O chamado "paciente zero" do coronavírus seria uma mulher, vendedora de frutos do mar no mercado de animais de Wuhan, na China, e não um contador que vivia a quilômetros de distância do local e parecia ter pouca relação com o mercado. Esta é conclusão de um estudo publicado na revista Science nesta quinta-feira (18).
Desde o início da pandemia, especialistas debatem a origem do vírus, na ausência de evidências definitivas. Um relatório conjunto, deste ano, entre a China e Organização Mundial da Saúde (OMS) já havia descartado a teoria de que o coronavírus tenha se originado em um laboratório. A pesquisa apontava que a hipótese mais provável era a infecção natural de humanos, provavelmente por meio do comércio de animais selvagens.
O virologista Michael Worobey, que assina o estudo publicado na revista Science, pertencia a um grupo de 15 especialistas que refutava a história e considerava a hipótese de um vazamento de um laboratório em Wuhan. Essa teoria também foi publicada pela Science, em maio, e aumentou as tensões entre Estados Unidos e China.
Sobre o estudo mais recente, uma série de especialistas, entre eles um investigador destacado pela OMS, afirmaram que o trabalho de Worobey é consistente e endossaram que o primeiro caso conhecido de covid-19 é potencialmente a vendedora de frutos do mar.
Para contornar a primeira publicação, Worobey analisou os casos notificados por dois hospitais antes do alerta ser feito pelas autoridades chinesas em 30 de dezembro de 2019. Porém, esses casos também estão diretamente relacionados ao mercado, e os que não o estão localizam-se ao seu redor.
Agora, destaca Worobey, sua pesquisa "fornece fortes evidências a favor da origem da pandemia a partir de um animal vivo" no mercado de Wuhan.
– Nesta cidade de 11 milhões de habitantes, metade dos primeiros casos está relacionada a um lugar do tamanho de um campo de futebol – ressaltou Worobey em entrevista ao jornal New York Times. – Fica muito difícil explicar essa tendência se a epidemia não tiver começado nesse mercado.
O contador, que foi amplamente considerado a primeira pessoa infectada pelo coronavírus, relatou seus primeiros sintomas em 16 de dezembro, vários dias depois do inicialmente conhecido, segundo Worobey. O estudo aponta que a confusão foi causada por um problema dentário que ele teve em 8 de dezembro.
Essa dedução deriva de uma entrevista em vídeo encontrada, um caso descrito em um artigo científico e um prontuário médico hospitalar que correspondem a este homem de 41 anos. Assim, o primeiro caso conhecido passa a ser o de uma mulher que adoeceu no dia 11 de dezembro, uma vendedora do mercado.
Questionado pelo New York Times, Peter Daszak, que estava entre os especialistas enviados pela OMS a Wuhan em janeiro de 2021, admitiu que "a data de 8 de dezembro foi um erro".