Hospitais e laboratórios privados do Brasil e do Rio Grande do Sul notam, além de maior procura por testes, grande crescimento nos diagnósticos positivos para covid-19. Dados da rede privada indicam tendência de piora da pandemia em meio ao apagão de estatísticas oficiais após invasão hacker ao Ministério da Saúde.
Na terça-feira (4), o governo Eduardo Leite (PSDB) emitiu alerta a todas as regiões do Estado em função do aumento nas infecções de coronavírus - o cenário indica que o país enfrenta uma onda simultânea de influenza H3N2, subnotificada, e de Ômicron, cujos dados não são informados plenamente aos sistemas oficiais.
Laboratórios e hospitais privados, que aplicam testes na emergência para casos leves porque muitos convênios exigem consulta médica para cobrir o valor do exame PCR, creditam a piora ao avanço da variante Ômicron, altamente transmissível, aliada às aglomerações de fim de ano e o maior relaxamento da população.
O aumento pós-festas coincide com o período de incubação da Ômicron: sintomas surgem de três a cinco dias após a infecção - para a Delta, era necessário cerca de sete dias. Nesta quarta-feira (5), já há impacto do Natal e do Ano-Novo, mas ainda não houve tempo para que os infectados piorem a ponto de necessitar internação.
Dados nacionais da Associação Brasileira de Farmácias (Abrafarma) mostram que, no fim de dezembro, 20% de todos os testes realizados deram positivo, contra cerca de 5% nos primeiros dias do mês — no período, o número de testes realizados em farmácias triplicou, chegando a quase 26 mil em um único dia. Não há estatísticas atualizadas do Rio Grande do Sul.
Já um levantamento realizado pela Dasa, maior rede de saúde integrada do Brasil, identificou aumento expressivo na taxa de positividade para coronavírus nos últimos dias no país. Em 27 de dezembro, o índice era de 12,72%, percentual que saltou para 27,22% em 2 de janeiro. Os dados são baseados nos exames realizados nas mais de 900 unidades ambulatoriais da rede pelo Brasil. No dia 4 de dezembro, a positividade era de 1,38%.
Aumento — de cerca de 5% para 20% de casos positivos na comparação entre antes e após Natal e Ano-Novo — também é notado em diferentes hospitais e laboratórios privados do Rio Grande do Sul consultados por GZH.
É o caso do laboratório de testagem da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre e do Hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).
A médica infectologista Teresa Sukiennik, gerente de segurança assistencial da Santa Casa, diz que o aumento denota nova onda da covid-19 e que a tendência é de crescimento nos próximas dias. Mas ela destaca que não houve incremento nas internações na Santa Casa.
— A primeira elevação de casos via de regra é em jovens, que são menos afeitos à doença grave e mais afeitos a festas e aglomerações. Precisamos esperar para ver o que acontecerá na população idosa. Mas Porto Alegre está em situação ótima na aplicação de dose reforço. Temos expectativa de ter proteção desses pacientes mais idosos — acrescenta.
Na Unimed Porto Alegre, os primeiros três dias de janeiro registraram aumento de mais de 100% na procura por testes PCR. Entre todos os exames dos primeiros dias do ano, 35% saem positivos, um patamar do ápice da pandemia. Em novembro, apenas 6% dos testes davam positivo para coronavírus.
O médico infectologista Fabiano Ramos, coordenador do Serviço de Controle de Infecção e Núcleo de Segurança do Paciente da Unimed Porto Alegre e chefe da Infectologia do Hospital São Lucas da PUCRS, diz que é comum o diagnóstico positivo no pós-Natal e Réveillon em grupos inteiros de familiares ou amigos que confraternizaram juntos - incluindo turmas que passaram o fim de ano no Litoral.
— Normalmente, as pessoas começam a transmitir cerca de 24 horas antes do início de sintomas. Se tivermos, como os Estados Unidos, 1 milhão de casos em um dia, 1% das pessoas com complicação já é bastante expressivo. Teremos, nas próximas duas semanas, grande número de infectados. É possível termos aumento de internações, especialmente em pessoas sem calendário vacinal completo e com fator de risco. Teremos que ver também como se comportará a infecção em crianças, porque, nos EUA, cresceu o número de crianças com doença grave - diz Ramos.
A rede Bioanálises, que conta com 11 laboratórios em Porto Alegre e na Região Metropolitana, realizava cerca de 300 de testes por dia em novembro, dos quais cerca de 3% davam positivo para coronavírus. Nos primeiros dias de janeiro, passou a realizar até 700 testes diários — agora, 22% dão positivo.
— Desde dezembro, a conduta da população tem mudado, com as festas de fim de ano, tanto de empresas quanto famílias. O pessoal acabou descuidando um pouco. Temos a chegada dessa variante, muito mais transmissível do que as variantes anteriores, coincidindo com as festas de fim de ano — diz o biólogo Nelson Kretzmann, responsável pelo setor de biologia molecular da Bioanálises.
O Hospital Moinhos de Vento também notou aumento: na terça-feira (4), a instituição diagnosticou 32 casos de coronavírus. Na véspera do Natal (24), foram apenas cinco. Paulo Schmitz, chefe do Serviço de Emergência, explica que a taxa de positividade cresceu de 5% para 18% nas últimas duas semanas.
— Não há dúvida de que aumentou a contaminação por covid. Estamos em nova onda, mas nem perto do ano passado, quando vimos aumento de casos graves. As pessoas que vemos com síndrome respiratória aguda grave geralmente são não vacinados ou pessoas que tiveram covid e fizeram só uma dose porque achavam que não precisava de segunda dose. Nos próximos 10 a 15 dias, deveremos ter algum aumento, mas nem perto do que já tivemos, graças à vacina — diz Schmitz.
No Mãe de Deus, menos de 9% dos exames PCR davam positivo em novembro. Na última semana de dezembro, o que inclui o Natal, o índice subiu para 18,6%. Na primeira semana de janeiro, cresceu ainda mais: 29%.
O Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), referência para internação quando o caso é grave, informou que não registra aumento de internações por coronavírus, mas que o serviço de Medicina Ocupacional, destinado a atender trabalhadores, registrou aumento no número de casos diagnosticados.
Nos laboratórios Weinmann, de novembro para dezembro de 2021, houve aumento de 38% na quantidade de exames para detectar covid-19. Já a taxa de positividade cresceu 42%.
A Panvel não informou se houve aumento de casos diagnosticados. A rede Farmácias São João informou que dados sobre diagnóstico são informados pela Abrafarma.