O Rio Grande do Sul não tem registro de 221 mil aplicações de segundas doses de vacina contra a covid-19 que já deveriam ter sido feitas até o momento, conforme dados atualizados pela Secretaria Estadual da Saúde (SES) na noite de quarta-feira (21).
Esse número é resultado, em grande parte, da abstenção de pessoas que deixaram de voltar à unidade de saúde para completar o esquema vacinal no prazo previsto para cada imunizante, mas, conforme o Piratini, também pode incluir casos em que a injeção foi feita e ainda não houve a notificação oficial.
Por meio de nota, a SES sustenta que “não tem o número real de segundas doses não aplicadas, o que temos são segundas doses não registradas. Salientamos ainda que ocorrem atrasos de registro no sistema das doses aplicadas e que podem não refletir a realidade.”
O epidemiologista e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Paulo Petry acredita que a cifra inclui, apesar de eventuais demoras no sistema informatizado de monitoramento, um universo significativo de pessoas que de fato estão deixando de concluir o processo de imunização:
– Embora exista a possibilidade de demora no registro, sabemos que há muitas pessoas que estão deixando de tomar a segunda dose mesmo, e isso é um problema porque essas vacinas que exigem duas aplicações só oferecem proteção completa contra as formas mais graves da doença após a segunda.
A eventual abstenção também dificulta que seja atingido o patamar necessário de 70% da população com esquema completo para bloquear a transmissão do vírus. As 221.396 pessoas sem registro da dose de reforço equivalem, em termos comparativos, a 8,2% daquelas que já concluíram a imunização e a 2% de toda a população gaúcha.
O fato de que parte da demora pode ser apenas na contabilização oficial, na avaliação de Petry, também representa um problema para o combate ao coronavírus por não permitir uma leitura precisa do andamento da campanha contra a pandemia.
– A epidemiologia, ao fornecer dados, é uma poderosa ferramenta de gestão. Mas, se esses dados não são precisos ou muito próximos da realidade, pode levar a falhas de planejamento. O Estado pode ser levado a reservar mais doses para segundas aplicações do que seria necessário, por exemplo – observa o epidemiologista.
O presidente do Conselho das Secretarias Municipais de Saúde do Estado (Cosems/RS), Maicon Lemos, afirma que a entidade está orientando as prefeituras a atualizar “ao máximo” os cadastros de vacinas aplicadas, mas reconhece que há de fato um grande contingente de pessoas que estão deixando de voltar às unidades de saúde para garantir proteção máxima contra o vírus.
– As doses continuam disponíveis nos municípios, que têm feito repescagem e dias extras de vacinação, estendido horário de funcionamento das unidades de saúde, ido aos domicílios onde há estratégia de saúde da família e veiculado em canais de comunicação que as pessoas precisam se vacinar – afirma Lemos.
Esse é um problema que não se limita ao Rio Grande do Sul. O governo paulista, por exemplo, divulgou na quarta-feira (21) que 642 mil pessoas estariam com a aplicação da segunda dose em atraso em todo o Estado de São Paulo. Essa cifra é 168% maior do que a registrada em um balanço anterior divulgado no final de junho. A gestão estadual e as prefeituras paulistas se comprometeram a reforçar a busca ativa pelos faltantes.
Além desse obstáculo, conforme reportagem publicada por GZH na segunda-feira (19), até aquele momento havia ainda 539 mil gaúchos acima de 40 anos, já contemplados pela campanha de combate à pandemia, que ainda não haviam se dirigido a uma unidade de saúde para receber a primeira dose ou a injeção única no caso da Janssen.