Vida feminina em ciclos

A depender do nível de desconforto causado e do número de dias comprometidos, pode-se quase ignorá-la, tolerá-la e também detestá-la. Um dos fenômenos mais característicos da vida feminina, a menstruação acompanha a mulher desde a puberdade até a idade madura, e é fundamental compreender bem o que acontece no organismo para que se possa ler melhor os sinais emitidos por ele e estar sempre em dia com a saúde.

 

A menstruação é a culminância de um mês inteiro de preparação do corpo para uma possível gravidez. No caso de alguém que não utiliza contracepção, o óvulo é produzido para se encontrar com um espermatozoide e ocorrer, então, a fecundação, gerando um feto. Quando isso não ocorre, processam-se modificações hormonais dentro do útero que fazem com que haja um descolamento da camada que reveste o órgão internamente, chamada de endométrio. Essa descamação do endométrio é o sangue expelido pela vagina durante o ciclo menstrual.

 

– A menstruação é o apagar das luzes. O endométrio se renova depois, e começa tudo de novo no mês seguinte – explica a ginecologista Maria Celeste Osório Wender, chefe do Serviço de Ginecologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA).

 

Quando se utiliza algum método contraceptivo, como a pílula, o mais comum deles, também acontece o sangramento, mas programado, provocado artificialmente. A pílula "faz de conta" que o endométrio está se modificando e, quando a ingestão dos comprimidos da cartela é interrompida, o endométrio também se descola e é eliminado, recompondo-se depois outra vez.

 

Um ciclo menstrual completo normal pode durar entre 21 e 40 dias, explica Maria Celeste, começando no primeiro dia da menstruação e se encerrando na véspera da próxima (no caso de mulheres que não usam contracepção). Costuma-se interpretar como ciclo regular aquele em que ocorre sangramento uma vez por mês, todos os meses – algumas pacientes por vezes consideram, erroneamente, que têm um ciclo irregular porque o início do fluxo não acontece sempre no mesmo dia do calendário.

 

O mais comum é que os ciclos sejam regulares. Isso significa que a mulher ovula todos os meses diz Maria Celeste.

 

Os ciclos tendem a ser irregulares nos extremos da vida reprodutiva: caso da pré-adolescente ou adolescente nos dois primeiros anos após a primeira menstruação, chamada de menarca, e da mulher que se aproxima da menopausa. A bebê já nasce com sua carga completa de óvulos para toda a sua existência, número que vai diminuindo com o decorrer dos anos. As primeiras menstruações da menina, em geral, são anovulatórias (não há ovulação). Quando seu funcionamento hormonal se estabiliza, passa a ocorrer a ovulação e existe a possibilidade de engravidar. Da mesma forma, quem está na outra ponta, na faixa entre os 40 e os 50, tempos antes da parada total do sangramento, pode ter ciclos anovulatórios os óvulos dentro dos ovários dessa mulher que está chegando perto do climatério já estão desgastados e em número reduzido, daí a menor frequência de uma gravidez nessa fase. Muitas vezes, em seus últimos ciclos, ela menstrua sem ovular.

 

Preciso menstruar todos os meses?

 

Um grande número de mulheres opta pelo regime de uso ininterrupto ou com poucas pausas da pílula anticoncepcional, devido a uma recomendação médica (após o diagnóstico de uma endometriose, por exemplo) ou simplesmente para ter uma rotina mais cômoda, sem as limitações impostas pelo sangramento mensal, que pode ter fluxo intenso, fortes cólicas e inchaço, entre outros sintomas. Para a ginecologista Carla Vanin, professora da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), chefe do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da instituição e coordenadora do Ambulatório de Climatério da Santa Casa, o ideal, antes de se fazer essa escolha, seria aguardar que os ciclos se estabilizassem para a menina que está começando a menstruar.

 

A irregularidade pode ser normal por um tempo, e depois disso os ciclos se regularizam. Normalmente, essa estabilização acontece entre dois e quatro anos depois da menarca (primeira menstruação), quando seria o momento mais adequado para começar o uso de anticoncepcional, se for indicado aconselha Carla.

