O anúncio do Palácio Piratini de liberação de pistas de dança para festas infantis, eventos sociais (casamentos, baile de debutante, formatura etc) e eventos de entretenimento a partir de 1º de outubro animou o setor e gaúchos na expectativa de celebrar conquistas e datas afetivas. O informe, no entanto, deixou boates decepcionadas por ficarem de fora.
A liberação, a ser concretizada caso a epidemia mantenha a melhora ao longo de setembro, prevê pistas de dança com limite de 150 pessoas para eventos sociais fechados, focados em amigos e familiares – caso de encontro em clube, salão ou casa de festa. Se decidida e autorizada pelas associações regionais de municípios, a ocupação poderá chegar até 350 convidados. Máscaras serão obrigatórias.
Casas noturnas e de shows, entretanto, ficaram de fora do anúncio. Os estabelecimentos, liberados em maio, se reinventaram para funcionar como bares ou restaurantes. Representante das casas noturnas do Rio Grande do Sul, Marcos Paulo Magalhães diz que o setor não compreendeu por que ficou de fora.
— Não entendemos essa segregação. Não faz sentido liberar evento social, onde há pessoas da população de risco, e não casa noturna, onde a faixa etária de idade tem risco muito menor de ter complicação do vírus. Nosso setor está destruído, há 530 dias parado. Passou do aceitável. Abrimos caminho com avanço da vacinação e queda dos números da epidemia — afirma.
Magalhães diz que preocupações sobre uso de máscara são desnecessárias porque empresários farão cumprir os protocolos especificados no decreto, inclusive por interesse comercial.
— Quando a pessoa estiver em uma festa permitida, ela vai fazer vídeo. E o empresário não vai querer que vaze vídeo de todo mundo sem máscara. Dizer que pessoas podem não cumprir o decreto não é justificativa para deixar de emitir o decreto. Com Expointer para 15 mil pessoas, como a gente não pode permitir a abertura de casa noturna? — questiona.
A inclusão de boates e casas de show no decreto a ser lançado em 1º de outubro pode ocorrer e está em análise pelo Piratini, afirma Bruno Naundorf, coordenador do Grupo de Trabalho de Protocolos do governo do Estado.
Mas, de fato, na visão do Executivo, eventos sociais para família e amigos permitem menos risco do que festas com ingresso aberto, como boate ou show.
Dentre os argumentos citados, estão o pior controle do uso de máscara em casas noturnas e de show e o objetivo dos frequentadores destes espaços –mais afeitos, digamos, a trocar saliva.
— Esses eventos sociais, como festa de casamento ou festa de fim de ano, são pessoas da mesma família. É diferente de um lugar onde há pessoas de diversas localidades em que é mais difícil controlar o uso de máscara. Não queremos permitir reabertura e depois fechamentos. A ideia do Rio Grande do Sul é ter avanço gradual e seguro para a população. Mas estamos ainda em pandemia, não é vida normal ainda — afirma.
Comparação
O porta-voz do Estado acrescenta que não é possível comparar casas noturnas e de shows com a Expointer porque, no evento agrícola, o público ficará livre, será fiscalizado para o uso de máscara e terá outro foco.
— A Expointer não terá pessoas sem máscara. Se tiver, elas serão orientadas por monitores e, se não colocarem, podem ser convidadas a se retirar. Alimentação e bebida serão em lugar específico, e as pessoas irão para comprar máquinas agrícolas. A casa noturna não tem o mesmo público, com o mesmo objetivo e ingerindo o mesmo tipo de bebida. Não dá para comparar. Isso não significa que a casa noturna seja vilã, mas precisamos ter cuidados diferentes. Desde maio, casas noturnas podem funcionar — defende Naundorf.
O médico Alexandre Zavascki, chefe da Infectologia do Hospital Moinhos de Vento e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), diz que a diferença de risco entre festas íntimas e boates é pouca, uma vez que a covid-19 não é transmitida apenas pelo beijo, mas de forma aérea, e que em nenhum evento social as pessoas costumam manter a máscara.
— Se tem uma pessoa infectada e o ambiente é fechado, o risco é tão grande em uma festinha de aniversário quanto em uma boate. A doença é transmissível pelo ar. Em uma festa de aniversário, as pessoas cantam, conversam e emitem partículas pelo ar. Boate é pior porque são locais extremamente fechados, têm música alta e as pessoas falam mais alto. Mas uma festa de aniversário com mais pessoas do que uma boate vai ter mais risco — diz.
Em boates e casas de shows, as pessoas podem ser mais propensas a beijarem desconhecidos, mas pistas de dança quebram o distanciamento social, afirma o médico Alessandro Pasqualotto, chefe da Infectologia da Santa Casa de Porto Alegre e professor da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA).
— Cada convidado tem suas relações interpessoais e pode ter pegado o vírus, mas estar assintomático. Não faz muito sentido permitir festas fechadas, mas não festas abertas. Em um casamento, todos se abraçam, e com o som alto as pessoas falam alto e ao pé de ouvido. Ao mesmo tempo, as pessoas já vão a bares sem máscara... A abertura está sendo perigosamente excessiva — diz o infectologista.