Nos últimos dias, a varíola dos macacos ganhou destaque com a confirmação e suspeita de casos em diversos lugares do mundo. Nesta semana, o Ministério da Saúde informou que quatro casos da doença estão sob investigação no Brasil. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), até o momento, foram confirmados 257 registros da monkeypox (nome da doença em inglês) em 23 países fora da África, continente onde a doença é endêmica.
A repercussão da doença causou dúvidas quanto ao nome e qual a relação dos animais com a transmissão do vírus. Por isso, GZH conversou com Fernando Spilki, que tem formação em Medicina Veterinária, é virologista e professor da Universidade Feevale.
Qual a relação dos macacos com a varíola?
O nome é bastante infeliz porque os macacos (primatas não-humanos) são vítimas do vírus. É claro que, quando infectados, eles podem ser uma fonte importante (de transmissão) para tratadores e veterinários, mas estão longe de ser a espécie original do vírus. Esse vírus se origina no ambiente africano a partir de roedores silvestres e esquilos. O nome foi dado porque os primeiros casos foram observados em macacos do continente africano importados para pesquisas.
Cães e gatos podem ser prejudicados caso a doença se dissemine no país?
Não temos evidências de que cães e gatos tenham alta suscetibilidade à doença, mas algum nível de cuidado deve haver em famílias em que um humano se infecte com o vírus (da varíola dos macacos) e isolar esses animais. Mas não temos evidência que cães e gatos sejam transmissores para seres humanos.
Com quais animais é preciso ter mais atenção?
Especialmente roedores, tanto para a saúde deles, quanto para a nossa. Eles são bastante suscetíveis a se infectarem com a doença sem terem sinais clínicos. Quanto aos roedores que temos em casa como animais domésticos (hamster, chinchila, porquinho-da-índia) comprados de fontes seguras, não há qualquer motivo para preocupação neste momento. Quanto aos coelhos, não se sabe o potencial de transmissão, mas sabemos que podem ser vítimas (de varíola dos macacos) de infecções experimentais (em testes de laboratório), mas não vimos como seria em um surto, em uma situação nova, como são os casos fora da África. Se uma pessoa positivar ou apresentar lesões compatíveis com a monkeypox, deve se isolar do coelho.
Quais outros animais podem ser afetados?
O vírus não foi encontrado infectando, de forma natural, animais de fazenda, como ovelhas, bovinos, equinos e suínos. Casos suspeitos (em humanos) devem evitar animais de zoológico, especialmente os macacos, os roedores silvestres, lagomorfos, lebres, tamanduás. Mas eles não são fontes primárias de infecção, mas vítimas (do vírus).
Como é a transmissão do humano com animais e vice-versa?
Principalmente com o contato direto. O vírus é bastante resistente no ambiente. Panos, cama, ração são materiais que podem ser fontes de transmissão. Então, o ideal é que, se a pessoa positive (para o vírus), suspenda o contato com os animais. Mas não temos o vírus confirmado no Brasil e não temos qualquer evidência de transmissão comunitária (no mesmo território) no país.