 

Não há danos à mulher que decide não menstruar ou menstruar a intervalos de alguns meses.

 

Isso não traz prejuízo, nem do ponto de vista geral de saúde, nem para o futuro reprodutivo. Uma mulher que usa esse esquema é igual à que faz a pausa todo mês. Quando as duas pararem de tomar a pílula, vai voltar a função ovariana original delas. É uma opção: se prefere menstruar menos vezes, ela opta por isso. Se prefere menstruar todo mês porque acha que quando menstrua tem a segurança de que não está grávida, tudo bem diz Maria Celeste.

 

Quando a mulher está alcançando a menopausa, na faixa dos 40 aos 45 anos, é comum que os ciclos se tornem mais curtos, ainda que regulares. Aquela que sangrava a cada 28 dias pode ter esse intervalo reduzido para 25 ou 23 dias, por exemplo. Mas a irregularidade também chega o sangramento pode passar a durar mais dias e a ser mais intenso ou ocorrer no meio do ciclo. Pode se tratar apenas de uma disfunção hormonal do climatério, mas também pode ser a indicação de outro problema, como miomas ou pólipos endometriais. A certo ponto, ela pode menstruar dois ou três meses seguidos e depois passar dois meses sem sangrar, até sangrar de novo. Segundo Carla, apenas um pequeno percentual menstrua regularmente até o final, tendo uma última menstruação e depois nada mais.

 

O diagnóstico de menopausa é sempre retrospectivo: tem que ter pelo menos 12 meses sem qualquer sangramento. Então podemos dizer que ocorreu a menopausa afirma a médica da Santa Casa. Qualquer sangramento após esses 12 meses, começamos a investigar completa, citando que uma das ocorrências mais sérias é o câncer de endométrio.

TEXTOS

Larissa Roso

EDIÇÃO

Cândida Hansen

DIREÇÃO DE ARTE

Gilmar Fraga

FOTOGRAFIA

Matheus Bruxel

DESIGN

Melina Gallo

Melina Gasperini

Vida feminina em ciclos

A depender do nível de desconforto causado e do número de dias comprometidos, pode-se quase ignorá-la, tolerá-la e também detestá-la. Um dos fenômenos mais característicos da vida feminina, a menstruação acompanha a mulher desde a puberdade até a idade madura, e é fundamental compreender bem o que acontece no organismo para que se possa ler melhor os sinais emitidos por ele e estar sempre em dia com a saúde.

 

A menstruação é a culminância de um mês inteiro de preparação do corpo para uma possível gravidez. No caso de alguém que não utiliza contracepção, o óvulo é produzido para se encontrar com um espermatozoide e ocorrer, então, a fecundação, gerando um feto. Quando isso não ocorre, processam-se modificações hormonais dentro do útero que fazem com que haja um descolamento da camada que reveste o órgão internamente, chamada de endométrio. Essa descamação do endométrio é o sangue expelido pela vagina durante o ciclo menstrual.

 

– A menstruação é o apagar das luzes. O endométrio se renova depois, e começa tudo de novo no mês seguinte – explica a ginecologista Maria Celeste Osório Wender, chefe do Serviço de Ginecologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA).

 

Quando se utiliza algum método contraceptivo, como a pílula, o mais comum deles, também acontece o sangramento, mas programado, provocado artificialmente. A pílula "faz de conta" que o endométrio está se modificando e, quando a ingestão dos comprimidos da cartela é interrompida, o endométrio também se descola e é eliminado, recompondo-se depois outra vez.

 

Um ciclo menstrual completo normal pode durar entre 21 e 40 dias, explica Maria Celeste, começando no primeiro dia da menstruação e se encerrando na véspera da próxima (no caso de mulheres que não usam contracepção). Costuma-se interpretar como ciclo regular aquele em que ocorre sangramento uma vez por mês, todos os meses – algumas pacientes por vezes consideram, erroneamente, que têm um ciclo irregular porque o início do fluxo não acontece sempre no mesmo dia do calendário.

 

– O mais comum é que os ciclos sejam regulares. Isso significa que a mulher ovula todos os meses – diz Maria Celeste.

