É chamada de "pobreza menstrual" a falta de acesso a produtos de higiene que muitas meninas e mulheres, em situação de vulnerabilidade, sofrem durante o período menstrual. Também está inserido nesse conceito a falta de saneamento básico, de água encanada e de banheiros, que tornam a menstruação sinônimo de vergonha, incômodo e isolamento para as populações mais pobres. Outro reflexo é a adoção de métodos inseguros à saúde para lidar com a menstruação.
— Infelizmente, é um problema que acaba afetando meninas de população vulnerável e de maior pobreza, que acabam submetidas a situações de risco, usando medidas alternativas durante o período menstrual. Há relatos de utilização de folhas de jornal ou papelão e até miolo de pão — afirma a coordenadora docente da Liga Acadêmica de Ginecologia e Obstetrícia da PUCRS (Ligo), Camila Henz.
De acordo com a professora, além de adoção de métodos inseguros à saúde, quando mulheres não dispõem dos itens necessários à sua higiene durante a menstruação, os impactos são sentidos não só na autoestima e na dignidade, mas também na vida social dessas pessoas, já que muitas deixam de ir à escola ou ao trabalho durante o período de sangramento.
Desde 2014, a Organização das Nações Unidas (ONU) reconhece que o direito das mulheres à higiene menstrual é uma questão de saúde pública e de direitos humanos. Na última sexta-feira (28), foi comemorado o Dia Internacional da Higiene Menstrual, data voltada à visibilidade para a temática da menstruação e à mobilização pelo direito de acesso a produtos básicos como absorventes. Esse tipo de privação era algo que não permeava os pensamentos da estudante de medicina Bruna Stumpf Böckmann, presidente da Ligo, até o início desse ano, quando leu sobre o assunto em uma publicação no Instagram e teve um estalo para amenizar o problema.
— É uma realidade tão distante da nossa que a gente nem para para pensar que existem pessoas que não dispõem de absorvente quando precisam. Quando ficamos sabendo sobre a pobreza menstrual, bolamos um projeto em que nos propusemos a arrecadar utensílios de higiene, com foco nos absorventes para mulheres vulneráveis — afirma Bruna.
Entre o final de março e a última semana de maio, a campanha solidária Combatendo a Pobreza Menstrual, da Ligo PUCRS, arrecadou 3.168 unidades de absorventes, 520 sabonetes e centenas de rolos de papel higiênico, frascos de xampu e de condicionador, desodorantes e tubos de pasta de dente. O projeto é tocado por oito estudantes da universidade, membros da liga de ginecologia, e mais três professoras. A primeira entrega será feita na próxima semana. Os donativos beneficiarão pessoas carentes que são atendidas na unidade de saúde Centro de Extensão Universitária Vila Fátima e pelo projeto social +Empatia POA (@maisempatiapoa), ação nascida na pandemia que busca, principalmente, dar alento a indivíduos em situação de rua.
— Nunca tínhamos participado de um projeto assim, já que sempre damos mais atenção ao alimento. Mas conhecendo as pessoas em vulnerabilidade, acabamos vendo que elas precisam de muito mais coisas além de comida, então quanto mais conseguirmos ajudar, melhor. Quando aparecem oportunidades de entregar materiais de higiene, que são mais inacessíveis a essa população até pelo preço, ajuda muito — afirma Igor Carboni, um dos organizadores do +Empatia POA.
Em alguns dos mutirões de distribuição de marmitas e alimentos, que a equipe de aproximadamente 70 voluntários do +Empatia realiza desde o ano passado, serão doados kits de higiene com os produtos para mulheres reunidos pela liga.
Atualmente, os postos de coleta da campanha Combatendo a Pobreza Menstrual ficam no saguão e na Panvel do prédio 12 da PUCRS (Avenida Ipiranga, 6681), no Centro de Extensão Vila Fátima (Rua Quatorze, 227, Vila Nossa Senhora de Fátima, Porto Alegre) e na sala 701 do Hospital São Lucas da PUCRS (Avenida Ipiranga, 6690). No entanto, a velocidade com que a campanha tem crescido, segundo as organizadoras, está fazendo-as buscar novos locais de coleta para a ação, que tende a se renovar a cada semestre e continuar a ser promovido pela Ligo ao longo dos anos. Quem quer contribuir, mas não tem como se deslocar até um dos pontos de coleta, pode entrar em contato com a equipe pelo Instagram, no perfil @ligopucrs e combinar a entrega da doação.