Um estudo realizado no Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) evidenciou que células natural killer (NK, ou, em português, "assassinas naturais"), que fazem parte dos glóbulos brancos e atuam na defesa do organismo, conseguem destruir células cancerígenas, como no caso da leucemia mielóide aguda. A pesquisa foi conduzida pela professora Lucia Silla da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e envolveu 13 pacientes do Serviço de Hematologia do HCPA, que tiveram resposta positiva ao tratamento.
Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), a leucemia é uma doença maligna dos glóbulos brancos, geralmente, de origem desconhecida. A principal característica é o acúmulo de células doentes na medula óssea, que substituem as células sanguíneas normais. Conforme o órgão, mais de 10 mil pessoas foram diagnosticadas com a doença no ano passado em todo o Brasil. A leucemia mielóide aguda é um dos tipos de câncer mais agressivos.
As células “assassinas” são retiradas de doadores, normalmente de familiares, e postas em cultura antes de serem injetadas na corrente sanguínea do paciente. Este tipo especial de célula tem a capacidade natural de identificar outras células infectadas ou com tumores e destruí-las - por isso o nome “assassinas”.
Na prática, é como se uma tropa de elite imunológica de um indivíduo recebesse uma missão especial, passasse um tempo se fortalecendo (em cultura) e depois ingressasse no campo de batalha de um outro organismo para destruir o câncer. Nos voluntários da pesquisa, realizada no Centro de Processamento Celular Avançado do HCPA, foi observada a remissão da leucemia mielóide após o tratamento.
— O resultado foi surpreendente, 78% dos pacientes responderam ao tratamento. Eram pacientes terminais, que tinham sido submetidos ao transplante de medula óssea e a doença tinha retornado mesmo assim, comemora a líder da pesquisa, professora da Faculdade de Medicina da UFRGS, Lucia Silla.
Depois de passar por todas as verificações da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), será construído um protocolo para o uso das células "assassinas" em pacientes com leucemia, no Sistema Único de Saúde (SUS), em todo o Brasil. Também após aprovação da Anvisa, será realizada uma nova pesquisa com a mesma célula em pacientes infectados pelo covid-19.
Esse é o primeiro estudo usando essa tecnologia no mundo. A pesquisa completa pode ser conferida no site da plataforma PubMed, da Biblioteca Nacional de Medicina dos Estados Unidos.