Levantamento feito por Zero Hora, na quarta-feira (25), constatou redução no número de doações de sangue no Rio Grande do Sul. A situação é considerada crítica em nove dos 13 centros de doação consultados no Estado. Um dos exemplos é o Hemocentro do Estado do Rio Grande do Sul (Hemorgs), em Porto Alegre, onde a frequência de voluntários diários caiu 75% nas semanas mais recentes.
De acordo com a assistente social do setor de captação do Hemorgs, Roberta Abbad, também especialista em saúde, todos os tipos sanguíneos estão em falta. Porém, como cerca de 40% da população é O positivo, este é um dos sangues mais solicitados, assim como voluntários que sejam O negativo, por serem doadores universais. Além disso, este tipo sanguíneo é usado para as bolsas pediátricas. O Hemorgs atende a 42 hospitais da Região Metropolitana, incluindo o Hospital de Pronto Socorro (HPS) e os hospitais com Unidades de Tratamento Intensivo (UTI) neonatal.
— A baixa de candidatos está nos fazendo enfrentar um momento muito difícil. Precisamos de uma frequência de 120 candidatos/dia para termos 100 bolsas diárias. Nas últimas semanas, porém, estamos tendo de 30 a 40 pessoas, no máximo. O que nos possibilita ter de 20 a 30 bolsas por dia — explica Roberta.
A falta de sangue também atinge o interior do Estado, como no Hemocentro Regional de Pelotas (Hemopel), que está com os estoques 70% abaixo do considerado nível seguro. Faltam, principalmente, os tipos de sangue O e A negativo. O Hemopel abastece três hospitais da cidade e 24 municípios das regiões Sul e da Campanha.
Segundo a Secretaria Estadual da Saúde, a doação de sangue e seu processamento são fundamentais para garantir a disponibilização de componentes sanguíneos aos pacientes que necessitam de transfusão, como vítimas de acidentes, que precisam de cirurgias ou outras situações clínicas.
Conforme o presidente da Associação Médica do Rio Grande do Sul (Amrigs), Gerson Junqueira Jr., o período de inverno é marcado por uma menor oferta de candidatos, agravando a situação dos estoques em todo o Estado. Nesta semana, a entidade realizou uma palestra virtual, com a participação de especialistas, para esclarecer dúvidas sobre os procedimentos relacionados à doação de sangue.
— É um problema crônico e relevante para o sistema de saúde. O cenário é preocupante há bastante tempo, mas ficou ainda pior por conta da pandemia. Por isso, fazemos esse apelo para incentivar a população a tornar a doação uma prática corriqueira — justifica o presidente da Amrigs.
Hábitos
Especialistas ressaltam que toda pessoa em boas condições de saúde pode doar sangue sem riscos ou prejuízos. Para a médica hematologista e hemoterapeuta Mariângela Moschen, também diretora médica da H. Hemo - regional Sul, tornar a doação de sangue um hábito de vida é um grande desafio, principalmente, entre os adolescentes - é possível ser doador a partir dos 16 anos.
— Também é preciso alertar que quem faz no próprio corpo tatuagens, maquiagem definitiva, micropigmentação de sobrancelha e piercing precisa de 12 meses de intervalo para voltar a doar sangue. E este intervalo ocorre porque há risco de contaminação, contrair hepatite, por exemplo, por meio destas intervenções — explica a médica.
Doação
Para ser um doador, o candidato faz um cadastro no local, em seguida passa pela pré-triagem, onde são verificados os sinais vitais (pressão arterial, temperatura e batimentos cardíacos), é pesado e faz teste de anemia. Depois, ele é entrevistado de forma individual e sigilosa antes de fazer a coleta de aproximadamente 450ml de sangue e amostras para a realização dos testes laboratoriais. Na última etapa do processo, o doador recebe um lanche depois da doação e permanece no local por 15 minutos até ser liberado.
Agente de saúde em Butiá, a 80km de Porto Alegre, Helen da Silva Ripoll, 42 anos, se tornou doadora depois de acompanhar o drama do próprio pai, transplantado de rins que necessitou de bolsa de sangue. Ele faleceu há 12 anos, mas ela seguiu na causa.
— Tive outros familiares e amigos que precisaram e pude doar. Como o meu sangue é universal, sempre que precisam, e eu posso, faço questão de ir. Brinco que é uma pena não poder doar dos dois braços para salvar ainda mais vidas — comenta.
Na quarta-feira (25), quando chovia num único dia quase a metade do previsto para o mês de agosto na Capital, Helen e um grupo de doadores saíram de Butiá por volta das 7h rumo a Porto Alegre. Era a data agendada para a segunda doação dela no ano. Helen já deixou a próxima marcada para dezembro, faça chuva ou sol.
INTERVALOS ENTRE AS DOAÇÕES
- Mulheres: período de 90 dias/máximo de 3 doações nos últimos 12 meses.
- Homens: período de 60 dias/máximo de 4 doações nos últimos 12 meses.
O QUE É PRECISO PARA DOAR
- Estar em boas condições de saúde.
- Apresentar documento oficial de identidade com foto.
- Ter idade entre 16 e 69 anos, sendo que os candidatos a doadores com menos de 18 anos deverão estar acompanhados pelos pais ou por responsável legal.
- Pesar no mínimo 50 Kg com desconto de vestimentas.
- O limite de idade para a primeira doação é de 60 anos.
- Não estar em jejum e evitar alimentação gordurosa.
- Ter dormido pelo menos 6 horas antes da doação.
- Não ter ingerido bebidas alcoólicas nas 12 horas anteriores à doação.
- Não fumar pelo menos duas horas antes da doação.
IMPEDIMENTOS TEMPORÁRIOS
- Ter gripe ou febre.
- Gestantes ou mães que amamentam bebês com menos de 12 meses.
- Até 90 dias após aborto ou parto normal e até 180 dias após cesariana.
- Ter feito tatuagem ou acupuntura nos últimos 12 meses.
- Ter exposição à situação de risco para a AIDS (múltiplos parceiros sexuais, ter parceiros usuários de drogas).
- Estar com herpes labial.
- Outros critérios que impedem a doação serão verificados por ocasião da entrevista de triagem.
IMPEDIMENTOS DEFINITIVOS
- Ter tido doença de Chagas.
- Ter tido hepatite depois dos 11 anos de idade.
- Ser portador dos vírus HIV (AIDS), HCV (Hepatite C), HBC (Hepatite B), HTLV.
- Usar drogas injetáveis.
- Usar piercing na língua ou nos órgãos genitais.
- Outros critérios que impedem a doação serão verificados por ocasião da entrevista de triagem.
FONTE: Secretaria Estadual da Saúde (SES)
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