Com aumento gradativo de ocupação nos leitos de unidades de terapia intensiva (UTIs) destinados à covid-19, o Brasil registra interrupção na melhora dos índices de casos de contágio, além de tendência de crescimento no número de mortes pela doença. Novo boletim do Observatório Covid-19, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), indica que a média diária de óbitos deve subir mais de 15%, partindo das cerca de 1,9 mil mortes da semana passada para 2,2 mil já na próxima semana.
— A nossa experiência com a pandemia é que, quando o número de casos aumenta, nas semanas seguintes pode acontecer um número maior de óbitos — diz o pesquisador da Fiocruz Daniel Villela.
A análise das taxas de ocupação de leitos de UTI Covid-19 feita pela Fiocruz separa os Estados em três zonas de alerta: baixo, intermediário e crítico. O Rio Grande do Sul ficou no limite do alerta intermediário, com 79%, e registra tendência de crescimento no número de vagas ocupadas. Porto Alegre está com 67% dos leitos preenchidos. Já o Paraná registra 96% dos leitos ocupados, enquanto Santa Catarina está com 95%. No Brasil, somente Amazonas e Acre estão em alerta baixo, que representa menos de 60% de ocupação.
Para o pesquisador, a chegada do inverno na região Sul pode piorar os casos de síndrome respiratória aguda grave, como a covid-19. E a temperatura baixa pode ser tanto um fator de dispersão, o que seria ideal para controlar os contágios, quanto de junção de pessoas:
— Existe a chance de as pessoas circularem menos, mas também existe a chance de as pessoas se aglomerarem em ambientes fechados. Isso é um fator que preocupa. Estar muito próximo uns dos outros em um ambiente sem ventilação não é uma receita muito boa — alerta.
Segundo Villela, seria importante que, neste momento de aumento do número de casos, os Estados que já apresentam uma piora nos índices hospitalares voltassem com as restrições, como proibição de atividades não essenciais.
Outra preocupação é o aumento proporcional das infecções em pessoas mais jovens. Com a vacinação de populações mais idosas, o tratamento para casos graves tem crescido entre grupos de idades inferiores. O estudo conclui que a maior exposição dessa faixa etária está associada a condições precárias de trabalho e transporte, além da retomada de atividades econômicas e de lazer em diversos Estados e municípios, com a flexibilização das restrições vigentes em março. A preocupação é que o contexto gere novas pressões sobre o sistema de saúde:
— Pela primeira vez, a média dos casos mais graves está abaixo dos 60 anos. O que significa isso? Antes, mais de 50% dos casos eram de idosos. Agora é o contrário. Mais de 50% dos casos estão abaixo dos 50 anos.
A saída, para o pesquisador, é só uma: mais pessoas imunizadas contra o coronavírus:
— Precisamos de ampla cobertura vacinal. E, mesmo tomando vacina, continuarmos com cuidados importantes, como máscara. Tudo continua valendo.