Prevista para iniciar na próxima quarta-feira (14), a distribuição de doses de vacinas contra a covid-19 da Pfizer recebidas pela Secretaria Estadual da Saúde (SES) nesta segunda-feira (13) deve alcançar, além de idosos e pessoas com baixa imunidade, os adolescentes de 17 anos sem comorbidades. Conforme a pasta, serão entregues imunizantes para aproximadamente 50% desta população em todo o Estado, ou seja, cerca de 76 mil doses têm como destino os adolescentes do Rio Grande do Sul.
Segundo especialistas ouvidos por GZH, a imunização deste grupo representa um marco importante no Programa Nacional de Imunizações (PNI) e tem impacto relevante no controle da pandemia. Conforme explica o infectologista Paulo Ernesto Gewehr Filho, do Hospital Moinhos de Vento, a proteção dos menores de 18 anos é essencial para que se atinja a tão esperada imunidade de rebanho.
— As estratégias de enfrentamento de doenças infecciosas que acometem várias faixas etárias passam pela vacinação de adolescentes e crianças. Como a transmissibilidade da variante Delta é muito grande, vamos conseguir atingir a imunidade de rebanho que as análises atuais falam, de 80%, 90% da população, vacinando esses grupos — explica.
Para o médico e professor de Infectologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Alexandre Zavascki, apesar de os adolescentes adoecerem com menor frequência quando comparados a outros grupos, sua imunização representa uma medida de controle.
— Os jovens estão indo a escolas, faculdades, bares, atividades de lazer. Nada melhor do que eles estejam com alguma proteção para si, também reduzindo a transmissão para os outros. Seguimos em uma tendência de declínio (de casos) e a extensão da vacinação tende a manter isso — avalia o especialista.
Neste final de semana, o Estado registrou o menor número de óbitos notificados por covid-19 em 15 meses. Foram, ao todo, 28 óbitos somando o sábado (11) e o domingo (12). Essa redução, conforme Zavascki, está vinculada ao aumento da vacinação, que, alcançando idades diferentes, tende a atingir novos focos de transmissão.
De acordo com o chefe do Serviço de Infectologia do Hospital São Lucas da PUCRS, Fabiano Ramos, a chegada da vacina em um novo grupo significa avanço, mas é preciso reforço na campanha de imunização de adultos que ainda não receberam a proteção.
— Vemos um grande número de pessoas se vacinando todos os dias, mas é impressionante a quantidade de gente que ainda não foi se vacinar. Isso é preocupante — diz Ramos.
O painel de monitoramento da Secretaria Estadual da Saúde (SES) indica que 21% dos gaúchos entre 18 e 24 anos ainda não têm registro da primeira dose, ou pouco mais de 241 mil pessoas — o equivalente a uma cidade do porte de São Leopoldo, por exemplo. O problema é mais acentuado na faixa até 19 anos: um quarto dessa população não tem notificação de vacina, patamar que chega a um terço em cidades como Porto Alegre.
Chefe do Serviço de Infectologia da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, Alessandro Pasqualotto ressalta que os adolescentes não são apenas vetores de transmissão, podendo também demandar cuidados intensivos. Ele explica que, conforme a vacinação avança entre idosos e adultos, o coronavírus acaba procurando hospedeiros mais suscetíveis, ou seja, não imunizados.
— Antes não víamos tantas crianças e adolescentes adoecendo como agora. É natural que isso ocorra, que o vírus procure hospedeiros menos protegidos. Por isso essa ampliação de faixa etária é tão importante — explica.
Conforme o médico Eduardo Sprinz, chefe da Infectologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), vacinar adolescentes não significa necessariamente chegar ao fim da pandemia, mas indica uma luz no fim do túnel, especialmente porque a quantidade de imunizantes disponibilizados permite que diferentes faixas etárias sejam atendidas.
— O Brasil está tendo agora a chance de mostrar a capacidade vacinal que tem, que é gigantesca. Com mais grupos imunizados temos mais força para controlar a infecção, e esse é o primeiro passo para sonharmos em erradicá-la — projeta.