Com a inclusão de crianças de cinco a 11 anos na vacinação contra a covid-19, após aval da Anvisa para uso da Pfizer nesse público, o Brasil poderá vacinar 93% de toda a população, segundo estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Conforme dados do órgão, há 20,4 milhões de crianças entre cinco e 11 anos no país – destas, 970 mil no Rio Grande do Sul. Com a permissão de uso da Pfizer nos menores, o Brasil agora aumentaria a população vacinável para 198,6 milhões de pessoas. Ficariam de fora pouco mais de 14,7 milhões de crianças abaixo dos cinco anos.
O epidemiologista e diretor da Vigilância em Saúde da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), Fernando Ritter, destaca que, a partir de agora, Porto Alegre está apta a incluir 120 mil crianças na vacinação e imunizar 90% de toda a população da cidade.
– A gente trabalha com 90% de toda a população vacinada para a imunidade coletiva sonhada. É um índice bem positivo para uma imunidade coletiva robusta – afirmou Ritter.
O maior controle da transmissão da covid-19 é um dos grandes ganhos para os brasileiros com o aval da Anvisa para vacinar crianças. Médicos destacam que o entendimento inicial de que crianças não pegam coronavírus já caiu por terra: de fato os pequenos raramente têm casos graves, mas hoje se sabe que pegam o vírus e o transmitem para outros.
O médico Fabiano Ramos, chefe da Infectologia do Hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), destaca o maior controle da epidemia gerado com a vacinação de crianças.
— A doença grave é mais rara em crianças, mas a proteção é importante. E isso pode ter um impacto no sentido de diminuir a transmissão entre adultos, especialmente para quem tem baixa imunidade ou doença crônica — diz Ramos.
Com a chegada ao Rio Grande do Sul da variante Ômicron, altamente transmissível, elevar ainda mais o número de pessoas vacinadas ajuda a bloquear a cadeia de transmissão do vírus, destaca Clécio Homrich, professor de Pediatria na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e médico pediatra no Hospital de Clínicas de Porto Alegre.
– Quando se fala de saúde pública, temos uma proteção mais robusta à medida em que se aumenta a cobertura vacinal. E aí temos mais redução de casos, hospitalizações e mortes. A partir dos cinco anos, quando vai para a escola, a criança tem sintomas menos expressivos. No Brasil, a gente tem escolas com dificuldade de controlar se crianças usam ou não máscaras ou se estão distantes no lanche. Crianças adoecem mais raramente, mas adoecem, sim, e podem transmitir para adultos mesmo não tendo sintomas – destaca o pediatra.
Proteção
Para além de evitar casos de internação por covid, a vacina evita a síndrome inflamatória multissistêmica pediátrica (SIM-P), uma doença rara que surge na esteira do vírus, lembra o médico Juarez Cunha, membro do Comitê de Infectologia da Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Sul e presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).
Ele destaca a responsabilidade de pais e responsáveis em vacinarem as crianças.
– As pessoas mais oneradas continuam sendo idosos e pessoas com comorbidades, mas, em 2021, tivemos um acometimento de outras faixas etárias, incluindo adultos jovens, adolescentes e crianças. No Brasil, tivemos mais de 2,5 mil óbitos de crianças e adolescentes por covid durante toda a pandemia, sendo 1,4 mil só em 2021. Foram mais de 20 mil internações por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) em crianças. Se há uma ferramenta efetiva e segura, temos que oferecer. Ao vacinar crianças, protejo elas, as famílias e as escolas – alerta Cunha.
A Anvisa ainda deve avaliar o pedido do Instituto Butantan para usar a Coronavac na imunização em crianças e adolescentes de três a 17 anos. Se aprovado, o Brasil poderia vacinar mais 5,88 milhões de crianças de três a quatro anos, não contempladas pela vacina da Pfizer.