Apesar da disponibilidade de imunizantes e dos apelos de profissionais de saúde, cerca de 48,5 mil pessoas deixaram de tomar a segunda dose da vacina contra a covid-19 no prazo previsto até esta quarta-feira (30) em Porto Alegre.
A proporção de moradores que não completaram o esquema vacinal, após esforços oficiais para regularizar a oferta de produtos, agilizar o registro das aplicações no sistema informatizado e reduzir a subnotificação, preocupa a Secretaria Municipal da Saúde (SMS). A elevada abstenção dificulta o atingimento da meta de pelo menos 70% da população completamente protegida para interromper a transmissão do coronavírus.
Conforme os dados atualizados até o começo da tarde, ao redor de 30,4 mil pessoas que tomaram CoronaVac não apareceram no prazo para receber o reforço que garante a produção máxima de anticorpos. Outras 16,4 mil pessoas que contaram com o produto da Oxford/AstraZeneca estavam em atraso, aproximadamente, além de 1,6 mil beneficiados com apenas uma injeção da Pfizer.
— Equalizamos o problema da falta de registro no sistema. Hoje, as unidades de saúde e as farmácias estão notificando a aplicação das doses em tempo real. Ou essas pessoas estão se vacinando em algum outro lugar, ou estão deixando de ir. Por isso, essa situação nos preocupa bastante — afirma o diretor da Vigilância em Saúde da Capital, Fernando Ritter.
O alerta se deve à proporção de gente que está deixando a proteção imunológica pelo meio do caminho – sob risco aumentado de contrair, de desenvolver e de transmitir a covid-19. Essas 48,5 mil pessoas equivalem a 13,5% de todos os 359,7 mil moradores da Capital com o esquema vacinal completo, e a 3,3% de toda a população da cidade.
— Isso vai repercutir na nossa busca pela imunidade coletiva, que exige 70% de vacinados integralmente para impedir a transmissão sustentada do vírus — alerta Ritter.
Não há uma explicação consolidada para esse problema, até o momento. Entre as hipóteses cogitadas pela SMS estão o descuido dos vacinados com a dose inicial em completar o esquema ou a decisão de não tomar a injeção complementar com a expectativa de mudar o tipo de imunizante.
— Há uma possibilidade de que parte dessas pessoas esteja querendo escolher a vacina (de reforço), esperando que seja permitida a possibilidade de intercambiar vacinas, usando para segunda dose uma diferente da que foi usada para a primeira, conforme uma discussão que está havendo internacionalmente — avalia Ritter.
O diretor da Vigilância em Saúde lembra que pessoas que porventura estejam agindo dessa forma estão colocando em risco a sua própria saúde e a do restante da população.
— Pode ser que algumas pessoas estejam esperando para tomar a segunda dose com a justificativa de que querem uma vacina que permita viajar, por exemplo, contando que será possível essa intercambialidade em algum momento. É importante ressaltar que todas as vacinas em uso no Brasil, aprovadas pela Anvisa, são eficazes contra a covid-19 — destaca Ritter.
A imunologista e professora da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) Cristina Bonorino lembra que ainda faltam estudos mais amplos e duradouros sobre a possibilidade de se usar vacinas diferentes entre as duas aplicações. Por isso, não se deve contar com essa possibilidade para breve no Brasil, onde o cenário do coronavírus é um dos mais graves do planeta.
A SMS afirma que já iniciou uma operação de busca ativa de pessoas com a imunização em atraso, mobilizando as unidades de saúde para tentar localizar e entrar em contato com quem não compareceu na data prevista para receber a injeção de reforço.
Rio Grande do Sul
No Estado, o percentual de pessoas com segunda dose atrasada é menor do que na Capital, 10,58%, mas também suscitou medidas para tentar reduzir o contingente. Segundo a Secretaria Estadual de Saúde (SES), 199.358 pessoas não buscaram a segunda dose ou não tiveram a aplicação da vacina registrada no sistema de informações do Plano Nacional de Imunizações (SI-PNI). Do total, 121.908 são referentes à CoronaVac, 77.357 à AstraZeneca e 21 à Pfizer. No total, 1.883.366 imunizações foram completadas no RS.
Para tentar reduzir o contingente em atraso, a SES realiza busca ativa por nome dos faltantes. Para isso, está enviando listas atualizadas com esses nomes para cada município. Outra medida sugerida aos municípios é mobilizar as associações comunitárias espalhadas por todos os bairros e ampliar a divulgação dos públicos definidos para receber os imunizantes e dos locais de aplicação das doses em cada cidade.
— Não temos falta de vacina no Estado. As doses estão nas geladeiras das salas de vacina esperando os cidadãos para completar o esquema vacinal. Não podemos deixar doses paradas. Quem receber só uma dose de vacina que requer reforço não está ainda imunizado. É como se tivesse tomado apenas metade de um medicamento — disse a secretária adjunta da SES, Ana Costa.
A abstenção da dose de reforço se concentra, na ordem, nos grupos prioritários das pessoas entre 65 a 69 anos (46.230) e dos trabalhadores da saúde (41.947), seguido pelo grupo das pessoas entre 60 e 64 anos (21.778) e do grupo das pessoas com 80 anos ou mais (21.414).
Como proceder
- O prazo para segunda dose da CoronaVac é de até 28 dias. No caso da Pfizer e da AstraZeneca, é de 12 semanas (a Capital usava 21 dias para a Pfizer até 15 de junho, quando mudou a orientação). A Janssen é de dose única.
- A data de retorno vem indicada no cartão de vacinação recebido após a aplicação inicial.
- Para tomar a segunda dose, devem ser apresentados documento de identidade e cartão de vacinação recebido na primeira aplicação.
- Quem perdeu o prazo para aplicação da dose 2 deve retornar à unidade de saúde indicada no momento da aplicação da primeira dose ou procurar os drive-thrus.
- Quem perdeu o cartão de vacinação deve procurar uma unidade de saúde antes de ir ao ponto de vacinação. Na unidade, a equipe acessa o sistema, confere o registro da primeira dose e fornece um novo cartão.