A revista científica Frontiers in Medicine fez a retratação de um artigo que indicava redução de 91% em hospitalizações por covid-19 em homens que usaram proxalutamida. Isso significa que o estudo foi "despublicado". De acordo com o periódico, os resultados apresentados não foram "adequadamente apoiados pela metodologia do estudo". As informações são do jornal Folha de S.Paulo.
A proxalutamida é um medicamento experimental, desenvolvido para o tratamento de câncer e teve o uso defendido pelo presidente Jair Bolsonaro no combate à covid-19.
Em 2021, o Ministério Público Federal do Rio Grande do Sul abriu investigação após uma denúncia indicar que pacientes do Hospital da Brigada Militar de Porto Alegre com covid-19 teriam recebido o medicamento.
Além disso, a Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), ligada ao Ministério da Saúde, constatou que o tratamento de covid-19 com a droga proxalutamida resultou em 31% mortes dos pacientes que participaram do estudo no Amazonas.
Novo parecer
Antes da retratação, a revista havia divulgado uma nota na qual alertava para os potenciais problemas do trabalho, desenvolvido em dois hospitais de Brasília. Cientistas do Brasil e do Exterior criticaram a confiabilidade dos dados e aspectos éticos do experimento após a publicação do trabalho em julho de 2021, o que fez o periódico contratar uma investigação independente.
Conforme o desenho metodológico, o ensaio era do tipo duplo-cego e randomizado. Ou seja: os participantes deveriam ser divididos de forma aleatória, sem que os voluntários ou os pesquisadores soubessem quem usou placebo ou medicamento. Isso não teria ocorrido no estudo, de acordo com o parecer.
O responsável pela investigação independente diz ter submetido os dados a uma análise de execução estatística, o teste Wald–Wolfowitz, usado para verificar a ocorrência de eventos semelhantes e indicar se eles foram gerados aleatoriamente.
"Em resumo, os resultados mostram evidências contundentes de que o processo de alocação para tratamento e controle não foi aleatório. Portanto, as conclusões tiradas do estudo não podem ser defendidas", indica o trecho do responsável pela investigação, que não teve o nome divulgado.
As informações do parecer e de toda a correspondência com os editores da revista foram divulgadas pelos autores do estudo, que não concordaram com a retratação e contestam as críticas.
O médico Flávio Cadegiani, coordenador do experimento, questiona o processo de revisão e diz que os autores suspeitam de que a pessoa responsável pelo parecer tenha interesses pessoais na retratação do artigo. Para ele, a revista ignorou "análises independentes adicionais", que mostrariam vícios de análise no laudo apresentado.