Hospitais de Porto Alegre, públicos e privados, estão encontrando dificuldades para adquirir no mercado imunoglobulina – substância presente no plasma do sangue e usada como uma forma de repor anticorpos e com efeito em inflamações. Levantamento realizado por GZH nesta segunda-feira (13) apontou que seis das principais instituições da Capital enfrentam escassez do medicamento e problemas para renovar o estoque.
A imunoglobulina é utilizada para o tratamento de várias doenças como tétano, rubéola, gripes e, recentemente, na recuperação pó-covid. Na regulação do sistema imunológico, ela é essencial no tratamento de doenças neurológicas, como a síndrome de Guillain-Barré, neuropatias, doença de Kawasaki e trombocitopenia imune, entre outras.
Os hospitais do Grupo Hospitalar Conceição (GHC) possuem uma quantidade de imunoglobulina disponível para durar pelos próximos 10 ou até 15 dias. A instituição, até o momento, não tem previsão de conseguir adquirir a substância.
Já os hospitais da Santa Casa de Porto Alegre não possuem uma estimativa de duração do estoque, mas confirmam que as entregas se mantêm intermitentes e em quantidade inferior ao que é necessário para o atendimento completo dos pacientes.
A situação é semelhante no hospital Moinhos de Vento. De acordo com a instituição, há um desabastecimento no mercado dos hemoderivados e, consequentemente, uma queda da oferta de imunoglobulina. Neste momento, os estoques da instituição estão baixos, porém monitorados e seguindo protocolos de utilização.
No hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), a escassez do medicamento também acontece, mas a projeção de duração do estoque é de 30 dias. As equipes médicas estão reservando o uso da substância somente para casos em que não há nenhum outro tratamento disponível.
– Está muito difícil de conseguir o medicamento no mercado e, quando encontramos, é em pouca quantidade, com uma variação de alta no preço de 15 a 35% – afirmou a gerente de suprimentos do São Lucas, Maria Natália Silva de Oliveira.
O Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) também elaborou um plano de contenção para restringir o uso da imunoglobulina.
– Sempre foi um medicamento com instabilidade na compra, por ser um hemoderivado. Mas, agora está realmente muito complicado. É uma substância cara também, com um frasco custando cerca de R$ 1 mil. Então, estamos fazendo o possível para o estoque que temos durar o maior tempo possível, enquanto buscamos alternativas de compra – explicou o coordenador da Comissão de Medicamentos do HCPA, Rafael Scheffel.
O Hospital Mãe de Deus confirmou que ainda possui o medicamento, mas não forneceu mais informações sobre o tempo de duração do estoque.
Fenômeno mundial
A falta de imunoglobulina não se restringe ao Rio Grande do Sul e aos demais Estados brasileiros. A escassez da substância é uma consequência da pandemia, pois, como a produção está ligada à doação de sangue, houve uma redução significativa no desenvolvimento do medicamento no último ano.
– Esperamos que, com o avanço da vacinação, as doações voltem a ocorrer com mais frequência no mundo. A produção de imunoglobulina demora cerca de seis meses para ser encerrada após a realização da coleta do sangue, então, já temos uma previsão dos laboratórios de que a situação deve se normalizar somente em 2022 – ressaltou a gerente de suprimentos do Hospital São Lucas da PUCRS.
Recentemente, a Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge) enviou um ofício ao Ministério da Saúde pedindo medidas para acelerar a importação. A intenção é que o medicamento integre a categoria dos kits de intubação dos pacientes com a covid-19.