Em um cenário onde os números apontam para um quadro de estabilidade nos casos de covid-19 e de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) no país, o que dá indícios de arrefecimento da pandemia, o Boletim do Observatório Covid-19 Fiocruz, divulgado nesta sexta-feira (1º), aponta o passaporte vacinal como uma importante estratégia para estimular e ampliar a vacinação no Brasil. Ao defender a adoção dessa iniciativa em todo o território nacional, o documento destaca o princípio do ponto de vista da saúde pública de que “a proteção de uns depende da proteção de outros e de que não haverá saúde para alguns se não houver saúde para todos”.
No Rio Grande do Sul, o governo do Estado liberou pistas de dança, ampliou o número de público de eventos e também a presença de público nos estádios, mas mediante apresentação do comprante de vacinação contra covid. Em todo o país, quase 250 cidades já adotaram a medida que é fortemente criticada pelo presidente Jair Bolsonaro.
Na visão dos pesquisadores do Observatório, responsáveis pelo Boletim, é importante que sejam elaboradas diretrizes em nível nacional sobre o passaporte de vacinas, de modo a evitar a judicialização do tema, como já aconteceu na cidade do Rio de Janeiro, criando um cenário de instabilidade e comprometendo os ganhos que vêm sendo adquiridos com a ampliação da vacinação.
– Reforçamos, portanto, que esta estratégia é central na tentativa de controle de circulação de pessoas não vacinadas em espaços fechados e com maior concentração de pessoas, para reduzir a transmissão da covid-19, principalmente entre indivíduos que não possuem sintomas – afirmam.
Os cientistas destacam ainda que a equidade, assim como a universalidade e a integralidade, são os princípios basilares do Sistema Único de Saúde (SUS) no seu papel de garantir a saúde como um direito fundamental, cabendo ao Estado o dever de garantir a saúde através de políticas sociais e econômicas, como, por exemplo, o passaporte de vacinas.
– A redução do impacto da pandemia de modo mais duradouro somente será alcançada com a intensificação da campanha de vacinação, a adequação das práticas de vigilância em saúde, reforço da atenção primária à saúde, além do amplo emprego de medidas de proteção individual, como o uso de máscaras e o distanciamento social”.
Incidência
Referente às Semanas Epidemiológicas (SE) 37 e 38, o Boletim reforça que os avanços na vacinação vêm contribuindo para um cenário positivo.
De acordo com a análise, há redução nos números absolutos de internações (-27,7%) e óbitos (-42,6%). Contudo, o quadro atual mostra que, uma vez que a população vem sendo beneficiada de forma mais homogênea com a vacinação, o grupo de idosos se consolida como mais representativo entre os casos graves e fatais, com 57% das internações e 79% dos óbitos. A faixa etária acima de 60 anos já começou a receber a terceira dose, podendo ser aplicada após seis meses da segundo injeção.
O fato é que apesar da queda dos indicadores, o momento ainda exige cuidado. A análise da SRAG, que também integra o Boletim, observa que mesmo com a redução de incidência nas semanas anteriores, a grande maioria dos Estados encontra-se ainda em níveis altos ou muito altos, acima de um caso por 100 mil habitantes. Isso, segundo os cientistas, evidencia a necessidade de atenção, com ações de vigilância em saúde para evitar estes casos graves, com sintomas que levam a hospitalização ou a óbito.