A taxa de ocupação nas unidades de terapia intensiva (UTIs) superou o patamar de 88% nesta sexta-feira (4) no Rio Grande do Sul e atingiu o número mais elevado desde 16 de abril.
No começo da tarde, o painel de monitoramento da Secretaria Estadual da Saúde (SES) indicava que 88,1% dos 3.417 leitos estavam em uso por todo tipo de problema de saúde. Somente 49 dias antes essa marca havia sido superada, quando ficou em 88,4%.
A cifra é preocupante porque, quando nove em cada 10 vagas de UTI estão ocupadas, o Estado coloca em prática o nível mais alto do seu plano de contingência hospitalar que aciona medidas como restrições a outros atendimentos não emergenciais e pode permitir a convocação extraordinária de profissionais da saúde para dar conta da sobrecarga — além de ser um patamar que pode aumentar o tempo de espera de doentes por uma vaga e comprometer a qualidade do atendimento.
Segundo a secretária estadual da Saúde, Arita Bergmann, até esse patamar ainda é possível manejar os pacientes com transferências entre regiões. Acima disso, essa estratégia fica comprometida e exige outras medidas, como o uso de salas de recuperação para receber exclusivamente pessoas com covid-19 — principal causa da alta demanda nos hospitais.
Essa elevação coincide com o aumento no número de pacientes em leitos clínicos e de UTI com coronavírus nas últimas semanas, o que marca um novo período de crescimento da pandemia no Estado. Em números absolutos, nesta sexta havia 1.852 doentes com covid sob tratamento intensivo em todas as regiões gaúchas. Isso equivalia a seis em cada 10 pessoas internadas em estado grave.
— Esses números merecem atenção não apenas por eles, mas pelo contexto de que vêm aumentando e não é em apenas algumas localidades isoladas. É em várias regiões — alerta o infectologista da Santa Casa Claudio Stadnik.
Os dados demonstram que o perigo é de fato generalizado: em 13 das 21 regiões covid do Rio Grande do Sul, a ocupação das UTIs estava acima de 90% conforme o boletim de monitoramento do Sistema 3As com data desta sexta e informações coletadas até a véspera. O cenário era ainda mais complicado na área de Cachoeira do Sul (155% de ocupação), Uruguaiana e Palmeira das Missões (ambas com 114%) e Passo Fundo (101,8%).
Porto Alegre volta a superar marca de 400 internações por covid-19
A situação das UTIs também é delicada na Capital. Até as 14h30min desta sexta, a taxa de ocupação se encontrava em 88,5%, e o número de pacientes internados com covid-19 alcançava 407 pessoas.
Desde 8 de maio, quando havia 404 pacientes com coronavírus em estado crítico, as unidades de terapia intensiva não superavam a marca de 400 hospitalizações em razão da pandemia. Em uma semana, o crescimento na quantidade de leitos em uso em razão da pandemia cresceu 7,4% na Capital.
A taxa de ocupação não é o melhor indicador para se descrever o avanço da doença porque uma eventual ampliação do número de vagas pode diluir esse número e dar a impressão de que o vírus está sob controle. Mas é importante monitorá-lo porque o esgotamento das alas para doentes graves pode multiplicar a mortalidade causada pela covid em razão do atendimento mais precário.
— O problema é que abrir leitos extras sempre implica alguma perda de qualidade assistencial. Sobrecarrega os profissionais, pode exigir deslocamento de pessoas sem tanta experiência em UTI, e isso pode se refletir na mortalidade — observa o infectologista Claudio Stadnik.