O cronograma de vacinação contra o coronavírus do governo federal, reafirmado nesta semana pelo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, tem desafios para cumprir a meta de imunizar por completo toda a população adulta do país até o final de outubro.
Um dos obstáculos é atender 25 milhões de pessoas acima de 18 anos que, pelos registros oficiais, ainda não tomaram a primeira aplicação.
– Nossa campanha de vacinação é um case de sucesso mundial. Já vacinamos mais de 70% da população brasileira adulta com a primeira dose e, até o fim de outubro, toda a população adulta estará vacinada com a segunda – garantiu Queiroga durante o lançamento de iniciativas voltadas ao tratamento de doenças raras na terça-feira (31).
Conforme os dados oficiais da plataforma LocalizaSUS, 132,7 milhões de brasileiros maiores de idade haviam recebido pelo menos uma rodada de imunizante até a tarde desta sexta-feira (3), entre uma população “vacinável” de 158 milhões. Os 25 milhões restantes ainda não tiveram registro da dose inicial e precisam dar a largada no esquema vacinal.
Mesmo que o intervalo entre as injeções de Pfizer e AstraZeneca seja reduzido para oito semanas, como também anunciou o ministério, seria preciso que todo o universo de pessoas ainda não vacinadas recorresse a uma unidade de saúde no máximo até 5 de setembro para ter a chance de completar o esquema até o final de outubro. Mas a medida ainda não tem dia certo para entrar em vigor.
Outro desafio é se o país terá vacina suficiente para atender toda a demanda remanescente de 118,9 milhões de primeiras e segundas doses para os adultos, além de contemplar os 18 milhões de adolescentes até 12 até 17 anos que serão integrados à campanha neste mês e os 14 milhões de idosos acima de 70 anos, conforme projeção populacional do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para este ano, que ganharam direito a uma terceira injeção.
Ainda não há como responder a essa pergunta porque o Ministério da Saúde prevê a entrega de 64,6 milhões de doses em setembro – 4,6% a menos do que em agosto – mas ainda não tem estimativa para outubro. O painel do governo prevê um total de 226,7 milhões no último trimestre deste ano, mas sem especificar a disponibilidade em cada mês.
Procurado por GZH, o ministério informou que está detalhando a previsão específica para outubro, que deverá ser divulgada nos próximos dias. Mas, somente para cumprir a meta de vacinar todos os adultos, mesmo sem levar em conta a nova demanda de adolescentes e idosos, o país já precisará acelerar o ritmo diário de imunização para ter alguma chance de alcançar o objetivo anunciado no próximo mês.
– Tendo vacinas suficientes, temos condição de ampliar o número de pessoas vacinadas (por dia), mesmo incluindo os adolescentes. Mas já soubemos de novo atraso nas entregas da Fiocruz, e precisamos levar em conta que há um percentual de pessoas que não vão se vacinar de qualquer forma, algo em torno de 5% – afirma o presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Juarez Cunha, fazendo referência a um anúncio da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) de que a falta de insumos importados impedirá novas entregas até 13 de setembro.
Para contemplar todos os adultos que ainda precisam de uma ou duas injeções, seria preciso elevar a média de imunização em 23% e beneficiar pouco mais de 2 milhões de brasileiros maiores de 18 anos por dia em setembro e no mês que vem. Em agosto, esse patamar ficou pouco acima de 1,6 milhão.
– Temos 38 mil salas de vacinação, com capacidade de aplicar até 2,4 milhões de vacinas ao dia. Por isso, o programa de imunização brasileiro é reconhecido internacionalmente – argumentou Queiroga em entrevista ao programa de rádio A Voz do Brasil em 19 de agosto, quando anunciou pela primeira vez o plano antecipar a imunização dos adultos de dezembro para outubro.