O Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) recruta voluntários para dois estudos patrocinados pela Pfizer para investigar os efeitos de um possível novo remédio contra a covid-19 a ser usado nos primeiros dias depois do diagnóstico — o objetivo é evitar a piora até hospitalização.
As pesquisas estudarão o impacto de uma substância desenvolvida pela Pfizer, chamada de PF-07321332, aliada ao remédio ritonavir, uma droga que faz parte do coquetel antiviral usado contra o HIV. Um dos estudos convoca não vacinados e outro, pessoas já imunizadas. Em ambos os grupos, os voluntários precisam ter sintomas de coronavírus nos primeiros dias depois do diagnóstico — portanto, não podem estar hospitalizados.
O ritonavir é um remédio que “reforça” a atuação da molécula PF-07321332 — as primeiras etapas do estudo sugerem que essa substância evita a replicação do Sars-Cov-2, explica o responsável pelos dois estudos, o médico Eduardo Sprinz, chefe do setor de Infectologia do HCPA e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
— A PF-07321332 é um inibidor de protease, e a protease é uma das enzimas envolvidas na replicação do vírus. Não sabemos qual vai ser o impacto dessas intervenções, mas a gente espera que diminuam as chances de hospitalização e a transmissibilidade — afirma o infectologista.
Interessados que se enquadrem nos perfis citados podem contatar a equipe de pesquisa pelo telefone: (51) 3359-6281 ou pelo e-mail c467@hcpa.edu.br. Segundo o site Clinical Trials, o estudo será conduzido em diversas instituições brasileiras, como a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e o Hospital Emilio Ribas, em São Paulo.
O HCPA também foi escolhido e deve iniciar nas próximas semanas uma terceira análise que avaliará o uso daa PF-07321332 com o ritonavir como profilaxia pós-exposição - isto é, para familiares que entraram em contato com alguém que teve covid-19 confirmada na residência.
Contatada pela reportagem, a Pfizer enviou nota na qual destaca que, com o contínuo impacto da covid-19 no mundo, é necessário buscar remédios para pacientes que entrem em contato com o vírus. A farmacêutica cita que, caso a pesquisa tenha resultado positivo, a combinação pode conter a piora da doença.
Células-tronco contra covid-19
Nos próximos dois meses, o Hospital de Clínicas ainda deve recrutar voluntários para outro estudo, financiado pelo Ministério da Saúde em parceria com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, para analisar o efeito de células-tronco contra a covid-19, explica Lucia Silla, coordenadora do Centro de Terapia Celular da instituição e professora da Faculdade de Medicina da UFRGS.
A pesquisa investigará se o uso de um tipo específico de célula-tronco, chamada de tronco mesenquimal, pode ter efeitos anti-inflamatórios e regenerativos a ponto de evitar que pacientes com coronavírus em estado grave, internados em emergências e leitos de enfermaria, piorem para estado gravíssimo a ponto de necessitarem de tratamento em Unidades de Terapia Intensiva (UTI). Hoje, esse tipo de célula-tronco é autorizado na Europa como remédio para reduzir a inflamação ocasionada na rejeição a transplantes de medula óssea, cita Silla.
— O paciente morre de covid porque não consegue montar a tempo uma resposta imunológica adequada. É como se ele acendesse uma fogueira que causa uma inflamação pulmonar sem controle. A lógica do tratamento com a célula-tronco mesenquimal é diminuir essa resposta inadequada. Ela é injetada na corrente sanguínea e atraída para o local da inflamação. Ao chegar, liga dispositivos anti-inflamatórios e ainda é capaz de estimular as células pulmonares ou as células inflamadas a regenerarem o tecido — resume a médica.