A alta cobertura vacinal segue produzindo efeitos positivos sobre os dados da pandemia do coronavírus entre os gaúchos. Abril termina com 245 mortes por covid-19 registradas no Rio Grande do Sul, redução de 68% em comparação a março, segundo dados do Ministério da Saúde analisados por GZH neste domingo de Dia do Trabalho (1º de maio).
A melhora é nítida quando se analisa todo o período da pandemia: este abril de 2022 é o mês com o quarto menor número de mortes por coronavírus no Estado. Apenas março, abril e maio de 2020 – os três primeiros meses após a chegada do vírus ao país, quando a doença ainda era pouco presente no Rio Grande do Sul – contabilizaram menos vítimas.
— Março e abril foram meses com baixa demanda no hospital, então faz sentido que haja número baixo de mortes. Como o pico começou a cair entre fevereiro e março, em abril vimos menos óbitos e, para maio, esperamos resultado muito parecido — diz Jeruza Neyeloff, médica epidemiologista da assessoria de Planejamento e Avaliação do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA).
Os dados são de notificação do óbito às autoridades, e não de data de ocorrência da morte.
De março para abril, o número de casos caiu 47% – foram registradas 62.349 infecções. A despeito da melhora, o número de gaúchos infectados em abril foi quase quatro vezes maior do que em dezembro do ano passado, mês “de ouro” da covid-19 em solo gaúcho, quando 15,8 mil pessoas foram contaminadas no Rio Grande do Sul.
— É possível baixar ainda mais a circulação de vírus, mas temos uma variante com mais transmissibilidade (Ômicron, contra a Delta, que circulava até dezembro), então o número de casos será significativamente maior. Talvez não vejamos um mês com tão poucos casos como dezembro, mas temos alto nível de vacinação e baixo número de mortes — afirma a epidemiologista.
Os dados de hospitalização não foram analisados por GZH porque estavam fora do ar no sistema da Secretaria Estadual da Saúde do Rio Grande do Sul (SES-RS) na manhã deste domingo (1º). A reportagem contatou o governo e solicitou os dados atualizados, mas não obteve retorno até a publicação desta matéria.
A melhora da epidemia também se dá em Porto Alegre, onde 26 pessoas morreram com coronavírus no mês de abril – em março, foram cem vítimas, de acordo com dados do Ministério da Saúde.
Neste domingo, havia 41 pessoas internadas em Unidades de Terapia Intensiva (UTI) com covid-19 – no pior momento da pandemia eram quase mil. A ocupação é elevada quando comparada a outras cidades: no Rio de Janeiro, há 12 internados em UTI com síndrome respiratória aguda grave.
A melhora de cenário costuma levantar o questionamento sobre quando será o fim da pandemia – nesta semana, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) divulgou boletim no qual destaca que todos os indicadores estão em melhora no Brasil, mas que a covid-19 ainda não acabou.
Jeruza Neyeloff, do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), observa que a doença segue ocupando a mente de especialistas em saúde – a situação pode piorar com nova variante, e idosos e imunossuprimidos são os mais vulneráveis a casos graves.
— As pessoas querem ouvir que a pandemia acabou. Isso não existe, a covid segue uma preocupação, temos que ficar vigilantes. Se quisermos fingir que o vírus não existe, é um risco grande para a sociedade. Mas podemos e devemos comemorar que estamos em um bom momento, com baixa circulação de vírus, vacinados e podendo manter nossas atividades – diz a médica epidemiologista.
No Rio Grande do Sul, 79,3% de toda a população tomou duas doses e 49,4% completou o esquema vacinal com o reforço. É a sexta melhor cobertura vacinal entre Estados brasileiros, no mesmo patamar de países como França, Itália, Alemanha e Canadá.
Todavia, mais de 751 mil gaúchos estão com a segunda dose atrasada e cerca de 2,3 milhões já deveriam ter tomado o reforço contra o coronavírus.
— Temos que manter esforços para vacinar o mundo inteiro e, assim, diminuir a chance de variantes aparecerem, e para cuidar de pessoas imunossuprimidas, porque há pessoas mais fragilizadas que precisamos cuidar — acrescenta Neyeloff.