Diante dos casos de novo coronavírus na China, o Ministério da Saúde divulgou uma recomendação nesta quinta-feira (23) para que equipes de saúde fiquem alertas a casos de pessoas com sintomas respiratórios e que apresentam histórico de viagens a áreas de transmissão ativa do vírus.
Na quarta-feira (22), a pasta ativou um centro de operações de emergência para monitorar possíveis casos suspeitos. O centro, que é formado por técnicos especializados em resposta a possíveis emergências de saúde pública, foi ativado em nível um, o que indica um alerta inicial, visando a preparação da rede há três níveis possíveis. A previsão é de que haja reuniões diárias para acompanhamento da situação.
Até o momento, ao menos cinco casos chegaram a ser informados como suspeitos por secretarias estaduais de saúde. O ministério, porém, afirma que todos foram descartados por não se enquadrarem nos critérios definidos pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para definição de suspeita da doença.
— Nesse momento, não temos nenhum caso suspeito de coronavírus no Brasil pelo critério da OMS — afirma o diretor do departamento de doenças transmissíveis do ministério, Julio Croda.
O ministério enquadra como casos suspeitos aqueles de pessoas que apresentarem sintomas respiratórios, como febre, tosse e dificuldade para respirar, além de histórico de viagens a áreas de transmissão ativa do vírus nos últimos 14 dias antes do início dos sintomas.
Atualmente, apenas Wuhan, na China, está nesta lista, de acordo com a OMS. Caso seja detectada transmissão ativa em mais locais, a lista poderá ser atualizada.
A recomendação do ministério a equipes de saúde ocorre após a secretaria de saúde de Minas Gerais divulgar ter identificado um caso suspeito de coronavírus. O caso é de uma paciente de 35 anos que apresentou sintomas respiratórios após voltar de viagem da China. O Ministério da Saúde, porém, afirmou que o caso não se enquadra nessa definição, uma vez que a paciente não esteve na região de Wuhan, mas em Xangai, e não relata ter tido contato com pessoas com sintomas.
A divulgação, assim, visa reforçar o conceito que deve ser adotado junto às demais secretarias. Segundo Croda, não há recomendação para fazer testagem de rotina para coronavírus para casos que não se enquadram como suspeitos. Estados, porém, têm autonomia para decidir adotar medidas próprias.
Croda disse que a descoberta do novo coronavírus exige atenção, mas não há motivo para um "pânico desnecessário". Questionado sobre a avaliação de risco, ele afirma que ainda não há uma resposta clara:
— No momento atual, com os fatos que foram reportados pela OMS, só existe transmissão em familiares e profissionais de saúde. Portanto ele se comporta como outros vírus coronavírus, com transmissão limitada.
Ele afirma, porém, que essa avaliação poderá mudar a partir de novas evidências, uma vez que o vírus passou por uma mutação.
— Como o vírus sofreu uma mutação, não sabemos ainda se a transmissão é mais limitada ou se pode adquirir uma habilidade maior de transmissão, como da influenza. Se for identificado uma transmissão mais importante de pessoas que não são familiares, isso acende um alerta da OMS, que pode declarar uma emergência.
A previsão é que a OMS faça uma nova reunião para avaliar o caso nesta quinta-feira (23).
Esclareça suas dúvidas sobre o coronavírus
O que é?
O coronavírus é uma família de vírus que causa síndromes respiratórias, como resfriado e pneumonia. Versões mais graves do coronavírus causam doenças piores, como a temida Síndrome Respiratória Aguda Grave (Sars, sigla em inglês), responsável pela morte de mais de 600 pessoas na China e em Hong Kong entre 2002 e 2003. A versão de vírus que circula agora é uma espécie nova, desconhecida da comunidade médica, e o medo é de uma pandemia global.
Quais os sintomas?
Dentre os possíveis sintomas estão febre, dor, dificuldade para respirar, tosse, diarreia e pneumonia.
O vírus é transmitido facilmente?
Segundo o Centro para Vigilância e Prevenção de Doenças (CDC), equivalente dos Estados Unidos à Anvisa, não está claro se o novo coronavírus é transmitido facilmente ou não. Outra pergunta em aberto é: para transmitir, é preciso estar doente ou apenas ter o vírus no corpo? A resposta a isso é o que definirá a gravidade do vírus.
Onde surgiu?
Na cidade de Wuhan, na província de Hubei, na China. A metrópole de 11 milhões de habitantes está isolada. Trens e voos foram interrompidos e detectores de febre foram instalados nas estações de embarque e no aeroporto. Nas estradas, a temperatura corporal é medida pelos postos de controle e, para sair da cidade, o transporte não pode ser feito de carro. Para evitar qualquer concentração de pessoas, as autoridades anularam as comemorações do Ano-Novo Lunar chinês na cidade. As autoridades também proibiram qualquer espetáculo e fecharam um museu.
Como surgiu?
O CDC identifica um grande mercado atacadista de peixes e frutos do mar na cidade de Wuhan como a origem das infecções.
Como ele é transmitido?
De animal para pessoa e de pessoa para pessoa. Segundo o governo chinês, o vírus pode se modificar e ser transmitido mais facilmente. O medo é de que a doença ganhe força no país asiático em meio ao feriadão do Ano-Novo Lunar, quando milhões de pessoas viajam pelo país. Segundo o CDC, pessoas mais velhas e doentes parecem ter maior risco.
Como é o tratamento?
Não há tratamento contra o coronavírus em si, apenas contra os sintomas. Pacientes tomam remédio para baixar a febre e podem receber máscara de oxigênio para respirar melhor, por exemplo.
Preciso me preocupar com a chegada do vírus ao Rio Grande do Sul?
Segundo o Ministério da Saúde, não há caso suspeito no Brasil. No Rio Grande do Sul, um possível caso foi descartado.
Quais os cuidados?
Lavar as mãos (sobretudo quem passar por aeroportos), evitar contato dos dedos com mucosas do nariz, olhos e boca. É recomendável usar álcool em gel.
A vacina contra a gripe protege?
Não. Segundo Alexandre Zavascki, chefe da Infectologia do Hospital Moinhos de Vento e professor da UFRGS, o vírus da gripe não é o coronavírus, e sim o influenza. Portanto, a vacina regular tomada antes do inverno não protege.
Onde foi a primeira infecção fora da China?
Na Tailândia, de uma mulher com pneumonia leve que voltou de uma viagem a Wuhan. Logo surgiram informações sobre casos em Japão, Coreia do Sul e Taiwan. Na última terça-feira, foram anunciados um caso na Austrália e outro nos Estados Unidos. Nesta quarta-feira, Brasil e México registraram casos suspeitos.
Por que o nome coronavírus?
Visto de um microscópio, o coronavírus parece uma coroa ou auréola. Em inglês, coroa é "crown".