Municípios gaúchos mobilizam esforços para reduzir a abstenção da segunda dose da vacina contra o coronavírus, mas o número de pessoas em atraso de aplicação ou de registro da injeção no sistema informatizado segue em elevação no Rio Grande do Sul.
As prefeituras das cinco maiores cidades do Estado, consultadas por GZH, apostam principalmente em mutirões de imunização e na busca ativa de faltantes nas próprias comunidades onde vivem para ampliar a cobertura vacinal. Mesmo assim, a quantidade de casos pendentes subiu 6,6% em pouco mais de uma semana.
Entre quarta-feira da semana passada (21) e quinta-feira (29), as abstenções ou pendências de registro passaram de 221.396 para 236.007. Pelo mais recente levantamento da Secretaria Estadual da Saúde (SES), há 121,1 mil casos de atraso envolvendo o imunizante da CoronaVac, 114,6 mil da Oxford/AstraZeneca e 167 da Pfizer.
Por meio de nota, a SES esclarece que não há como determinar exatamente, dentro desse universo, o que é de fato demora para aplicação e o que já foi atendido, mas ainda não entrou no sistema digital que monitora o andamento da campanha contra o coronavírus: “salientamos que ocorrem atrasos de registro no sistema das doses aplicadas e que podem não refletir a realidade. Esse registro é de responsabilidade dos municípios”.
Há indícios concretos de que boa parte dessa cifra corresponde de fato a pessoas que deixaram de tomar a dose complementar no prazo previsto. Canoas, por exemplo, abriu dois dias de repescagem, como são chamados dias extras destinados a completar imunizações pendentes, no sábado (24) e na terça-feira (27), para atender quem havia tomado AstraZeneca.
Dos 14,9 mil canoenses que já poderiam ter completado o esquema vacinal por esse fabricante, conforme cálculos da prefeitura, somente 59% compareceram, o que exigiu a oferta de mais um dia (nesta sexta-feira, 30) para tentar atrair mais gente.
– Os municípios vêm fazendo alertas, disponibilizando dias extras e fazendo repescagens, agentes de saúde estão com orientação de fazer busca ativa, mas o número de pessoas que não comparecem ainda é bem importante – observa o presidente do Conselho das Secretarias Municipais de Saúde do Estado (Cosems/RS) e titular da pasta em Canoas, Maicon Lemos.
Segundo o secretário, uma das alegações mais frequentes, principalmente no caso da AstraZeneca, é de efeitos adversos percebidos após a primeira aplicação que acabam inibindo o retorno.
– As pessoas precisam entender que eventualmente pode ocorrer algum sintoma como dor no braço, um pouco de febre, mas que isso não deve impedir a volta para tomar a segunda dose. Estamos esclarecendo a todos que uma dose só (com exceção dos produtos de aplicação única como a Janssen) não é suficiente para proteger da covid-19 – reafirma Lemos.
Entre os outros fatores envolvidos na abstenção está a desconfiança sobre a eficácia ou a segurança de determinados imunizantes. Especialistas em saúde garantem que todos os produtos chancelados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) são seguros e protegem contra o coronavírus – principalmente da evolução para quadros mais graves.
Além de expor cada pessoa a um perigo maior de agravamento e óbito, a falta da segunda dose também dificulta o atingimento da imunidade coletiva – quando pelo menos 70% de toda a população se vacina integralmente e barra a circulação do vírus. Até as 16h30min desta sexta, 56,8% dos gaúchos haviam recebido a primeira injeção, e 26,6% completaram o ciclo de vacinação. Veja, a seguir, que esforços estão sendo feitos nas principais cidades gaúchas para elevar esses percentuais.
Porto Alegre
A Capital conta hoje com duas frentes principais para tentar reduzir as abstenções. Pelo aplicativo 156+POA, que pode ser baixado gratuitamente nos celulares, é possível agendar a aplicação de segunda dose sem necessidade de enfrentar filas.
O município também realiza busca ativa. As unidades distritais de saúde têm a lista de pessoas que ainda não fizeram a aplicação de reforço, e equipes entram em contato para tentar convencer os faltantes a completar a imunização.
Caxias do Sul
A Secretaria Municipal da Saúde informa que ampliou a oferta de pontos que disponibilizam a segunda dose contra o coronavírus com o objetivo de facilitar o acesso da população que ainda não completou o ciclo vacinal.
Além disso, a pasta fará um trabalho de busca ativa por meio de agentes comunitários de saúde para aumentar o índice de população vacinada integralmente. Todas as equipes que atuam na vacinação também estão orientadas a, no ato da primeira aplicação, reforçar a importância do retorno para a segunda aplicação a fim de garantir a máxima proteção.
Canoas
Uma das principais ações para reduzir a defasagem entre a população que já deveria estar integralmente imunizada é a realização de mutirões para oferecer vacinas nos postos a quem está atrasado. Nesta semana, por exemplo, houve mobilização para atender quem deixou de tomar a dose de reforço da CoronaVac na quinta-feira (29) e da Oxford/AstraZeneca na terça (27) e nesta sexta-feira (30).
Na sexta, foi atendido exclusivamente quem deveria receber a segunda aplicação. A cidade também orientou as unidades de saúde a fazer busca ativa dos faltantes por meio de equipes de saúde da família.
Pelotas
A cidade da região Sul vem investindo em ações de mutirão para atender quem se absteve de completar a vacinação no prazo. Na quinta-feira (29), foi realizada uma iniciativa para atender a todos que estavam com segunda dose pendente.
O público poderia procurar quatro pontos diferentes do município para completar a vacinação nos bairros Centro, Fragata, Balneários dos Prazeres e Três Vendas. Para receber a injeção, basta apresentar documento de identidade e o cartão de vacinação com o indicativo de que tomou a primeira dose.
Santa Maria
Conforme informações da assessoria de comunicação da prefeitura, o município da região Central tem centralizado a aplicação da segunda dose para as pessoas em atraso em, pelo menos, dois dias da semana, para que seja completado o ciclo vacinal.
Além disso, a cada ação destinada a promover a segunda dose com o mesmo laboratório, é possível que todos os atrasados tomem a vacina, independentemente de quanto tempo perderam. Nos dias de vacinação, as unidades de saúde fazem ainda busca ativa dos usuários cadastrados para entender o motivo de não terem retornado para a segunda dose.