Se o cenário parece de tranquilidade em relação ao coronavírus, o primeiro caso da variante Ômicron no Rio Grande do Sul, confirmado nesta sexta-feira (3), pede cautela. A variante identificada na África do Sul chega ao Estado em um momento de quase relaxamento total das restrições e, para especialistas, é necessário que se mantenham medidas fundamentais para o controle do contágio.
O primeiro registro da Ômicron em território gaúcho é de uma mulher, que mora em Santa Cruz do Sul, no Vale do Rio Pardo, e que recentemente esteve na África do Sul. Segundo a epidemiologista Cynthia Molina Bastos, coordenadora do Centro Estadual de Vigilância em Saúde (Cevs), a paciente está com quadro estável, embora tenha apresentado febre. Todos os seus contatos foram rastreados e passaram por testes — nenhum deu positivo.
Também estava devidamente imunizada contra a covid-19, o que, insiste Cynthia, não coloca em xeque a eficácia das vacinas.
— Uma pessoa vacinada pode pegar, transmitir e apresentar sintomas, e isso não invalida a vacina — explica.
Para a epidemiologista, existe a vantagem de a variante chegar alguns dias depois de começar a se espalhar pela Europa, o que permite que os cientistas analisem o cenário de lá para projetar o que pode acontecer aqui. No Brasil, apesar de quase não haver mais restrições às atividades, a população ainda mantém o uso das máscaras — o que deixou de ser exigido em muitos países.
— Lá (na Europa), eles estavam em um momento de relaxar cuidados. Aqui, em nenhum momento chegamos nesse grau de relaxamento. Só agora estávamos discutindo sobre tirar a máscara, e isso pode segurar um "boom" de novos casos (com a variante)— diz.
Outro ponto a favor é que, segundo Cynthia, o Brasil apresenta uma boa cobertura vacinal. De acordo com dados do Ministério da Saúde, 63% da população está com o esquema vacinal completo, enquanto 74,8% tomou a primeira dose.
— Na Europa, existem movimentos anti-vacina muito organizados. Aqui, as pessoas apenas procrastinam a vacinação — alega a especialista.
Segundo o virologista Fernando Spilki, professor da Feevale e coordenador da Rede Corona-ômica do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), a Ômicron vem quando praticamente não existe mais a circulação da variante de Manaus, responsável por uma piora da pandemia no país no último verão, apenas a Delta. Resta saber se a cepa é capaz de provocar uma nova onda de contágios quando boa parte das pessoas está imunizada.
— As pessoas têm que ter cautela. Temos confirmação de um surto que se alastra muito rapidamente na região em que a Ômicron se originou, e que há um número crescente de internações A cautela, sem pânico, é necessária — pede Spilki.
Cynthia observa que, na Europa, há um aumento crescente de novos casos de contágio, embora as pessoas não estejam ficando doentes o suficiente para serem internadas — o que pode ser positivo, embora seja cedo para afirmar.
— Pode ser uma combinação de população vacinada com um vírus de comportamento diferente, mas ainda precisamos de tempo para entender — diz.