Mais de dois anos após o início da pandemia de covid-19, existem vários tratamentos contra a doença, mas o uso das pílulas e injeções enfrenta vários limites.
Apesar da diminuição dos números da covid-19 na maioria dois países, os medicamentos podem, ao lado das vacinas, fazer a diferença para os pacientes de alto risco.
Os tratamentos, para prevenir e curar, também podem ser essenciais para pessoas nas quais a vacina é pouco ou nada eficaz, como os imunodeprimidos, ou para as pessoas que apresentam risco elevado de desenvolver formas graves da doença, incluindo os idosos.
— Porém, no momento, estes medicamentos são utilizados de maneira insuficiente, como demonstram o número de mortes pela pandemia — lamenta Antoine Flahault, diretor do Instituto de Saúde Global e professor na Faculdade de Medicina de Genebra.
Pílulas
A primeira categoria de tratamento é composta por pílulas antivirais que atuam diretamente no vírus, para impedir sua multiplicação.
Contra a covid, o comprimido mais desenvolvido é o Paxlovid da Pfizer. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendou há uma semana privilegiar seu uso em relação a outros tratamentos, em especial a pílula do grupo MSD, molnupiravir, que é menos eficaz.
A China aprovou em fevereiro o uso do Paxlovid. Uma boa notícia para a Pfizer, que espera produzir 120 milhões de doses este ano. Nos Estados Unidos, o governo de Joe Biden adotou medidas para garantir o acesso às pílulas anticovid.
A vice-presidente Kamala Harris, que testou positivo para covid na terça-feira (26), está tomando o comprimido da Pfizer. Mas os especialistas destacam alguns inconvenientes, como a corrida contra o tempo para administrar o remédio. O ideal é tomar a pílula menos de cinco dias depois dos primeiros sintomas, que devem ser confirmados por um teste.
Alguns medicamentos, começando pelo Paxlovid, também são "delicados" para o uso, por causa das "várias interações com outros medicamentos", explica Antoine Flahault. Outro problema é que algumas variantes, como a Ômicron, podem reduzir sua eficácia.
Anticorpos
A segunda grande categoria são os anticorpos monoclonais, que devem ser administrados por via intravenosa ou injeção no hospital. Isto pode reduzir o risco de hospitalização e morte em até 80%.
Estes tratamentos são utilizados de duas maneiras, dependendo da medicação escolhida. Podem ser usados preventivamente em pessoas que não podem ser vacinadas ou são administrados em pacientes hospitalizados para evitar a complicação do quadro.
Os principais são o Evusheld do laboratório anglo-sueco AstraZeneca e o Ronapreve da farmacêutica suíça Roche, ambos usados preventivamente, embora o segundo composto também seja curativo. Os prazos de administração também são curtos. E muitos biomedicamentos perdem eficácia com as diferentes variantes do vírus.
Países pobres
Assim como acontece com as vacinas, o acesso aos medicamentos anticovid é muito desigual entre países pobres e países ricos. Aqui também acontece um debate sobre a quebra de patentes.
No ano passado, Pfizer e MSD anunciaram acordos de patentes com a mediação da ONU, o que permite produzir uma versão genérica e mais barata de suas pílulas. Acordos foram assinados com 35 fabricantes de genéricos na Europa, Ásia e América Latina para a produção do Paxlovid e distribuição em 95 países pobres.
Mas a OMS se declarou muito preocupada com o fato de que os países mais pobres continuem com dificuldades de acesso ao Paxlovid.
Ao mesmo tempo, organizações não-governamentais prosseguem em sua batalha. "À medida que aparecem novos tratamentos, seria desumano que não estivessem disponíveis nos locais em que os recursos são mais limitados, simplesmente porque estão patenteados e são muito caros", advertiu no início do ano Márcio da Fonseca, conselheiro da organização Médicos Sem Fronteiras (MSF).