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Em duas semanas, Ômicron causa aumento de casos na África do Sul, mas sem reflexo proporcional no número de mortes

Especialistas alegam que é preciso esperar mais tempo para se ter noção real do impacto

Marcel Hartmann

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Em meio a uma série de incertezas sobre a variante Ômicron, as estatísticas mostram que, nas primeiras duas semanas de dispersão, a nova variante causou aumento de novos casos de covid-19 na África do Sul sem reflexo proporcional em crescimento de mortes. Especialistas destacam que é preciso aguardar mais tempo para checar o impacto a médio e longo prazo.

A Ômicron foi rastreada pela primeira vez no país em novembro. Na primeira quinzena do mês, correspondia a 29% das amostras sequenciadas. Na segunda metade, já havia saltado para 90% de todas as coletas. Os dados são do portal Covariants.org, mantido pela Universidade de Berna, na Suíça.  

A média móvel de casos saltou em duas semanas, de 290 por dia em 16 de novembro para 4.786 nesta segunda-feira, aumento de 1.550%, de acordo com estatísticas do Our World in Data. Todavia, a média móvel de novas mortes foi de 16,7 para 34 no mesmo período, crescimento de 103,5%. 

A cobertura vacinal na África do Sul é baixa: 24% da população com duas doses. Médicos do país afirmam à imprensa local que o aumento de hospitalizações é parecido ao de surtos por outras cepas.

— Precisamos olhar ao longo do tempo e ver que faixas etárias foram mais atingidas. Sabemos que houve um grande número de jovens analisados inicialmente. Há o tempo para a pessoa se infectar e ir a óbito. Com a variante Gama no Rio Grande do Sul, tivemos um período de 21 dias entre início da subida de casos e o início de mortes — comenta o virologista Fernando Spilki, coordenador da Rede Corona-ômica do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. 

A vigilância genômica no continente africano, com a exceção de poucos países, como a África do Sul, é falha, o que impede análise sobre a dispersão da Ômicron em outras nações. Até o momento, já foi detectada em 18 países, incluindo o Brasil, segundo o site Gisaid, que compila dados de vigilância genômica ao redor do mundol.

Velocidade

Na África do Sul, o avanço da Ômicron levou menos de um mês, velocidade muito maior do que a Delta, que levou quase quatro meses para atingir 90% das amostras sequenciadas. 

— Isso indica que a Ômicron é bastante transmissível. Dá para dizer que a média de novas mortes não aumentou tanto quanto a média de novos casos, o que talvez indique que essa variante não seja tão deletéria, mas é pouco o número de dias e de casos — afirma Afonso Barth, coordenador do Laboratório de Diagnóstico de Covid-19 do Hospital de Clínicas de Porto Alegre e professor da UFRGS. 

Ele acrescenta que a expectativa da comunidade científica é de que as vacinas atuais ofereçam proteção contra os casos mais graves.

 — Por mais que o vírus consiga fugir dos anticorpos produzidos pela vacina, existe a resposta imune celular, que ainda poderia debelar o processo de infecção. O Brasil atrasou a vacinação. Se isso foi ruim no início, agora temos uma população vacinada há menos tempo e, portanto, com nível de anticorpos maior. Muitas pessoas estão recebendo agora a terceira dose, então estão com resposta de anticorpos bem apta. O percentual de vacinados e essa vacinação tardia podem ajudar a ter menor circulação dessa variante — afirma Barth. 

O médico Alessandro Pasqualotto, chefe do setor de Infectologia da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, diz que é cedo para dizer se a Ômicron é mais transmissível e propõe a seguinte reflexão: uma variante surge em regiões onde muitas pessoas estão sendo infectadas. Se há aumento de casos, a culpa é da nova variante ou é resultado do prévio descontrole da doença?

— O surgimento de nova variante pode ser produto do descontrole em um local com baixa vacinação. Se os humanos não vacinados estão aglomerando, há maior transmissão. Teríamos que isolar o comportamento humano dessa equação. É razoável acreditar que ela não aumente o número de mortes de modo significativo. A Delta explodiu no Brasil e não teve consequência maior. O que vale é reforçar a vacinação — diz o médico infectologista, professor na Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA). 

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