A variante Ômicron do coronavírus, que vem despertando preocupação mundial nos últimos dias e já foi identificada no Rio Grande do Sul, pode ter adquirido pelo menos uma de suas mutações ao incorporar um fragmento de material genético de outro vírus — possivelmente o responsável pelo resfriado comum— presente em células infectadas pelos dois micro-organismos simultaneamente, de acordo com pesquisadores citados pela imprensa internacional.
Uma das razões para essa hipótese é o fato de que essa sequência genética em particular não aparece em versões anteriores do Sars-CoV-2, mas é encontrada em muitos outros vírus, incluindo aqueles que causam o resfriado comum, e no próprio genoma humano.
Assim, ao se apropriar desse fragmento, a Ômicron pode parecer "mais humana". Isso seria um fator favorável para fazê-la escapar com mais facilidade do sistema imunológico das pessoas infectadas, na avaliação do especialista Venky Soundararajan, integrante do Instituto de Análise de Dados Nference, de Cambridge, Massachusetts (EUA), que liderou um estudo sobre esse assunto publicado na plataforma OSF Preprints.
Isso pode significar que o vírus é transmitido com mais facilidade, mas, em compensação, provocaria uma doença mais leve do que a causada por outras cepas da covid ou assintomática. Como as conclusões são preliminares, os cientistas ainda procuram entender melhor se a Ômicron é de fato mais infecciosa do que outras variantes, se causa doenças mais ou menos graves ou se terá força para se tornar a variante preponderante no mundo em vez da Delta.
Estudos prévios já indicavam que as células presentes nos pulmões e no sistema gastrointestinal humanos podem abrigar o Sars-CoV-2 e o vírus do resfriado comum ao mesmo tempo. Essa infecção simultânea permitiria a ocorrência de uma “recombinação viral” - quando dois vírus diferentes interagem enquanto fazem cópias de si mesmos, gerando novos micro-organismos que contêm pelo menos uma parte de seu material genético em comum.
Essa nova mutação pode ter ocorrido pela primeira vez em uma pessoa infectada com os dois patógenos quando uma versão do SARS-CoV-2 “capturou” o material genética do outro vírus, segundo o estudo apresentado por Soundararajan, que ainda não havia sido revisado por outros cientistas.