O Rio Grande do Sul está entre os 10 Estados brasileiros com menor proporção de pessoas que já deveriam ter buscado a segunda dose de vacina contra a covid-19, mas não o fizeram, mostra painel da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) com base em dados do Ministério da Saúde. Ao mesmo tempo, é a pior taxa da Região Sul.
Estatísticas compiladas até 15 de setembro apontam que, dentre os gaúchos vacinados com a primeira dose, 7,5% poderiam ter buscado a segunda aplicação, mas ainda não foram e, portanto, não estão plenamente imunizados - abaixo da média de atraso nacional, de 11%. Em números brutos, mais de 255 mil gaúchos poderiam ter completado o esquema vacinal.
O melhor desempenho é no Rio Grande do Norte, onde apenas 5,4% dos aptos para a segunda dose ainda não a tomaram. A pior realidade é no Ceará, onde a taxa de atraso é de 33%, como mostra o infográfico a seguir.
Na mesma tendência do resto do Brasil, a CoronaVac é a vacina com mais pessoas com a segunda dose atrasada no Rio Grande do Sul (32,4% das pessoas que receberam a primeira dose poderiam já buscar a segunda). Depois, AstraZeneca (8,7% de taxa de atraso) e, por último, Pfizer (0,5%).
Campanhas de vacinação nas quais é preciso aplicar mais de uma dose costumam ter adesão menor conforme sejam necessárias mais injeções. Portanto, o atraso no Brasil e no Rio Grande do Sul está dentro da normalidade, afirma o médico Juarez Cunha, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).
— São taxas de atraso que estão dentro do esperado, pensando em toda a logística necessária. Estamos com números muito bons de primeira e segunda dose no Rio Grande do Sul, mas ainda assim é muito importante buscar esses atrasados. Em Porto Alegre, vimos que muitos fazem parte de populações mais vulneráveis com dificuldades de acesso — analisa Cunha.
Quase 75% de todos os habitantes do Rio Grande do Sul receberam a primeira dose e 49% completaram o esquema vacinal, de acordo com estatísticas desta quinta-feira (30) da Secretaria de Estado da Saúde (SES-RS). É a terceira maior cobertura vacinal de segunda dose entre todas as unidades da Federação, segundo o Portal Covid-19 no Brasil.
Tani Ranieri, chefe da Divisão de Vigilância Epidemiológica do Centro Estadual de Vigilância em Saúde (Cevs), destaca a alta cobertura vacinal do Rio Grande do Sul e cita que há engajamento com os municípios para procurar atrasados na segunda dose.
Ela cita que o governo do Estado mapeia cidades com menor cobertura vacinal para auxiliar na busca ativa e que chegou a compilar nominalmente gaúchos imunossuprimidos que ainda não buscaram a segunda dose.
— É importante que todos os municípios olhem para suas coberturas vacinais considerando diferentes pontos de sua cidade para identificar áreas com menor cobertura e fazer estratégias mais direcionadas. Fazemos isso levantando no banco de dados os municípios com maior atraso — diz Tani.
O maior atraso da CoronaVac, sugere Tani, pode estar relacionado à desinformação que circula sobre o imunizante. Já o atraso com a AstraZeneca pode estar ligado ao receio de quem passou por algum efeito colateral da vacina — entre os mais comuns, estão febre, dor no corpo e cansaço.
Porto Alegre está entre capitais com maior atraso
Em Porto Alegre, dados até 15 de setembro mostram que a taxa de atraso é de 9,3% — está entre as 10 mais altas entre todas as capitais do Brasil. É uma realidade abaixo da média nacional, mas acima da média do Rio Grande do Sul, de 7,5%.
Dados do Ministério da Saúde mostram que 38.866 pessoas em Porto Alegre deveriam ter tomado a segunda dose, mas ainda não o fizeram. Destas, mais da metade recebeu CoronaVac (24.281), outras 13.066 recebeu AstraZeneca e 1.519, Pfizer.
Juarez Cunha, presidente da SBIm, afirma que a cobertura vacinal de Porto Alegre é alta e que cidades que aplicam muitas primeiras doses acabam tendo, também, maior número de habitantes com segunda aplicação atrasada. Ele compara a capital gaúcha a Curitiba, com a menor taxa de atraso vacinal do país: 3,3%.
— Com certeza temos números bem melhores de cobertura vacinal do que Curitiba. Quanto mais primeira dose aplicada, maior o percentual de atraso de segunda dose. Estamos aplicando mais a segunda dose hoje — diz o médico.
A prefeitura de Porto Alegre contesta os dados e diz que as estatísticas analisadas pela Fiocruz estão atrasadas — diferenças entre os dados de prefeituras e do Ministério da Saúde existem desde o início da pandemia, de forma que a variação afeta todos os municípios.
Diretora da Atenção Primária à Saúde da prefeitura de Porto Alegre, Caroline Schirmer pontua que os dados mais atualizados mostram que 19 mil pessoas estão com a segunda dose de CoronaVac atrasada em Porto Alegre — 5 mil a menos do que o apontado pela Fiocruz.
Com AstraZeneca, são 15,1 mil pessoas com segunda dose atrasada — 2 mil a menos. Já com a Pfizer são 9 mil atrasados, acima do compilado pela Fiocruz, porém a prefeitura de Porto Alegre usa intervalo menor para a segunda aplicação, de oito semanas.
— Esse atraso na segunda dose está superestimado e não reflete a realidade. Muitos pacientes já tomaram a segunda dose, mas ela não está registrada no sistema. Fazemos a busca ativa para confirmar e, caso a pessoa não tenha tomado, agendamos ou indicamos a unidade básica de saúde mais próxima — destaca.
A diretora da Atenção Primária à Saúde da capital gaúcha destaca estudo da Secretaria Municipal da Saúde (SMS) mostrando que a maior parte dos não vacinados vive em bairros periféricos. Entre motivos citados para não buscar a segunda dose, estão distância em relação ao lar, dificuldade de conciliar horários e falta de dinheiro para ônibus.
Para solucionar o problema, o Rolê da Vacina levar tendas de aplicação a bairros com menor cobertura, para além dos 55 pontos de aplicação de segunda dose espalhados por Porto Alegre e dos postos de saúde com atendimento noturno, cita Caroline. Os atrasos em envio da CoronaVac, registrados ao longo do ano, também prejudicaram o esquema vacinal completo, observa.
— Há pessoas que foram ao posto, não encontraram vacinas e não voltaram mais. São essas pessoas que encontramos no Rolê da Vacina. No dia do Gre-nal da vacinação, a maior parte das vacinas aplicadas foram segundas doses, e muitas atrasadas. Estamos fazendo a busca ativa — pontua Caroline.