 

Os ciclos tendem a ser irregulares nos extremos da vida reprodutiva: caso da pré-adolescente ou adolescente nos dois primeiros anos após a primeira menstruação, chamada de menarca, e da mulher que se aproxima da menopausa. A bebê já nasce com sua carga completa de óvulos para toda a sua existência, número que vai diminuindo com o decorrer dos anos. As primeiras menstruações da menina, em geral, são anovulatórias (não há ovulação). Quando seu funcionamento hormonal se estabiliza, passa a ocorrer a ovulação e existe a possibilidade de engravidar. Da mesma forma, quem está na outra ponta, na faixa entre os 40 e os 50, tempos antes da parada total do sangramento, pode ter ciclos anovulatórios – os óvulos dentro dos ovários dessa mulher que está chegando perto do climatério já estão desgastados e em número reduzido, daí a menor frequência de uma gravidez nessa fase. Muitas vezes, em seus últimos ciclos, ela menstrua sem ovular.

 

Preciso menstruar todos os meses?

 

Um grande número de mulheres opta pelo regime de uso ininterrupto ou com poucas pausas da pílula anticoncepcional, devido a uma recomendação médica (após o diagnóstico de uma endometriose, por exemplo) ou simplesmente para ter uma rotina mais cômoda, sem as limitações impostas pelo sangramento mensal, que pode ter fluxo intenso, fortes cólicas e inchaço, entre outros sintomas. Para a ginecologista Carla Vanin, professora da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), chefe do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da instituição e coordenadora do Ambulatório de Climatério da Santa Casa, o ideal, antes de se fazer essa escolha, seria aguardar que os ciclos se estabilizassem para a menina que está começando a menstruar.

 

– A irregularidade pode ser normal por um tempo, e depois disso os ciclos se regularizam. Normalmente, essa estabilização acontece entre dois e quatro anos depois da menarca (primeira menstruação), quando seria o momento mais adequado para começar o uso de anticoncepcional, se for indicado – aconselha Carla.

 

Não há danos à mulher que decide não menstruar ou menstruar a intervalos de alguns meses.

 

– Isso não traz prejuízo, nem do ponto de vista geral de saúde, nem para o futuro reprodutivo. Uma mulher que usa esse esquema é igual à que faz a pausa todo mês. Quando as duas pararem de tomar a pílula, vai voltar a função ovariana original delas. É uma opção: se prefere menstruar menos vezes, ela opta por isso. Se prefere menstruar todo mês porque acha que quando menstrua tem a segurança de que não está grávida, tudo bem – diz Maria Celeste.

 

Quando a mulher está alcançando a menopausa, na faixa dos 40 aos 45 anos, é comum que os ciclos se tornem mais curtos, ainda que regulares. Aquela que sangrava a cada 28 dias pode ter esse intervalo reduzido para 25 ou 23 dias, por exemplo. Mas a irregularidade também chega – o sangramento pode passar a durar mais dias e a ser mais intenso ou ocorrer no meio do ciclo. Pode se tratar apenas de uma disfunção hormonal do climatério, mas também pode ser a indicação de outro problema, como miomas ou pólipos endometriais. A certo ponto, ela pode menstruar dois ou três meses seguidos e depois passar dois meses sem sangrar, até sangrar de novo. Segundo Carla, apenas um pequeno percentual menstrua regularmente até o final, tendo uma última menstruação e depois nada mais.

 

– O diagnóstico de menopausa é sempre retrospectivo: tem que ter pelo menos 12 meses sem qualquer sangramento. Então podemos dizer que ocorreu a menopausa – afirma a médica da Santa Casa. – Qualquer sangramento após esses 12 meses, começamos a investigar – completa, citando que uma das ocorrências mais sérias é o câncer de endométrio.

• TPM

• Cólica

• Absorvente

• Perguntas e respostas

TEXTOS

Larissa Roso

 

EDIÇÃO

Cândida Hansen

 

FOTOGRAFIA

Matheus Bruxel

DIREÇÃO DE ARTE

Gilmar Fraga

 

DESIGN

Melina Gallo

Melina Gasperini