A presença de "impurezas" em medicamentos à base de losartana não significa que o remédio seja inseguro ou que o uso dele deva ser interrompido de forma repentina pelos pacientes. Pessoas que têm medicamentos dos lotes afetados no recolhimento devem manter a rotina de uso até que tenham outro remédio para então fazer a substituição.
É o que esclarecem especialistas ouvidos por GZH após a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) anunciar, na quinta-feira (23), a interdição e o recolhimento de lotes do remédio nos quais foi detectada a impureza “azido” em concentração acima do limite de segurança exigido pelo órgão estatal.
A losartana é um dos remédios mais utilizados no país no tratamento da hipertensão e insuficiência cardíaca, e é capaz de reduzir o risco de derrame e infarto. Ele é distribuído no Sistema Único de Saúde (SUS) e pode ser comprado sem receita médica nas farmácias. A Anvisa deu prazo de 120 dias para o recolhimento dos lotes dos produtos das farmácias, trabalho que deverá ser feito pelos laboratórios Aché, Biolab Sanus, BrainFarma, Cimed, Eurofarma, Geolab, Laboratório Teuto Brasileiro e Prati, Donaduzzi & Cial.
O órgão federal notificou os detentores de registro desses remédios para apresentarem os resultados da avaliação sobre a existência dessa impureza nos produtos. Em março deste ano, a farmacêutica Sanofi Medley anunciou o recolhimento de três formulações de medicamentos à base de losartana do mercado e, por isso, não consta na lista da Anvisa. O laboratório explica, por meio de nota, que os lotes fabricados em 2022 seguem os padrões atuais estabelecidos pela Anvisa.
Autoridades de diversos países também adotaram ações de recolhimento similares às do Brasil. A Anvisa explicou que tem adotado medidas para garantir "padrões de qualidade" desde a descoberta da possibilidade da presença da impureza azido na losartana, em setembro de 2021.
O que é a impureza azido e por que não interromper o uso
As impurezas azido são substâncias que podem surgir durante o processo de fabricação do insumo farmacêutico ativo e que têm potencial mutagênico. Simone Verza, professora e pesquisadora do mestrado em Toxicologia e Análises Toxicológicas da Universidade Feevale, explica o resultado disso na vida de uma pessoa:
— Quando presentes em medicamentos ou outros produtos, essas substâncias (impurezas azido) podem causar danos, mutações, no DNA e, por isso, têm potencial de originar câncer no caso de consumo prolongado. É orientado o uso dos medicamentos dos lotes recolhidos (pela Anvisa) porque a interrupção do tratamento é mais danosa para o paciente do que a presença dessas impurezas (no curto prazo).
De acordo com Vítor Magnus Martins, cardiologista do Hospital Moinhos de Vento e do Instituto de Cardiologia, a medida da Anvisa não muda o fato de que os medicamentos são consolidados e eficazes no tratamento da hipertensão e da insuficiência cardíaca. Além disso, o profissional também entende que pessoas que têm medicamentos dos lotes afetados no recolhimento devem manter a rotina de uso até ter outro remédio para substituição.
— Nenhum tratamento deve ser interrompido ou modificado sem a prévia orientação médica. A suspensão abrupta provavelmente traria mais riscos do que benefícios. O recolhimento dos lotes foi feito de forma preventiva, para que se esclareça melhor os riscos potenciais — explica o cardiologista.
A Anvisa informou que os pacientes podem entrar em contato com o Serviço de Atendimento ao Consumidor (SAC) do laboratório para se informar sobre a troca do remédio por um lote que não tenha sido afetado pelo recolhimento ou interdição. Os meios para contato com as empresas estão disponíveis na embalagem e bula dos produtos.