Foi numa viagem que o analista de sistemas Júlio Cezar Beal, 39 anos, pegou coronavírus. Os sintomas iniciais eram leves, nada além de febre e dor nas costas, mas, com o passar dos dias, o quadro piorou. No fim de janeiro, ele foi internado em Ijuí, onde mora, no noroeste do Estado. Asmático, teve de ir para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI), passou por uma traqueostomia, perdeu 15 quilos e, em 1° de março, finalmente estava livre: havia vencido a covid-19 depois de 33 dias de internação.
Após a alta, no entanto, sobraram as sequelas de uma doença devastadora. Júlio precisou de reabilitação e foi encaminhado à Clínica Escola de Fisioterapia da Unijuí para recuperar a condição física.
— Perdi muita massa muscular, estava com as pernas finas e não conseguia falar. Queria me comunicar escrevendo, mas não tinha força para segurar a caneta — lembra ele.
Na pandemia, a clínica da universidade passou a receber pessoas que tiveram quadro grave de covid-19, lutaram nos leitos hospitalares para se manterem vivas e, ao saírem, precisaram de ajuda para restabelecer a saúde. Elas são encaminhadas pelos hospitais e atendidas gratuitamente por alunos do curso de Fisioterapia que estão no fim da graduação. Têm o acompanhamento de professores que atuam como supervisores dos estagiários.
— Antes, a preocupação era lá no hospital, preocupação de viver, viver e viver. E aí o paciente sobrevive, mas e o depois? Quem vai fazer o processo? É a reabilitação multiprofissional, e a fisioterapia faz parte disso — diz a professora da Pós-Graduação em Fisioterapia da Unijuí Eliane Roseli Winkelmann, umas das supervisoras da clínica.
Quem vence a covid-19 pode permanecer com falta de ar, fadiga, dores musculares, dificuldade para falar e falta de condicionamento físico, o que a medicina passou a chamar de síndrome pós-covid. Na clínica da Unijuí, o paciente faz exercícios que, aos poucos, permitem que vá retomando essas capacidades. Júlio começou com um programa leve, como puxar o ar pelas narinas e prender a respiração por alguns segundos. Depois, foi para movimentos mais intensos, como corridas sem sair do lugar e levantamento de peso.
O que é jornalismo de soluções, presente nesta reportagem?
É uma prática jornalística que abre espaço para o debate de saídas para problemas relevantes, com diferentes visões e aprofundamento dos temas. A ideia é, mais do que apresentar o assunto, focar na resolução das questões, visando ao desenvolvimento da sociedade.
Na maioria dos casos, o tratamento dos pacientes leva dois meses. Atualmente, a clínica atende em torno de 200 pessoas, sendo que 35 estão lá para receber ajuda após a covid-19. As sessões são presenciais e realizadas duas vezes por semana. Quando a pessoa tem condições de praticar os exercícios em casa, a clínica oferece atendimento por videochamadas.
— É um desafio bem grande, mas recompensador, porque tu entregas esse indivíduo reabilitado. Estamos trabalhando muito bem com os hospitais. É muito importante essa consciência dos profissionais do hospital de fazer o encaminhamento de quem precisa — diz Eliane.
Júlio teve uma piora brusca do quadro de covid-19, mas também uma recuperação rápida. Ele segue em fisioterapia, mas pôde retornar ao trabalho na semana passada e voltou a praticar esportes. Quando atendeu à ligação para dar essa entrevista a GZH, estava jogando padel, prática com bola e raquete, semelhante ao tênis.
— Hoje me sinto bem. Parece que a cada dia vou conquistando um pouquinho — diz ele.