A máscara de proteção facial, que já fazia parte da rotina da enfermeira Giovana Paggiarin Skonieski, 51 anos, antes mesmo da pandemia de coronavírus, não impede o uso do batom antes de sair de casa.
– Costumo dizer que tenho que ser linda para mim porque mereço – garante a profissional da saúde.
Uma singela demonstração de autocuidado faz parte da mensagem que ela passa diariamente às pacientes que frequentam o ambulatório da Ginecologia e Mastologia, do Hospital Nossa Senhora da Conceição, na Capital.
Neste Dia Internacional da Mulher, o Diário Gaúcho conta um pouco da rotina de Giovana, uma profissional que esteve na linha de frente na luta contra a covid-19 e que, diariamente, acompanha histórias de vitória e também momentos difíceis de pacientes em tratamento contra o câncer, principalmente, o de mama.
Um dado interessante sobre as mulheres é que, segundo o documento Um Olhar para o Gênero, do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), 70% da força de trabalho na saúde em todo o mundo é representado por elas.
– A minha essência é trabalhar com mulheres. Trabalhar com elas é uma dádiva, consigo ver de perto toda a transformação diante de suas situações e fazer parte desses estágios, e mesmo quando é em uma situação delicada, a mulher sempre pensa no outro, na família, no trabalho, na sua estrutura – afirma.
Além do acolhimento empático de entender o que uma mãe, esposa e trabalhadora pode sentir ao descobrir a doença, a enfermeira entende a importância da autoestima nas fases de mudança externa durante o tratamento.
– Eu acho que importante falar que vivemos em uma sociedade de padrões de beleza irreais. Muitas pacientes falam que estão feias, sem cabelo, sem sobrancelha. Mas, como eu digo, a mulher é sempre bela e não adianta pular essas fases, do diagnóstico, a quimioterapia, da cirurgia e da radioterapia. Como mulher, a gente pode ajudar essas pacientes a não sofrerem por antecedência e, como equipe, podemos fazer isso muito bem – relata.
Em ação
Como mulher e conhecedora de muitas, Giovana garante que um dos dons femininos é a comunicação pelo olhar. E isso acontece diariamente, segundo ela, com as colegas do hospital e pacientes:
– A secretaria, a médica, a psicóloga, a gente consegue se comunicar sem falar. Muitas vezes, a gente entende as relações também pelo olhar das pessoas. E quando atendemos alguém com câncer, passamos a entender mais da sua estrutura de vida e de nos colocar no lugar dos outros.
A empatia também faz movimentos em favor da solidariedade, como a campanha do sutiã para o período do pós-operatório, cujo valor não é acessível para algumas famílias:
– E tem quem compra, às vezes, e usa por pouco tempo. Por isso, começamos a arrecadar. A gente traz para casa, higieniza e o dia que a paciente não utilizar mais, devolve ele. Outra mulher vai ser feliz. Eu movimentei pessoas que não têm nada a ver com a entidade, mas que possuem essa capacidade de pensar no outro, nas dificuldades do outro, é algo muito feminino.
Entre março e setembro de 2020, ela trabalhou no atendimento de pacientes infectados pelo coronavírus e também vivenciou momentos marcantes.
– Um grande aprendizado. Em um dos casos, eu fazia a ligação para uma paciente de 78 anos, com seis filhos, noras e muitos netos, todos os dias, às 18h, para falar com sua família. Esse momento era uma forma de resgatar as lembranças e os sonhos, estímulos para continuar lutando. E essa parte da família também representa muito a mulher – detalha.
Contato diário
Dentro da prática da profissão, Giovana vai além das paredes do hospital, adentra as casas e convive com as famílias por meio do contato diário por mensagens
– Eu tenho um telefone, o telemama, e elas me mandam fotos, perguntam o que eu acho (de cicatrizes, pós-operatórios, curativos, entre outros). Por ali consigo falar com elas e saber de diferentes histórias. Consigo me comunicar dentro das suas realidades e ajudar de alguma forma – relata.
Essa ajuda que Giovana menciona inclui a demonstração de voltar à rotina com afazeres adaptados a partir das limitações de cada paciente e também de orientações para pessoas que apoiam a fase do tratamento.
Uma das pacientes que teve esse contato foi a moradora de Alvorada Renata Rocho Dias, 31 anos. Ela descobriu câncer a primeira vez em 2014 e passou pela retirada da mama direita. Em 2019, nódulos apareceram na mama esquerda e ela voltou ao tratamento conta a doença, passando pela retirada novamente. Recentemente, ela colocou próteses e está se recuperando.
– Ela me fala “Qualquer coisa me manda foto e me manda Whats”, é bem atenciosa. Eu estava preocupada com meu seio pela demora para cicatrizar e, por isso, chamei ela. Eu sempre falo se alguém está no hospital é porque está doente, e o mínimo que se espera é ser bem tratado. E sempre fui bem tratada e todos no Conceição me conhecem bem. E a Giovana está sempre me elogiando, sempre com uma novidade a mais – conta Renata.
Superação
Ela é uma das histórias que Giovana leva como inspiração para outras pacientes. Renata viveu o encontro com a própria força em meio à doença após o término de um relacionamento.
– Eu estava numa fase muito boa antes do câncer. Era casada com uma pessoa e ela se afastou durante o tratamento. Foi onde me senti vivendo a pior fase, de não estar me enxergando como mulher. Mas não deixei me abater e descobri que de amor não morro – relata.
Nesta fase, Renata colocou sua dedicação nos estudos para mudar o foco da situação:
– Hoje estou com outra pessoa, que me conheceu sem cabelo, sem peito, doente, e ele gosta de mim como eu sou. A Giovana sempre fala bem dele. Que eu estou sempre bem cuidada. Ela passa para mim as orientações para ele me ajudar em casa. Hoje, já tenho cabelo e peitos. Me descobri bonita na pior fase.
Giovana ainda destaca sobre Renata:
– Uma super mulher.