Morador de Wuhan desde setembro de 2018, o brasileiro Heros Fernandes Martines Paulo, de 23 anos, viu sua rotina mudar ao longo desta semana, diante do aumento significativo na cidade do número de casos de um novo tipo de coronavírus. Capital da província chinesa de Hubei, Wuhan tem um tamanho semelhante a São Paulo, com cerca de 11 milhões de habitantes, e é o epicentro do surto do vírus misterioso, que causa pneumonia.
A província de Hubei já contabiliza 444 pessoas com a doença e ao menos 17 mortes confirmadas. Uma nova morte foi informada nesta quinta-feira (23) na região de Hebei, fora da zona inicial de infecção, totalizando pelo menos 18 óbitos na China. Em todo o mundo, há cerca de 650 casos suspeitos em nove países. Nesta quinta-feira (23), Wuhan teve seus acessos fechados e seu transporte público suspenso.
Segundo Martines, que é paulista e estuda mandarim em uma universidade da cidade chinesa, apesar de os primeiros casos terem sido registrados no final de 2019, a população de Wuhan não tinha dimensão da gravidade do surto até o início desta semana.
— Na segunda-feira (20), eu saí do dormitório da universidade e estava normal, poucas pessoas usando máscara. Depois disso, a imprensa aqui começou a mandar mais notícias e as autoridades a pedirem mais cautela. Na quarta-feira (22), saí novamente e o cenário já era completamente outro, tinha um pouco menos de pessoas na rua, mas quase todo mundo estava usando máscara — relata.
O anúncio do governo chinês de que o transporte público da cidade iria parar e de que Wuhan entraria em quarentena foi feito na madrugada desta quinta-feira e aumentou o nível de preocupação entre os moradores.
— Quando acordei, fui bombardeado com vídeos nos grupos de estudantes e estrangeiros aqui, pessoal mostrando filas enormes nos supermercados, foram abastecer, com medo de ficar sem nada — conta o brasileiro.
Martines, então, resolveu também ir ao mercado que fica dentro de sua universidade. Quando chegou, o local estava lotado, mesmo com as ruas estando vazias. Produtos como frutas, verduras e legumes já tinham esgotado. Para garantir sua subsistência, o estudante comprou uma boa leva de itens como macarrão, água e bolacha, que levam mais tempo para perecer.
Ainda que a população esteja usando máscaras e haja intensa busca por abastecer a despensa, Martines avalia que, de modo geral, os moradores da cidade chinesa mais citada do momento estão calmos e seguindo as recomendações feitas pelo governo. O brasileiro recebe mensagens SMS das autoridades com atualizações e orientações e, como mora em um dormitório da universidade, recebe notícias também de seus professores.
O fato de parte da população estar em férias de inverno ou em recesso, em virtude do feriado do Ano Novo chinês, celebrado no dia 25 de janeiro, contribui com a manutenção da serenidade. Entretanto, algumas mudanças já estão sendo planejadas: as férias estudantis, por exemplo, que terminariam na segunda semana de fevereiro, serão prolongadas, sem data para terminar.
— Meus pais estão meio preocupados, mas não estão demonstrando muito, até porque não tem o que fazer — comenta Martines.