Para ser um doador de sangue, o candidato faz um cadastro no local, em seguida passa pela pré-triagem, onde são verificados os sinais vitais (pressão arterial, temperatura e batimentos cardíacos), é pesado e faz teste de anemia.
Depois, ele é entrevistado de forma individual e sigilosa antes de fazer a coleta de aproximadamente 450ml de sangue e amostras para a realização dos testes laboratoriais. Na última etapa do processo, o doador recebe um lanche depois da doação e permanece no local por 15 minutos até ser liberado.
Levantamento feito por Zero Hora, na quarta-feira (25), constatou redução no número de doações de sangue no Rio Grande do Sul. A situação é considerada crítica em nove dos 13 centros de doação consultados no Estado.
Enquanto os hemocentros buscam novos doadores, aqueles que já são voluntários não medem esforços para ajudar quem precisa de sangue.
Abaixo, confira as histórias e os motivos que levaram gaúchos de diferentes partes do Estado a se tornarem doadores de sangue:
Grupo de doadores é referência no Sul do país
Doador de sangue ativo desde 1984, o metalúrgico aposentado e ex-vereador Manoel Rosa, 66 anos, de Butiá, decidiu mobilizar a cidade de 20 mil habitantes em prol da causa. Em 2003, fundou o Grupo de Doadores Voluntários de Sangue (GDVS), que hoje conta com mais de 400 voluntários inscritos e é uma referência no Sul do país.
Ao longo dos 12 meses, são feitos galetos e rifas para arrecadar os fundos que gerarão o almoço anual oferecido aos integrantes do GDVS, as camisetas do grupo e os lanches dos doadores durante as viagens até Porto Alegre - a cidade fica a 80km de distância da Capital. O grupo tem calendário anual de doação, com datas e locais a serem contemplados pelo trabalho voluntário.
Neste ano, estão previstas 14 idas ao Hemocentro do Estado - sempre com, pelo menos, 12 integrantes, e doações também ao Hospital São Lucas, ao Nossa Senhora da Conceição, ao Hospital de Clínicas e ao laboratório Marques Pereira.
Manoel doa quatro vezes por ano e só não faz mais porque não é permitido por lei. Em 2015, ele foi homenageado pelo Ministério da Saúde, como exemplo de multiplicador da importância da doação, na solenidade em comemoração ao dia mundial do doador de sangue.
O aposentado calcula que só o grupo de Butiá doa, em média, 500 bolsas de sangue por ano. E é em cima deste dado que ele costuma destacar o trabalho dos voluntários da cidade.
— Nos já salvamos 35 mil pessoas. É muito mais do que toda a minha cidade — comemora Manoel.
O colecionador de comprovantes
Inspirado pelo pai, João Alcindo Silveira, que antes de falecer costumava incentivar as pessoas a doarem sangue, o vigilante aposentado, Luis Anselmo Vieira Pereira, 54 anos, de Porto Alegre, é um dos mais assíduos frequentadores do Hemocentro da Capital. Doador desde 2003, ele já precisou receber sangue de outras pessoas em três situações envolvendo procedimentos cirúrgicos.
— Me sinto bem ajudando as pessoas e sabendo que uma doação pode ajudar a salvar até quatro vidas — conta, mostrando os comprovantes de doação.
E mesmo durante o primeiro ano da pandemia de coronavírus, Luis Anselmo fez questão de continuar atuando voluntariamente porque sabia que as doações estavam escassas. Para estar sempre apto a doar, o aposentado toma alguns cuidados com a própria saúde: bebe apenas socialmente, evita alimentos gordurosos, mantém uma dieta equilibrada e tem um relacionamento monogâmico há 15 anos.
Entre 2009 e 2013, contratado por uma empresa terceirizada, Luis Anselmo acabou trabalhando, por coincidência, no próprio Hemocentro. Certo dia, ao ver uma moça cabisbaixa e olhando uma lista na entrada do prédio, ele perguntou a ela se aguardava alguém. A mulher respondeu que faltava um doador para completar o número necessário. O vigilante, na mesma hora, pediu permissão à gerência para doar e foi liberado.
— Sou muito grato a quem me ajudou quando eu precisei de sangue. Enquanto Deus me der saúde, continuarei doando — afirma Luis Anselmo, que pretende doar sangue mais uma vez ainda em 2021.
O "vampiro" de Sapucaia do Sul
Em 1967, aos dois anos de idade, o vigilante Alberi Nunes passou por uma cirurgia no estômago, realizada no interior do Estado, e precisou de sangue durante o procedimento. Esta história, contada a ele pelos parentes, o fez se tornar também um doador a partir de 1985, quando já morava em Sapucaia do Sul.
Há 16 anos, Alberi se tornou um dos quatro fundadores da Associação Sapucaiense De Apoio Aos Doadores de Sangue, uma entidade que chegou a reunir mais de 1 mil cadastrados. Além de cadastrar doadores e transportá-los até os bancos de sangue, a entidade Associação também compartilha as ações nas redes sociais para atrair novos voluntários.
O vigilante recorda que quando não conseguia transporte para os doadores, usava o próprio carro, um Uno, até a Capital. A fama de Alberi no Vale do Sinos o levou a ser conhecido como o "vampiro de Sapucaia", apelido dado por um radialista gaúcho. No celular de Alberi não há a foto dele, mas a do famoso personagem Bento Carneiro, o vampiro brasileiro, interpretado por Chico Anysio.
De tão engajado com a causa, Alberi estimulou a família a fazer o mesmo. Hoje, a mulher, os quatro filhos, uma irmã e dois sobrinhos também são doadores de sangue.
— Quem necessita, sabe a importância de uma doação. Por isso, sempre defendo: ajudar hoje porque você pode precisar amanhã - justifica o "vampiro de Sapucaia".